AMORES DOENTES! (PREVENÇÃO).

Um casal, Marcos e Marisa, meus pacientes, está atravessando uma grande crise em seu relacionamento. Eram adolescentes quando se conheceram no colégio em que estudavam. Mesma idade. Sonhos profissionais opostos. Ele queria ser engenheiro. Ela psicóloga infantil. Muito diferentes em suas expectativas de vidas. Ela, extremamente emocional. Construía castelos encantados que decorava com os seus mais lindos sonhos. Era uma arquiteta de fantasias. Muitas vezes inverossímeis. Delicada e sensível, dona de uma meiguice tocante. Todos se sentiam bem perto dela. Sabia ser amiga e confidente. Empatia era o seu ponto marcante. Não suportava ver o sofrimento de quem quer que fosse. Especialmente crianças e animais. Possuía também um charme envolvente que servia como um instrumento para alcançar as suas metas. Nesse aspecto era bem fortalecida. No colégio, competia com outras meninas sem medo de perder. Paquera escolhida, paquera ganha. Possui um lado muito competitivo, encoberto por uma delicadeza intensa! A filha preferida de seu pai. Tinha duas irmãs mais novas que sentiam muito ciúmes e inveja dela. Isso na vida a tornou segura no contato com o sexo masculino. Por outro lado, ficou carente pela falta de contato afetuoso entre ela e as irmãs. Sua mãe, mulher simples e desconectada da realidade, nunca percebeu a disfarçada hostilidade entre as filhas, tampouco conseguia ser amiga delas. Era aquela mãe que fazia comidinha caseira e saborosa. Com um cheiro de ervas. Tempero inconfundível! Expressava seu amor dessa forma. Tinha dependência e uma certa obsessão pelo marido. Ela simplesmente o venerava. Ele, ao contrário, era articulado, racional e um tanto rígido. Só conseguia falar de amor quando rabiscava algumas poesias. Criativo e inteligente. Carente. Tinha uma atitude de responder as expectativas do outro. Em casa era um homem rude. Presente nas dificuldades que envolviam ação. Já, nas que envolviam o coração, não se podia contar com ele! Crítico demais. Menosprezava qualquer problema emocional. Achava que era “choradeira”. Profissionalmente se deu bem na área de construção civil. Sempre foi um bom provedor. Um conquistador disfarçado. Não podia ver mulher. Precisava ser admirado e valorizado por elas. Marisa tinha nele um ídolo. Nunca questionou qualquer aspecto  que pudesse denegrir a imagem do pai e nem o silêncio esquisito de sua mãe. Assim que cresceu, passou inconscientemente a procurar esse mesmo modelo de homem. No colégio, depois de alguns namoros, conheceu o “famoso” Marcos. Personalidade fascinante, segundo ela. Encontrou nele muitos traços de caráter semelhantes ao de seu pai. Marisa se apaixonou perdidamente. Naquela tarde iluminada de primavera, em que o conheceu, seu coração decidiu que se casaria com ele. Foi se enamorando cada vez mais pelo seu jeitão. Queria alguém que a completasse, assim como ele. Algo muito forte e mágico!  Ele por sua vez se encantou com a meiguice e calma de Marisa. Não se desgrudavam. Namoraram por um bom tempo. Quando tinham vinte e dois anos resolveram apostar no casamento. Antes mesmo de se formarem. O início foi difícil. Muito trabalho. Pouco dinheiro! A ambição cega de ganhar muito, prevaleceu a tudo. Ela, em sua clínica de ludoterapia. Ele, em fazer projetos arquitetônicos. Muitas alegrias. Frustrações e reconstruções. Estabilidade financeira chegou após sete anos de muito empenho. A sexualidade, que era como um fogo no início, praticada frequentemente, com muita pele e tesão, foi esfriando sem eles se darem conta. A relação emocional foi ficando em segundo plano. “Corroída pelo exagerado valor ao dinheiro e ao trabalho”.  Não sobrava tempo para a relação. Marisa cheia afazeres domésticos, além do profissional intenso, recheado de muitos congressos, dava constantemente uma desculpa qualquer, evitando intimidade na cama. Marcos, embora cansado, de vez em quando, fazia algumas tentativas. Sem o mesmo entusiasmo do começo. Parecia uma obrigação de macho! Até que foi rareando cada vez mais. Marisa não esquentava a cabeça. Achava normal. Atribuía ao cansaço, simplesmente. Só uma fase transitória! Mas, não foi bem assim. Numa noite, depois de sete anos de casamento, Marisa  recebeu a ligação de uma mulher dizendo ser a amante de Marcos. Foi o telefonema mais amargo de sua vida. Contou histórias de arrepiar sobre Marcos. Tantas traições e mentiras! Suas pernas bambearam. Começou a suar frio. Jogou-se no sofá da sala estarrecida. Não podia acreditar no que ouviu. Não sabia se explodia ou implodia. Tudo aquilo era patético. Fechou os olhos. Segurou o choro. Sentimentos confusos. Indignação profunda. Assim, arrasada, jogada no sofá, surgiu como num filme, imagens de uma cena vivida em sua meninice. Cena bloqueada em seu peito há tanto tempo. Surgiu forte e clareadora. Viu o desespero de sua mãe, abafando o choro, escondida num canto escuro da cozinha. Marisa tinha ido buscar um copo de água antes de dormir. Sua mãe, assim que a viu, tentou se recompor. Sempre escondeu todos os seus problemas emocionais. Nunca expressou questões de seu casamento. Naquela noite, assim que Marisa entrou na cozinha, enxugou as lágrimas no avental, tentando disfarçar e esboçando um sorriso qualquer. Para Marisa, aquela imagem da mãe, contida, como a de uma criança que foi punida e que não podia expressar a sua dor , ficou congelada em seu coração. Ouviu, naquela mesma noite, seu pai dizendo que iria embora na manhã seguinte. Que daria recursos financeiros à família. Essa memória emergida, reascendeu dores reprimidas em Marisa. Medo de abandono! Entrou em contato com um buraco em seu peito. Aquele acontecimento refletira muito em seu comportamento e escolhas diante da vida. Mesmo depois de adulta, nunca se dera conta da intensidade dos estragos sofridos. Nunca mais conseguiu  pensar nas sensações daquela noite. É como se ela tivesse apagado da mente toda aquela cena vivida. Desenvolveu uma defesa para não alterar a sagrada figura paterna. Não queria saber se ele fora promíscuo ou cruel.  Para ela, ele era o maior! Só que na noite da revelação de que Marcos tinha uma amante, quando sordidamente ouviu coisas obscenas a respeito de seu marido, frases  que nenhuma mulher equilibrada aguentaria ouvir sem enlouquecer, foi como tivesse descongelado um iceberg de dores reprimidas guardadas há tanto tempo. Emoções  recalcadas emergiram trazendo à tona medo de rejeição e abandono. Ali, ela pode como nunca entender sua mãe. Identificou-se na dor, não na fragilidade. Isso não, mesmo! Naquele momento, Marisa resolveu lutar pela sua felicidade. Não entregaria os pontos tão facilmente. Iria tentar resgatar o seu amor. Quando Marcos chegou em casa, o clima esquentou muito! Xingamentos, ataques, defesas! Crise! Conversas equilibradas. Pedido de perdão! Casamento muito doente… Início de depressão. O casal veio buscar ajuda. Queria tentar resgatar a chama perdida ao longo do tempo. Já estão reconhecendo que faltou cuidado. Relação é como uma plantinha. Tem que ser cuidada todos os dias. Casar todos os dias! Tirar ervas daninhas. Formigas que podem matar a planta. Carinho. Respeito e amor. Cuidar é prevenção em todos os aspectos da vida.  Remediar pode não curar. Como dizia minha mãe:- PREVENIR É O MELHOR REMÉDIO!

CUIDA DE MIM!( APELO/DESESPERO).

Estou perdendo você! Há uns dois meses, acordei com essa frase martelando em minha cabeça. Assustada, dei um pulo da cama. Esfreguei os olhos meio embaçados pelo sono intenso que ainda faltava ser dormido. Confusa. Tentei organizar os pensamentos. Estava um bocado difícil. Falta de conexão entre os pensamentos e  sentimentos. Taquicardia insistia em me assustar. Respiração meio asfixiante. Por um momento, pensei que estava morrendo. Coisa horrível! Num repente,  surgiu na mente, como uma luz, o valioso ensinamento de minha mãezinha, mulher sensível e natural. Muitas vezes sua sinceridade machucava, porém, quando o assunto era cuidar, ela era uma mestra. Eu aprendi a ser assim, também. Em minhas crises de ansiedade,  amorosamente, olhava em em meus olhos e segurando minhas mãos calorosamente,  falava:- “Filha, respira fundo. Lentamente. Inspira pelo nariz e solta o ar pela boca. Tudo vai passar”.  Isso me me acalmava absurdamente. Era um remédio, tão rápido. Não sei se respiração ou o seu doce olhar que me curava. Transmitia  segurança e calma. Sentia-me acolhida e protegida. Naquela noite, ao acordar sobressaltada, Imediatamente, comecei a fazer os  exercícios de  Inspirar e expirar, lentamente… Fui me acalmando. Grande alívio, sair daquela estado de morte! Começaram a emergir em minha mente  imagens e sensações do pesadelo devastador que eu tinha tido durante o sono e não estava lembrando. Concomitantemente, vieram as dores do  relacionamento doentio que estava vivendo com Eduardo. Parecia um raio X do que estava  acontecendo em meu coração. Todo o contexto do pesadelo refletia a realidade emocional corrosiva a que eu estava me submetendo. Tantas humilhações e desrespeito à minha pessoa! O pior é que eu estava conivente com tudo aquilo. O meu amor próprio, zerado! Eu tentando convencer Eduardo a não se separar de mim. Olha só que absurdo! A que ponto cheguei por aquele homem. Achava que ele era o grande amor de minha vida. Nunca me questionei se eu era o grande amor da vida dele. Aliás, hoje eu percebo que ele nunca sentiu amor por nenhuma mulher. Não tinha em seu currículo emocional nada que expressasse isso. Apenas, sonhei ser o seu primeiro amor. Que engano louco! Acho que o fato dele ter sido violentamente rejeitado pela sua mãe  marcou profundamente o seu relacionamento com outras mulheres. Rejeição de mãe é um caso sério! Li que isso pode justificar atitudes de desprezo e raiva em relação as outras mulheres. Dificuldade em se entregar ao amor. Fica menos ameaçador os envolvimentos mais rasos. A intimidade emocional com uma mulher pode ficar comprometida. Medos inconscientes acumulados de sofrer, misturado a  sentimentos de mágoa e rancor. “Dificuldade de entrega” ! Pesquisei na internet sobre esse assunto. Lá dizia que esse padrão de comportamento funciona como mecanismo de defesa para se proteger da dor. Resultado da rejeição sofrida. Compreender isso me deu um grande alívio. Consegui ampliar a consciência e diminuir a minha dor. Integrar o que eu sentia  com o que vivia naquela relação doente foi salutar. Enxerguei mais claro todo o meu casamento. Pude me perdoar por tantos danos que eu me permiti vivendo com aquele homem. Quantos ataques injustos eu suportei, entrelaçados ao um comportamento de  desespero de minha parte, tentando melhorar o clima entre a gente. Como eu estava insana! Queria cuidar dele como quem cuida de uma criança. Lembro que isso aumentava a sua fúria. Não conseguia receber carinho afetuoso. Para ele só o sexo é que funcionava como contato. Instantes depois ele retornava ao seu padrão ácido e crítico. Um verdadeiro iceberg. Eu sem entender toda essa desestrutura emocional, fiquei nos últimos seis meses de nosso relacionamento, tentando salvar esse casamento falido, por absoluta falta de condição psicológica de Eduardo. Sua estrutura de caráter não conseguia lidar com o meu amor. Muitos sentimentos mal resolvidos. Mágoas profundas não tratadas. Hoje, sinto que me perdoando, consigo perdoá-lo também. Ele foi vítima de uma mãe desprovida de sentimentos maternos. Não teve escolha. Eu tenho! Estava cega!  Hoje, já tenho condições psicológicas para mudar meus rumos. Edu não!  Ele só tem uma saída. Se submeter a um tratamento psicológico eficiente. Talvez assim, consiga entrar em contato com sensações e sentimentos genuínos que o transforme em um ser humano mais saudável. Daí, quem sabe, ele consiga sentir amor por uma mulher. Conhecer esse tipo de felicidade! Estou reconstruindo a minha autoimagem e minha sanidade emocional. Aquele meu pesadelo foi terapêutico. Depois da assustadora taquicardia que me acometeu, pude me reposicionar diante da vida. Acho  que foi Deus quem me fez passar por aquele momento transformador! Foi a forma “DELE” me ajudar. Eu estava  presa numa jaula sem chaves. Sem ter essa consciência, fragilizada, me debatia naquela jaula e me resignava.  Hoje sei que o amor deve ter luz!  Alimentar a alma. Nutrir e agregar. Minha sábia amiga Lenita já tinha me alertado que eu estava numa relação simbiótica e doentia. Cheguei até a brigar feio com ela. Mas, amiga, de verdade, não liga pra isso. No dia seguinte a nossa briga, ela fez o meu bolo de chocolate preferido. Foi pessoalmente entregar lá em casa. Chorei de alegria. Um bolo de chocolate pode fazer milagres! Depois disso ela foi viajar para o exterior. Um sonho que alimentava há anos. Semana passada, me ligou. Quando falei dos meus novos rumos de vida deu um grito de alegria, despertando em mim incríveis sensações de vida. Já estou com as passagens compradas. Irei ficar uns tempos com ela no Canadá. Se as coisas derem certo, talvez eu fique por lá. Não estou fugindo, não! Sou uma nova mulher. Coração cheio de sonhos. Andei castigando demais a minha “menina interna”. Estou respondendo ao seu pedido tão antigo:- CUIDA DE MIM!

MENINO OU MENINA? ( ESCOLHA EMOCIONAL).

Patrícia ficou grávida! Não cabia em si de tanta felicidade. Quase já havia perdido as esperanças. Tentou por um bom tempo e, agora, aos quarenta e quatro anos, finalmente recebeu a notícia que mais esperou na vida. Sua relação com João, seu marido, não estava bem; aliás, desde o casamento há cinco anos. Ele revelou-se  uma pessoa grosseira, sem sensibilidade suficiente para dividir a vida com uma mulher delicada e sensível como Patrícia. Ela queria muito mais. Alimentava alguma esperança na recuperação de seu casamento. Talvez o nascimento de um filho pudesse despertar em seu marido um jeito mais carinhoso de levar a relação. “Sentiam muita atração física, um pelo outro”. Na cama pegavam fogo! Mas, para uma relação estável e saudável, isso não é suficiente. Patrícia queria respeito, cumplicidade e companheirismo,  talvez, com a vinda do bebê, o casamento melhorasse. Patrícia, mulher sonhadora, dificuldades de lidar com a realidade,  grávida, “engavetou” os problemas da relação com o marido. Começou a focar só em sua gestação e em todas as sensações que uma mulher sente nesse período. Não não ousaria auto -sabotar esse momento tão único.  É como se voasse nas nuvens! Sonhava acordada. Ficava horas imaginando como seria o seu lar com um bebê, fazendo bagunças,  emanando energia por todos os cantos da casa. Patrícia, não revelava a ninguém sua preferência por menina, embora, se  menino, seria recebido com todo amor. João, ao contrário, em altos brados, dizia que só aceitaria um filho “macho”. Até por isso ela não quis saber o sexo do bebê antes de nascer.  Organizou um enxoval “arco- ires”. Muito colorido. Nada, só azul ou cor de rosa. O início da gravidez foi complicado. Muito enjoo, náuseas e  anemia. Sorte que ela tinha uma médica obstetra dedicada, a quem chamava de “Anjo da Guarda”. Cuidava dela com eficiência e muito carinho. A doutora Ana, além de ser ótima profissional, tinha uma capacidade de empatia muito grande. Isso  auxiliou muito o processo de gestação de Patrícia. Carente como era, teve muitos altos e baixos emocionais. Precisou de acolhimento e muitas orientações de sua médica. Essas variações emocionais, no caso de Patrícia, não teve só a ver com mudanças hormonais, próprias desse período, mas, também, pela atitude egocêntrica e egoísta de João. Não estava nem aí com ela. Seus defeitos de caráter se intensificaram durante a gravidez de Patrícia. No final da gravidez, João saia quase todas as noites com seus amigos de bar. Até altas horas na farra. Muitas vezes voltava embriagado, exigindo sexo com ela. Contrariando ordens médicas, por conta de um pequeno sangramento que havia acontecido, ela se negava. Patrícia jamais iria correr esse risco! Nunca cedeu. Daí, mais um motivo para discussões e clima pesado. Patrícia ficava, aflita e ansiosa. Chorava muito!  Numa dessas noitadas de João, já no final da gravidez, “rompeu a bolsa”. Patrícia correu  às pressas para a maternidade. Glória, sua grande amiga a acompanhou. Maria Angélica nasceu!  Parto normal. Robusta e encantadora. A cara do pai. “A vida é caprichosa!”. Só os olhos “sorridentes e rasgadinhos” pareciam com os da mãe. O  coração de Patrícia queria que ia explodir de tanta felicidade. Nem sentiu a ausência do safado, João! Naquele momento mágico, reconheceu sentimentos novos dentro de si. Percebeu o imenso amor que seu bebê despertou. Quanto isso era transformador. Bem ali, na maternidade, decidiu desfazer o casamento. Não iria mais se deixar torturar com humilhações e falta de respeito. Maria Angélica iria ter um lar feliz. Ela veio para construir amor! Isto aconteceu há uns dois anos. Feliz, Patrícia retomou o seu ofício de artesã. Dedicada e criativa voltou a dar aulas e  nutrir sonhos. Ensina e elabora artes.  Adora as gargalhadas de Maria Angélica. Brinca muito com sua princesa. Seu dom profissional se enquadra muito com sua delicadeza, sensibilidade e forma de sentir a vida.  Dia destes soube que ela Patrícia voltou a namorar. SIM! O SEU CORAÇÃO ESCOLHEU UMA MENINA!

O TIGRE FERIDO! (RESSENTIMENTO).

Aroldo foi uma criança super traquina. Adorava jogar futebol no campinho da esquina da rua onde morava. Atacante do time. Aliás, ótimo. Fanático por futebol! Se dependesse dele ficava jogando o dia inteiro. Detestava ir à escola.  Um castigo! Filho de  mãe enérgica e sensível, que, por ter muitos outros filhos, não conseguia exercer  autoridade e nem o seu carinho no tamanho que desejava. Simplesmente, não havia tempo para isso. Pensava apenas na sobrevivência. Aroldo, inteligente e criativo não teve seus dons naturais explorados o tanto quanto precisava, durante infância e adolescência. Com dezoito anos, sem orientação, nem estímulos, se envolveu  com más companhias. Nem passava pela cabeça construir algum projeto para o futuro. Na escola fez o mínimo necessário para ser aprovado. Imaturo,  dava sempre um jeitinho de satisfazer seus caprichos imediatos. Ganhava um dinheirinho aqui, outro ali, com  “bicos”. Assim o tempo passou. Já adulto, agia como adolescente. Mal formado, sobrevivia precariamente. Não cresceu.  Assim como  criança, só tinha o princípio do prazer imediato. Não esquentava a cabeça com nada que pudesse exigir bom senso, até porque ele não tinha. Não se desenvolveu em nenhuma área profissional para ocupar  espaço saudável no mercado de trabalho. Ajudava na feira, eventualmente, no mercado, na padaria, por ai…Em compensação, desenvolveu enorme charme e poder de sedução. Atraia mulheres de todos os níveis e  tipos. A malandragem da rua  transformou-o num rapaz muito esperto, encarando com valentia qualquer situação de briga. ” Bom de briga”. Essa qualidade  todos reconheciam nele. Motivo de seu orgulho. Reforçou sua identidade social. Conheceu na boemia, aos vinte e sete anos, Laura, o seu grande amor. Classe média alta. Ela, assim como Aroldo, adorava cair na gandaia. Morena bonita, gordinha, sensual. Profundos olhos negros e cabelos de, “noite sem luar”! Tinha um gingado só dela! Enfeitiçou o coração de Aroldo. Ele passou a depender dela em tudo. Até de seu dinheiro. Principalmente! Ela representava o ar que ele respirava. Laura tinha um perfil de caráter parecido com o de Aroldo, porém, teve a “sorte” de nascer numa família mais estruturada. Seus pais se preocuparam com  sua formação e  futuro. Laura formou-se em assistência social, curso que se encaixou bem com o seu perfil. Rápida ascensão! Carreira promissora. Tornou-se diretora de uma ONG que cuidava de crianças carentes. Isso ela levava a serio! Laura também se encantou pelo charme de Aroldo, assim que foram apresentados por uma amiga em comum. Ela, com autonomia financeira, nem ligou pela situação precária de Aroldo e nem pela sua discutível identidade. Apaixonou-se perdidamente pelo seu jeito carente e malandro. Nem pensou muito se iria dar certo ou não. Resolveram se casar. Contrariando a vontade de sua família. Combinaram entre eles, que ela bancaria por uns tempos as despesas do casal, até ele se encaixar profissionalmente, em qualquer coisa! Casamento realizado. Muita festa. Muitas expectativas. As noitadas cheia de danças e tesão, depois do casamento, foram muito curtidas por um bom tempo, mas, gradativamente, diminuindo, assim como a paixão avassaladora que Laura sentia. Alguma coisa dentro de seu coração já não fazia mais sua pele arrepiar quando seu Aroldo a abraçava. Passados quatro anos de tentativas e erros, Aroldo, nunca se acertando profissionalmente, Laura deu um basta ao relacionamento! Cansou de tantas desculpas e queixas que Aroldo arranjava para não se assumir como um homem adulto. “Cansou de alimentar vagabundo, dizia ela”! Problemas acumulados. Contas a pagar! Laura já não queria mais continuar a sustentar o ego inflado de seu marido, sempre colocando na má sorte, sua falta de realização na vida. Não reconhecia e nem admitia que estava acomodado.  Ao contrário de Laura, continuava apaixonadíssimo e dependente de Laura. Perdeu o chão. Enlouquecido com sua frieza,  não aceitava que ela  não o desejasse mais.  Entrou em desespero. Sentia que tinha perdido tudo. Como seria a sua vida, agora? Confusão emocional intensa, mágoas, angústias e muitos conflitos.  Durante esse processo, adoeceu, sem conseguir se reerguer. Laura, continuava, impiedosa. Irredutível. Numa tentativa final, buscando recuperar a “mulher de sua vida”, Aroldo  contratou uma serenata com músicas preferidas de Laura. Seria no dia do aniversário de casamento,  completariam quatro. Laura tinha esquecido completamente da data. A serenata tocou   para uma janela vazia! Naquela noite, Laura tinha saído com  João Ricardo. Seu novo amor.  PÉTALAS VERMELHAS. LÁGRIMAS DE SANGUE!

CONFINAMENTO HUMANO! (CONTATO E EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA)

A sociedade humana está recebendo um presente assustador, provavelmente,  advindo das atitudes do próprio ser humano. Estar em contato com a realidade é imprescindível para se trabalhar na prevenção, contra esse presente devastador! Hora de muita reflexão. Rever valores. Momento de exercer muita generosidade e compaixão. As famílias, por necessidade obrigatória, estão numa possibilidade única de se aprofundar em seus contatos afetivos e resgatar momentos roubados pela vida estressante a que a maioria das pessoas se submete hoje em dia. “O causador desse movimento de confinamento é um inimigo invisível!”. Essa reclusão pode causar um estranhamento no psiquismo. Mudanças de hábito alteram muito o nosso padrão mental. Assustam. Muitas vezes imobilizam o comportamento saudável e criativo tão importante para fugir do stress. Insegurança social e medo de morrer são razões suficientes para o afloramento de neuroses graves. Muitas famílias são formadas por indivíduos que se conhecem apenas superficialmente. Não existe intimidade entre eles, por absoluta falta de tempo. Muitos deles chegam em casa do trabalho no fim da noite. Não priorizaram a família nessa parte imprescindível  para a vida emocional. A qualidade da relação fica ancorada na superficialidade. Na verdade são estranhos entre si. Quando reclusos num mesmo ambiente, continuamente, por vinte e quatro horas, caem as máscaras. As neuroses podem se revelar intensamente. A intimidade forçada exponencia a irritabilidade e, daí, a impaciência. A preocupação com o que está acontecendo no mundo, neste momento, traz um elemento real, que alimenta o ciclo neurótico. O psicológico se desestrutura e pode acionar um quadro de ansiedade difuso. Lidar com toda essa gama de sentimentos tumultuados é muito difícil. E as pessoas que perderam um ente querido? É terrível. Doloroso demais. Luto se faz necessário! Ele processa e metaboliza dores. “CHORAR SALVA A ALMA”!  Morrer pode significar renascer, porém, a extrema despedida é muito dolorosa!  Aprender a lidar com as situações da vida e buscar nelas crescimento é um exercício de superação. A inteligencia emocional é um instrumento muito eficaz na estreita proximidade entre as pessoas  que estão confinadas num mesmo ambiente. Pode ser surpreendente.  Existe uma enorme chance de ampliar e enriquecer as percepções e qualidade dessas relações. Vai depender de uma certa organização mental e da “ação e reação – reação e ação”. Retirar a lupa que aumenta o negativo e buscar nutrir e ampliar o detalhe positivo. Isso sempre será possível! Conectar sentimentos que a correria da vida tenta substituir pelo dinheiro, trabalho e valores fúteis. Buscar o mel que nunca pôde ser provado. Contar e ouvir histórias do coração! Perceber como uma simples palavra pode ser transformadora. Como uma brincadeira pode ser um negócio muito sério e se transformar numa fortuna incalculável quando brincamos com os nossos pequenos e grandes amores. Existe uma criança interna no peito de cada um. Muitas vezes ela está enjaulada. Resgatá-la se torna vital. Ignorá-la é auto-sabotagem! A saúde mental e física depende dessa integração. Esse momento especialmente exige isso. “INOCENTES NÃO DEVEM SER PUNIDOS!”.

O PRAZER ESTÁ DOENTE! (MASOQUISMO).

Faço parte de um grupo de cinco  amigos dos tempos de universidade. Desde que nos formamos, há quatro anos, nos reunimos todo último sábado de cada mês. É sagrado! Na verdade só deixamos de nos ver, durante esse período, uma única vez.  Chovia torrencialmente!  Muito granizo e água, naquela noite. Não dava pra sair. Raios cruzando o céu,  faíscas violentas,  trovões barulhentos. Dava a impressão que o mundo ia acabar. Naquele sábado, resolvemos fazer o encontro por SKYPE.  Não foi tão divertido como de costume. Sem vinho, nem cerveja, não era a mesma coisa, mas, deu pra matar a saudade, de certa forma. “Bolamos um jeito”  diferente para a reunião do mês seguinte. Cada um dos integrantes escreveria  sobre um  ” Desejo oculto”, que seria exposto no  próximo encontro do grupo. (Talvez fosse legal falarmos de sentimentos pessoais e trocar experiências”. “Sem terapeuta para analisar)!  Aliás, temas emocionais sempre mexem nas pessoas. Esperei ansiosamente o próximo encontro. O dia chegou esperado, chegou lindo.. Ao contrário  do mês anterior. Sábado de sol. Noite estrelada. Lua  cheia, convidando encontro ao ar livre. Procurar algum barzinho animado. Foi o que fizemos. Lugar lindo. Todos empolgados. Cerveja gelada rolando.  Batidas de frutas variadas. Pizza. Brincadeiras. Exagero? Não fez bem! Pedro, o menos resistente para bebidas, quis falar de seu desejo oculto, vivenciado num sonho. Visivelmente alterado pelo álcool, começou a falar sobre preferências e qualidades na cama. Abriu sua intimidade. Expôs desejos com detalhes estranhos, preferências masoquistas, que lhe davam incrível prazer. Descreveu o  sonho mobilizador que tinha tido com  “Clara”, uma de nossas amigas da turma.( Ele sempre teve uma queda por ela). Clara, por sua vez,  não estava nem aí, com ele. Clara,  sorrindo, ouvia a narrativa, tentando ser simpática. ( O relato foi tomando proporções invasivas, causando certo desconforto na turma). Irremediavelmente gozador, Pedro, foi relatando  sexo obsceno, com cenas explícitas.  Revelou ao grupo, sem nenhum constrangimento, sua predileção em  apanhar e ser chicoteado, no momento da transa, e, que Clara, tinha correspondido plenamente aos seus desejos. Comentou que apanhar até sangrar aumentava ainda mais o seu prazer! Debochado, disse que no sonho, Clara presenteou-o com mais de vinte chibatadas. O relato foi ficando cansativo e pesado. “Caipirinha rolando solta”. A turma em coro gritando para ele parar.  Clara, estava se contendo para não explodir. “O que de início foi engraçado  se transformou em invasão a sua pessoa”. Raiva absurda, crescente!  De repente, ela não se conteve. Em alto e bom tom, disse:-Cala a boca seu babaca! Não admito ser  invadida desse jeito. Constrangimento geral. (Chamou-o de doente e desestruturado emocionalmente). Pedro, com expressão esquisita,  calado,  levantou-se. Foi embora.  Acabou a noite, para todos! Acabando de chegar em casa, o telefone tocou. Estranhou pelo horário. Duas e meia da manhã.  Quem seria? Do outro lado a voz inconfundível de Pedro. Sóbrio, pedia desculpas. Mil perdões! Disse que tinha  brincado e exagerado. A malvada pinga recebeu a culpa. Disse que não esperava aquela reação  da Clara. Nem do grupo. Não achava que tinha ofendido ninguém. Apenas contou um sonho divertido e normal.  “Sexo, dor e prazer!” Nesse instante, interrompi Pedro e dei razão a Clara. Aproveitei para falar de  minhas últimas leituras sobre masoquismo. Indiquei à ele. Comentei ser importante ele conhecer causas e efeitos desse tipo de preferencia, segundo a psicologia. Sobretudo indiquei o estudo de Reich sobre a couraça muscular do caráter e suas funções. Falei rapidamente, do  caráter masoquista na visão de Reicheana.  Pedro, ficou num longo silêncio. Apenas ouvindo! Respeitei. Finalizei, dizendo que Clara era muito delicada e genuína ao expressar emoções.  A forma que ele usara como abordagem sobre seu sonho, tinha sido muito invasora e agressiva. O inverso do que uma mulher romântica  e sensível espera de um homem estruturado. (Sentimentos saudáveis vêm de dentro para fora). Não precisam de chicotadas. “NASCEM NO CORAÇÃO”!