Através da janela do meu estúdio, vejo as folhas da pitangueira, dançando sem censura. O vento do outono, morno e suave, soprando folhas pra lá, pra cá… Anunciando as mudanças da estação. Meus olhos se fixam nessa dança. Despertam sensações tão antigas, tão conhecidas, que se misturam com os meus conflitos atuais. Confusão de sentimentos acelera meus pensamentos. Meu coração, neste momento, está começando a disparar… Angústias, desejos querendo emergir. Sinto-me em desequilíbrio energético. Dificuldade de organizar os pensamentos. Nossa! Estou adoecida, impotente. Não quero pensar nisso agora! Queria apenas ficar na saudade da infância. Lá encontro um porto seguro. Olhar o meu antigo quintal. Conversar de novo com a minha pitangueira. Com ela vivi tantas histórias. Momentos únicos. Toda vez que eu ficava triste, corria para o quintal e sentava ao pé da minha árvore. Longas conversas… Eu contava a ela todas as minhas mágoas. Queixumes, caprichos que me atormentavam. Ela sempre me ouvia. Como uma boa amiga faz. Oferecia acolhimento, em sua sombra frondosa e doces pitangas. Temos muitos, muitos segredos guardados. Amiga eterna! Bastava abraçar o seu tronco pra eu me acalmar. Contato quente e energético. “Árvores sentem e falam”! Assim que me formei em paisagismo, fiz questão de construir um espaço de trabalho integrado à natureza. Ficou perfeito na casa onde cresci. Há nove anos, pitangas brincam em cima de meu computador e de minha mesa de trabalho. Elas sempre me inspiraram. Adoçavam o meu humor. Tento fazer esforço pra não cair na depressão que está querendo me invadir. Não estou bem. Faço esforço pra fugir da minha tristeza. Está difícil! Quando me transporto para o passado, meus pensamentos são interrompidos abruptamente pelos últimos acontecimentos, que drenam minha pouca energia. Tento me enganar. Abafo a angústia que teima em voltar. Necessidade enorme de superar essa dor bloqueada no peito. Estou me sentindo fragilizada. Ambivalente! Confusão de sentimentos! “Às vezes, conciliar emoção com razão, fica quase impossível”. Tenho que admitir que a ruptura daquele amor, dilacerou meu coração. Reconstruir uma vida, me parece impossível. “Esse é um exercício árduo e muito sutil”. Exige busca de equilíbrio entre a mente e o corpo. A taquicardia não está passando! Isso me assusta! O peito aperta. Sinto as pernas bambas, meu Deus! Não, não vou me entregar a uma síndrome do pânico. Tenho muito medo desse transtorno. Não quero pensar mais em nenhuma tristeza. A falta de ar aumenta. Pensamentos e sensações se guerreando. Tento desviar meu foco mental. Não vou me permitir sofrer desse jeito. Reagir é a minha saída. Vou cuidar de resgatar o que perdi. “Amores fortes não podem morrer!”. Entrego-me novamente às recordações. Emergem ondas de raivas e de carinhos. Começo a respirar com pausas, para me acalmar dessa angústia. Vou me livrar dessas sensações que estão me machucando tanto. Dirijo-me até a janela do estúdio, buscando ar mais fresco. Ufa! Acho que já estou melhorando. O vento continua a balançar o galhos de minha velha amiga. Não se dá conta da intensidade da minha dor! Retomo a respiração normal e a taquicardia melhora. Olho o sol me aquecendo. Ele se mistura com o vento. As folhas caindo pelo chão. Busco na pitangueira, como antigamente, aquele afago energético tão conhecido! Parece que ela está sorrindo para mim. Continua saudável e forte. Só está perdendo folhas fracas ou talvez antigas! Outras nascerão em seu lugar. Mudanças necessárias para um novo ciclo. Faço simultaneamente uma analogia com o que estou sentindo. Isso me dá um certo alívio! Com essa sensação forte, desvio meu olhar das folhas para o caule. Fico assustada pela invasão de formigas vorazes que ali estão. Isso me arrepia. Uma atitude se faz necessária! Conflito intenso se instala novamente. Essas formigas invadiram a árvore errada. A MINHA PITANGUEIRA NÃO!
Mês: fevereiro 2020
O SILÊNCIO DA DOR! (EMPATIA).
Há trinta anos sou uma profissional da área da saúde. Fiz essa escolha muito consciente. Sabia o que queria para minha vida. Meus pais não me apoiaram nessa escolha. Queriam que eu seguisse na área de exatas e me especializasse em finanças. Não se conformavam que, sendo filha única, não me interessasse pelos negócios da família. Meu pai tinha uma grande empresa de brinquedos, muito conceituada no meio empresarial. O grande sonho dele era me preparar para dar continuidade aos negócios. Sofri um bocado! Edson, meu pai, era articulado e rígido. Não se conformava com a minha decisão. Ficou uns tempos sem falar comigo. Confesso que, muitas vezes, pressionada, entrei em grandes conflitos. Cheguei a encostar na depressão. Reagi! No momento decisivo, decidi leal a mim mesma. Fui fazer psicologia. Sempre me intrigou os desajustes do comportamento humano, queria entender a natureza do desequilíbrio psicológicos e mentais. Porque tantas dores e sofrimentos? Tantos sentimentos contraditórios que levavam as pessoas a entrar num beco sem saída. Exatamente no lugar temido! Queria estudar muito e poder ajudar. Precisava disso para dar sentido a minha vida. Não hesitei em nenhum instante pelo caminho escolhido. Fui em frente. Me formei. Fiz especializações. Doutorado. Trabalhei duro! Pude compreender em meu trabalho que, existem dores tão intensas que chegam a anestesiar os sentidos. Despersonalizam. A pessoa se transforma numa caricatura dela mesma. Na maioria dos casos que acompanhei, pude me deparar com os reflexos dos danos que o desequilíbrio emocional acarreta na mente e muitas vezes no corpo também, em maior ou menor grau. Tanto em homens quanto em mulheres. Neste momento estou atendendo em minha clínica uma mulher de trinta e poucos anos. Há alguns meses, desolada, veio buscar ajuda. Expressando muito cansaço de viver. Muito abatida. Pálida. Triste. Nos olhos sem brilho, um grito de socorro. Derradeiro! Estava no limite de suas forças. Aquela figura frágil, descabelada e meio trêmula, voz baixa e rouca, me tocou profundamente. Me transportei por instantes, para o lugar emocional em que ela se encontrava. Sem identidade. Sem desejos. Sem vida. Apenas sobrevivendo do jeito que dava. Assim como um animal muito ferido. Abandonado no meio da rua. O pedido de socorro em seu olhar me sensibilizou. Senti que ainda havia chances! Aqueles olhos tristes, mostrou o caminho que deveríamos iniciar naquele momento. O meu acolhimento se fez vital. O choro chegou. Chegou forte. Assim como uma represa quando abre as comportas. Choro forte e revelador. Expressou mágoas profundas. Feridas mal cuidadas. Trouxe o recente amor perdido na esquina do destino. A inconformidade com a traição. Loucuras não assumidas. Auto- destruição e auto- sabotagem! Nos instantes em que me senti como no lugar dela, esmoreci energeticamente. Perdi as pernas, no entanto, rapidamente me recompus. Busquei contato com o meu lado saudável. Naquele momento consegui lhe oferecer um útero. Clara se entregou. Naquele momento, seu coração se aquietou. Dai em diante, um novo processo de vida. Gestação de sua nova identidade emocional. Nesses poucos meses de gestação, dá para perceber movimentos e sensações de renascimento. Noutro dia, numa sessão mais mobilizadora, Clara conseguiu se olhar no espelho. Olhou no fundo de seus olhos e num tom forte e incisivo gritou: Clara eu te amo! Ficou repetindo. Muitas vezes, até à exaustão. Acho que aquele confronto foi salutar. De lá para cá, Clara ficou mais leve. Organizada e feliz. Muitos planos e sonhos a caminho. “SOL ESTÁ NASCENDO”! (Corpo e mente, unidade funcional). REICH.
JARDIM DOS DEUSES! (AMORES VISCERAIS).
Amor verdadeiro transcende. Ele é sentido pela sua leveza e intensidade. Foi construído delicadamente, assim como a seda. Esses amores nunca morrem. Nasceram para a eternidade! São alimentos essenciais para a nossa essência. Devem ser cultivados com muito contato saudável e aceitação. Muito perdão. Amores verdadeiros, dependendo da situação, podem ter caras diferentes. Algumas vezes são macios, leves. Risonhos! Oxigenam a alma. Lindos de se ver. Dá vontade de prendê-los entre as mãos e nunca mais soltar. Têm aromas e contornos próprios. Nossa! Como são bons, os amores ternos! São como o sol, preenchem a vida de luz. Há situações em que esse mesmo amor pode ter uma cara carrancuda. Amarrada. Pesada. São aqueles momentos difíceis, em que se esbarram em obstáculos que impedem o livre fluir dos sentimentos. Muitas vezes o ser amado nos magoa ou nos causa conflitos intensos. Desestabiliza os nossos sentimentos. Na maioria das vezes por motivo banal, fútil. Muito comuns na convivência humana. Principalmente na intimidade das relações. Nesses momentos, podem surgir muitos questionamentos. Vontade de romper. Necessidades de mudanças. “Crises são importantes desestabilizadores para renovações ou resoluções”. Quando a base do amor é sólida, pode se fortalecer mais ainda. Faz brotar sorrisos mais genuínos! Pode também acontecer um processamento que estimule a “novos caminhos”! No amor conjugal, a crise tem uma cara diferente. Envolve a Paixão. É mais intensa. Sexualidade envolve sentimentos agressivos e egoístas. Muita posse. Geneticamente tem a sua explicação. A paixão é agridoce. Parece vampirismo: lambe e suga! “Delícia e tortura”. A paixão, por ter natureza idealizada, confunde os sentidos! Muitas vezes é confundida com o Amor. O caminho colorido da paixão, se não houver sintonias de almas, é tão envolvente quanto curto. Só sexo e química não estruturam e nem alimentam o amor. O impulso sexual, que nutre a paixão, funciona com muita ambivalência: força e fragilidade. Dura só o tempo que se sustenta nas nuvens! Para alcançar o “status” de Amor, tem uma estrada longa e, na maioria das vezes, tortuosa. Sair da fantasia é difícil mas é fundamental. Enfrentar a realidade da vida. Reconhecer, sentir e construir, com dados. A vida é cruel com a paixão. Desmancha sonhos e fantasias coloridas. O amor, nesse momento, pode sutilmente ser alimentado e desenvolvido nos detalhes. Imperceptíveis a olho nu. Muito vivos na sensibilidade. Pode ser um instante mágico. Junção dos sentimentos, sentidos e vísceras. O coração se vitaliza. Coração e sexo. Sexo e coração! Entrega. Volúpia! Amor integrado com a paixão. Naturalmente intenso. Paraquedas com arco-íris e terra firme esperando! JARDIM DOS DEUSES É PARA QUEM APRENDEU A AMAR!