MEU OLHAR SEM ESPELHO! ( RECONSTRUÇÃO)

Hoje está sendo um dia especial em minha vida. Estou  numa conversa muito íntima comigo mesma. Um diálogo franco. Revelador! (Aproveitando o momento de um certo tipo de jejum, para desintoxicar o corpo e a alma)! Ficar por vinte e quatro horas à base de frutas e muita água. Nada de comer grãos, doces ou farinha branca. Como sou vegetariana e não como carne de espécie alguma, não é tão difícil! Está sendo o meu primeiro jejum. Pretendo fazer muitos outros. Olho no relógio, já está no meio da tarde! Estou começando a me sentir levemente atordoada. Não é ruim. Dá até um certo prazer perceber o corpo expressando, limites e sensações. Estou indo relaxar na rede que fica estendida  embaixo da laranjeira, aqui no meu quintal. É uma tarde morna de outono. Peguei um copo de água e vou colocar  num banquinho ao lado da árvore.  Colho uma laranja bem fresquinha, caso eu sinta fome! Finalmente, vou  para a rede. Ufa! Pronto. Que alívio deitar! Fecho os olhos. Dou início à viagem interna.  Aguardo um tempo, e vou entrando num estado de relaxamento profundo!  Quero acolher  sensações, memórias e pensamentos que emergirem. Mente relaxada… Estão chegando imagens e certas experiências emocionais que foram marcantes em minha vida. Nossa! Momentos engraçados. Até cômicos! Tantas brincadeiras! Saudades! Quantas pessoas que nunca mais vi.  Hoje são estranhas! Apenas lembranças de um passado. Tantas as emoções! Meus pais estão aqui também.  Aflora em minha mente tudo de bom que eu pude receber e viver com eles. Também o que não pude! O tanto que tive chances de retribuir à eles e ao universo, em forma de amor ou talvez raivas reprimidas. Chego a sentir culpa! Surge  na memória as muitas vezes em que fui ingrata com a vida… Quantas emoções conflitantes! Estou lembrando de você AMOR. Dos beijos e abraços escancarados de paixão! Sinto tão forte a força daquele amor. Deus!!! Não teve jeito!  Tive  que te deixar. Não me pergunte o porquê. São muitas as circunstâncias que a vida apresenta! Foi melhor assim. Acredite! Quero me convencer disso a todo momento. Há um monstro dentro de mim. Ele quer me corroer a Alma. Que droga! Sinto dor de cabeça. A barriga se mostra presente, com uma sensação de fome. Pego a laranja super fresca que guardei no banquinho ao lado da laranjeira. Delícia!  Nunca comi uma fruta tão gostosa! Acho que a fome está passando. Sinto o corpo leve. Só o bandido do coração não me deixa em paz! Está muito acelerado. Vou deixar a respiração cuidar  disso.  Inspiro! Seguro cinco segundos a inspiração. Expiro! Dou uma pausa rápida. Repito por nove vezes essa respiração. Esse exercício sempre melhora a minha ansiedade. Pronto! Estou mais calma; rever aquele amor?!? Só de pensar dá um arrepio na coluna!!!

AS MENINAS PELUDAS! ( AMOR INCONDICIONAL)

No último sábado, fiz um lauto jantar lá em casa, a base de deliciosas massas, regado a muito vinho (tequila, cerveja…).  Era o encontro anual com meus antigos amigos da universidade. A festa foi ao som de muita música – rock, samba, música pop! Momentos de jazz e até de tango! Muita risada e alegria. Para se ter uma ideia, o jantar começou às nove horas da noite e foi até às cinco da manhã. Uma doidice! Júlia, amiga de sempre, fez dupla comigo nas brincadeiras que inventamos  para agitar a noite. Criamos uma competição em pares. Cada dupla deveria  tomar uma taça de vinho, num gole só, acompanhada de um copo de água. Terminando, deveria cantar uma canção de amor! No final, se escolheria a canção que mais havia mexido com os sentimentos de todos. Teve muita palhaçada e risos. Até rolou algumas situações repentinas de choros. Lembranças de amigos que partiram! Alta madrugada, cada um foi se despedindo. Voltei a ficar só em minha sala de estar. Me senti um pouco estranha, enjoo, boca amarga e muito sono! Tomei um chá de camomila, bem quentinho, para ver se melhorava. Antes que o sono me pegasse de vez, fui até a varanda buscar as minhas “meninas peludas”. Nessa altura já estavam acordadas. Jasmim, Oure, Rubi, Jade e a dourada Safira, assim que me viram, perderam o controle de tanta alegria. Uma euforia imensa. Parecia que não me viam há anos! Corri para o sofá. O cansaço era tanto! Nem deu tempo de receber os carinhos das “meninas”. Caí em sono profundo. Só acordei no meio da tarde, com muita fome. Assim que abri os olhos, me deparei com cinco pares de “olhinhos” curiosos, interrogativos, fixos em mim. Mal me mexi, senti o peso gostoso do amor. Eram tantos os beijinhos, beijões, abraços e muitos pelos voando, para todos os lados! Depois dessa experiência emocional  gratificante, surgiu na memória queixas recentes de pessoas que se sentem sozinhas e infelizes. A resolução é tão simples! Repensei o que já sinto há muito tempo. Basta haver espaço no coração para se desejar o amor. Com certeza, ele irá fecundar. Dar e receber! Bases para a sobrevida  do amor! QUER TENTAR?

O SORRISO DE HELENA ! ( REJEIÇÃO/ ACOLHIMENTO)

Helena teve a desventura de nascer numa família desestruturada. Pai analfabeto e alcoólatra. Sua mãe, Maria, tinha sido uma mulher bonita antes de se entregar às drogas e más companhias. Transformou-se numa caricatura dela mesma.  Todos a chamavam de “A LOUCA”!  Suas atitudes  confirmavam esse triste apelido! Helena esteve muitas vezes morando com sua avó paterna, uma senhorinha simples, que fez o que pode pela menina. Sua avó adoeceu e Helena teve que voltar para a casa da mãe, que não se importava nem um pouco com ela. Quando Maria deu à luz à Helena, há nove anos , ela era uma pessoa melhor! Ficou feliz em ver aquele bebê lindo e saudável saindo de seu ventre! Loirinha de olhos verdes, pele rosada, parecia uma boneca de porcelana. Maria já tinha um outro filho, Felipe, dois anos mais velho que Helena. Felipe foi adotado por uma família rica, indo morar em outro país. Helena nem chegou a conhecer esse irmão. Assim que ela nasceu aconteceu essa adoção.  A história de Helena chegou como uma denúncia anônima de maus tratos e negligência. Como assistente social do estado, tive a missão de visitar  a “família de Helena”! Naquela tarde de primavera, ensolarada, quando cheguei na rua de sua casa, estacionei o carro na esquina e fui caminhando, procurando o endereço de Helena. Avistei umas meninas brincando, num canto de uma das calçadas daquele lugar pobre. Curiosa, me aproximei. Tentei avaliar a situação. O que vi cortou o coração!  Quatro meninas brincavam animadamente, e, num cantinho do muro, uma outra menina, isolada, sozinha,  aguardava ser chamada para brincar também! Seus olhinhos brilhavam de vontade. Percebi a rejeição dessas meninas em relação à linda loirinha rejeitada, sedenta de desejo de participar da brincadeira. Num momento, ouvi elas falarem entre si, que eram proibidas de brincar com a filha da louca.  Me aproximei da loirinha linda, perguntei o seu nome e, num sorriso que nunca havia visto mais lindo, me disse chamar-se “HELENA”.  Sentei-me ao seu lado e fui puxando conversa, tentando distrair o seu triste olhar.  Perguntei sobre ela, ficamos rapidamente amigas. Até cantamos juntas a mesma canção que as outras meninas estavam cantando.  Foi incrível como Helena ficou feliz! Depois de algum tempo, olhei no relógio e percebi que ainda não tinha feito a visita de inspeção de que me tinham incumbido. Fui me levantando pra me despedir. Helena pegou firme em minha mão e disse que queria ir comigo.  Compreendi, naquele momento, o quanto essa criança estava carente de amor e cuidado! Minha maior  surpresa se deu quando eu quis leva- la para sua casa e constatei que era o mesmo endereço em que eu tinha que fazer a visita de avaliação. Não deu outra! Me apaixonei por HELENA. Hoje ela é a minha filha amada. Cantamos juntas no jardim de nossa casa, embaixo da laranjeira! Até pardais tem vindo cantar com a gente!

AS IRMÃS! (REJEIÇÃO/INVEJA/PERDÃO)

Manuela nasceu quinze minutos antes que Gabriela: tão pequena diferença de tempo, tão grande diferença de personalidades. Nasceram de parto normal e rodeadas de muito amor. A mãe delas, Violeta, mulher sensível e muito afetiva, não cabia em si de tanta felicidade! Sentia-se como num conto de fadas. Tinha acabado de receber dos céus, dois lindos anjos saudáveis! Sempre narrava o fato de que, quando saiu do hospital fez questão de segurar as duas em seu colo, ao mesmo tempo. Tinha a preocupação de que nenhuma delas se sentisse rejeitada. Carlos, seu marido e pai das crianças, era “casca grossa” a seu ver, insensível. Grosseiro nos gestos e atitudes, demonstrando não ser o marido e nem o pai ideal, dessa família. Só se tornava um pouco mais macio, quando fazia sexo com Violeta. Ela já tinha se acostumado com essa situação! Os primeiros tempos, depois que as gêmeas nasceram, como é natural, foram muito difíceis para essa mãe de primeira viagem. Ela se perdia e se desgastava demais, tanto emocionalmente, quanto fisicamente.  Queria suprir tudo, principalmente para as meninas. “ESQUECEU DE SI PRÓPRIA”! Não se deu conta de seu tempo e nem de suas necessidades como mulher. Sabia que seu marido tinha casos com outras mulheres, mas, tentava não dar tanta importância. Disfarçava na frente das meninas. Chorava no travesseiro.  Noites de solidão! Essa situação durou a eternidade de longos doze anos! Nessa fase, as meninas,  pré adolescentes, já tinham se  contaminado por todo um clima familiar angustiante. Manuela, mais observadora, se tornou revoltada, rígida e extremamente ressentida. Gabriela, diferente da irmã, se construiu em uma pessoa mais serena, compreensiva e amorosa. Violeta não entendia o porque dessa diferença; afinal, ela se dedicou da mesma forma a seus “dois amores”. Próximo de completar treze anos de casamento, Carlos, pediu o divórcio! Foi um “DEUS NOS ACUDA”! A família se desestruturou de vez! Violeta estava acostumada com crises, mas nunca imaginou uma separação! Se desesperou! Tentou disfarçar e não deixar as meninas sofrerem. Gabriela, quando soube da separação, chorou muito! Ficou triste, mas entendeu que talvez fosse melhor para todos. Se afundou em leituras de livros emocionais. Buscou entender os sentimentos contraditórios que, muitas vezes, inundava a sua alma. Continuou seus estudos. Se apaixonou por psicologia e decidiu que seria psicóloga. Ainda na faculdade conheceu o amor de sua vida. Homem sensível, bem apessoado e de bom nível sócio- econômico, que a tratava como rainha. Escolheu um modelo oposto ao seu pai! Se tornou uma mulher equilibrada e feliz. Manuela, por sua vez, que sempre teve menos capacidade de se expressar emocionalmente, na época da separação de seus pais, não derramou uma lágrima sequer! Jamais quis tocar nesse assunto com ninguém. Nunca mais falou com o pai! Manuela se transformou numa moça agressiva, obesa, muito fechada e de mal com a vida. Compulsiva por doces, principalmente, chocolates! O tempo passou! Estava já com vinte e quatro anos e nunca tinha se apaixonado por ninguém. Violeta sofria muito em sentir a sua filha nesse estado lastimável e cada vez mais distante da irmã. Percebia a inveja crescente de Manuela em relação a Gabriela. Tentava ajudá-la, mas tudo em vão! Quanto mais o tempo passava, mais aumentava o desespero dessa mãe. Enquanto que para Gabriela o amor era o prato principal da vida, para Manuela, o alimento era o rancor e ressentimento, escondido em seu coração. Não buscou entender e nem perdoar o seu pai! Ficou com uma profunda sensação de abandono e rejeição, ao contrário de Gabriela que, há algum tempo, sempre que pode, almoça com ele. Tem até sentido que embaixo da “casca desse pai”, tem uma certa doçura! Violeta, não suportando mais perceber a auto-destruição de Manuela, há quatro meses, marcou uma consulta num psicoterapeuta bem indicado nessas questões! Conseguiu que Manuela aceitasse o tratamento. Há dois aspectos importantes que ela está cuidando dentro de si – “AUTO- PERDÃO E O PERDÃO”! Entender que movimento destruidor é esse que transformou sua primeira natureza, lhe negando a capacidade de amar e ser feliz! Violeta? Está começando a florir novamente!!!