FILME DE UM CORAÇÃO (REFLEXÃO/ AMBIVALÊNCIA)

Tarde de outono, eu caminhando  nesta avenida. Vento frio, folhas caindo pelo chão, já coberto de tantas outras folhas! Estou carente! Cheia de dúvidas e de algumas certezas. Sinto que preciso tomar um café bem quente. É reconfortante! Paro em frente a uma cafeteria acolhedora; nela está tocando uma música muito marcante em minha vida. Me sento à mesinha, bem no cantinho, em frente à janela. Daqui posso continuar olhando, na rua, a dança das folhas embaladas pelo vento. Ritmos e direções diferentes! Penso que é como se fosse uma pequena amostra dos movimentos da própria vida. Fico refletindo sobre isso alguns momentos! De repente, sinto um nó na garganta. Engulo firme. Respiro fundo algumas vezes. Alívio! Assim, eu aprendi a desfazer crises de ansiedade! Os pensamentos, as lembranças, voltaram em minha mente. Cenas de infância intercaladas entre amor e dor! A presença de minha mãe, em certos momentos,  tão fragilizada e, em outros, tão forte! Surgem cenas de violências e agressões de um homem, presente como pai e tão ausente como marido. Acho que ele não foi tão culpado! Minha mãe enlouqueceu quando perdeu seu filho ainda pequeno. Não conseguiu superar a dor! Perdeu sua identidade de mulher. Naquele momento perdeu também o seu casamento feliz! Meu pai talvez não tenha sabido lidar com isso. Acho que ele estava preocupado com a sua própria dor. Foi aí que começaram as grandes brigas entre eles. Esse clima emocional dentro de casa me fez muito mal. Fui superando com terapias e muitos exercícios de respiração. Cresci, me formei e me tornei uma mulher “bonita e meiga” – canso de ouvir isso.  Mas, ansiedade ficou latente em mim; em momentos de grandes stresses, traiçoeiramente, ela me ataca!  Encontrei pelas minhas andanças, JOÃO, um homem cheio de charme e muito sedutor. Sabe o que quer da vida! Busca caminhos! Ele foi o que eu sonhava! Na minha fantasia era igual ao meu pai. Caminhamos juntos por longos anos. Uma paixão que queimava tanto quanto um sol intenso! Os dias passavam sem sentir o tempo. Foi assim por nove anos. Perdida nessas lembranças, de repente, sou interrompida pela garçonete trazendo o meu café , saindo fumaça! Resolvo e peço um pão de queijo crocante, que eles fazem aqui. Tomo um gole do meu delicioso café. Olho pela janela e percebo que começou a garoar. Sinto que a temperatura está esfriando! Tomo outro gole do café, pra me aquecer. Enrolo um cachecol no pescoço e volto às minhas memórias, como se elas fossem, neste momento, a única forma de preencher a minha carência. JOÃO! O que aconteceu com a gente?  Babaca!!! PORQUE ME ABANDONOU?!!! A garçonete novamente interrompe meus pensamentos. Com um lindo sorriso diz:- Seu pão de queijo chegou!!! Quer outro café?

DESABAFO DE UMA AMIGA! (TRAIÇÃO/ REJEIÇÃO)

Dia destes, recebi um telefonema de LAURA,  amiga antiga, muito amada. Estava desolada! O amor de sua vida, Carlos, foi embora. Ela o expulsou de casa. Flagrou o “mau caráter”, aos beijos, com  outra mulher. Não queria acreditar no que viu! Suas pernas bambearam, começou a suar frio, coração disparou… Era o dia do aniversário dele, o cafajeste! Aniversário dele. Laura disse, aos prantos, que tinha acordado alegre e excitada, com a festa surpresa que tinha preparado para ele.  Não queria que ele desconfiasse de nada. Como uma adolescente apaixonada,  sonhava que ele pudesse  sentir o tamanho do amor dela!  Fez seu  bolo preferido :- “abacaxi com ameixas” e brigadeiros gigantes, que ele tanto adorava. (Se lambuzava todo, como uma criança)! Pensou em tudo. Entrou em contato com os seus amigos de infância; todos aceitaram o convite. Estariam em sua casa às nove da noite! Sensível como é, Laura estava com uma certa angústia, apertando bem no meio  do peito. Desde que acordou. Alguma coisa não estava legal. Tinha um pressentimento ruim. Tentou não dar importância. Pensou “talvez fosse coisa da sua cabeça”! Desviou os pensamentos. Mas, a sensação continuou continuou estragando parte de sua alegria. Um medo desconhecido! Naquela manhã do aniversário,  no café da manhã, Laura percebeu uma certa distância no  olhar de Carlos, tentou beija-lo com o ardor de quem está apaixonada e recebeu um simples “selinho” de bom dia. Estranhou! Negou novamente a realidade. Não queria estragar a festa. Não queria ouvir o seu sexto sentido! Durante o café, trocaram algumas palavras sobre o tempo e o lindo dia ensolarado. Tomando o último gole de seu suco de laranja, Carlos disse que se daria um presente. Iria andar de moto, ao sol! Ele adorava fazer isso. Prometeu voltar para o almoço. Assim que ele saiu, Laura novamente sentiu o maldito pressentimento! Num ímpeto, rapidamente, decidiu segui-lo. Tomou muito cuidado para não ser vista. Nossa, quase morreu! Avassalador o que presenciou. Carlos, parou a moto numa praça a uns trinta quarteirões de sua casa. Lá estava uma mulher atraente, de longos cabelos loiros, blusa vermelha bem justa, marcando os seios fartos e de calça jeans. Depois de trocarem  beijos apaixonados, essa mulher subiu na garupa da moto e, juntos, voaram. Laura não sabe como sobreviveu! Por ter  um caráter íntegro, leal, nunca passou pela cabeça de Carla, traição. Sempre confiou nele. Por isso não admitiu os sinais. Naquela manhã fatídica, nem sabe como conseguiu voltar para casa. Arrasada, desesperada, quase bateu o carro. Mas, finalmente sentiu que precisava fechar o ciclo. Encarar a realidade. Não dava mais pra fugir. Expressar a dor! Assim que a porta se abriu, quando o ele voltou, na hora do almoço, Carlos, não reconheceu Laura. A imagem calma, educada e meiga costumeira, se transformou numa feroz e desconhecida leoa. Carlos se assustou muito. Ficou petrificado! Definitivamente, Laura estava enlouquecida. Ele tentou se defender dos profundos arranhões que recebeu na alma. Não deu jeito!  Entendeu que aquele ciclo tinha terminado para ele. Hoje, a menina meiga chora muito. Noites de terror. Mal dormidas. Fragilizada e insegura. Porém a  leoa,  não quer nem saber, rejeita-o e se possível o humilha. Sangue nos olhos! Carlos acordou tarde. Busca perdão, não quer perder o  amor de Laura!” Culpa devorando Carlos. Mágoa, destruindo Laura! POR ONDE ANDARÁ O AMOR FERIDO?