Nosso caso começou num encontro casual na biblioteca do centro universitário em que estudávamos. Foi um encontro de quatro pupilas. Cintilaram! inesquecível. Naquele dia eu estava muito preocupada em ler os textos de neurologia. Teria prova logo à noite. Tinha dificuldades com essa matéria e estava precisando de nota alta para conseguir ser aprovada. Sempre fui ansiosa. Nessas circunstâncias, eu simplesmente perdia todo e qualquer charme. Lembro que tinha cortado os meus longos cabelos; bem curtinhos. Ficaria mais prático, além de renovar a minha imagem. Fazia parte também de uma estratégia emocional. Queria me sentir diferente diante do espelho, já que eu não estava conseguindo mudar o meu interior. É hilário! Como se isso fosse me adiantar! Ainda bem que o corte combinou com o meu rosto. Precisava esquecer o meu ex-amor a qualquer custo. Aquela pessoa que me sugava viva. “Relacionamentos vampirescos devem ser deletados dos corações”. Estava fazendo medicina. Quando entrei na biblioteca, naquele dia, nem olhei para os lados. Fui direto pegar os livros e artigos que precisava estudar. Sentei-me numa mesa bem de canto. Estava vazia. Preferia ficar isolada. Entretida, lendo um artigo sobre os sistemas simpático e parassimpático, tentando entender como ambos funcionam no organismo humano, escuto alguém pedindo licença e sentando-se na cadeira bem em frente a minha. O som daquela voz interrompeu o meu raciocínio abruptamente. Não me deu tempo nem de esboçar uma palavra. Aquele par de olhos sorridentes, expressando uma simpatia fascinante bloqueou o meu raciocínio lógico. Não sei bem o que aconteceu em meu coração. Disparou! Parecia querer saltar pela boca. Senti um frio na barriga! Disfarcei. Meio sem jeito, sorri para ele. O ex-amor foi enterrado bem naquele encontro de olhares! Logo de cara ele se interessou pelo assunto do meu estudo. Disse que fazia medicina e adorava os temas que eu estava estudando. Estava em fim de curso. Iria começar residência no próximo ano. Tentou explicar as minhas dúvidas me obrigando a estimular o meu racional que tinha se desconectado com a sua presença. Senti uma sensação de felicidade incrível. Meus hormônios novamente, muito presentes, mostrando o quanto era maravilhoso estar viva. Nossas vidas mudaram daquele dia em diante. Muitos anos juntos. Vivíamos grudados em todos os momentos possíveis. Passeios. Viagens com a festa de uma” lua de mel”. Duas almas enamoradas cuidando dos corações das pessoas. Trabalhando muito. Os dois optamos ser cardiologistas. Um motivo a mais para sermos unidos profissionalmente. O tempo passou. Congressos constantes. Ganhamos prestígio e dinheiro suficiente para manter cursos e especializações. Também uma boa vida. Tudo era tão perfeito que parecia um sonho. Discutíamos casos de pacientes e muitas vezes trabalhávamos juntos. Tesão e amor nunca faltaram durante doze anos de união. Nesse tempo todo não pensamos em ter filhos. Estávamos parindo o nosso desenvolvimento profissional. Tudo muito preenchido. Tão perfeito. Parecia que não faltava nada. Foi no casamento de minha amiga Gabriela, em que fomos padrinhos, que surgiu o desejo de ter um filho. Ela estava grávida de seis meses. Uma barriguinha pronunciada e um brilho no olhar incrível. Esperava um garoto. Exalava uma felicidade que eu não conhecia. O noivo babando de alegria. Fiquei muito feliz por ela e estranhamente mexida. A festa foi até altas horas. Quando fomos embora, resolvemos dar uma andada na praia que era bem pertinho dali. Tiramos os sapatos. A gente queria sentir o contato da areia úmida embaixo dos pés. Enquanto caminhávamos, como duas crianças felizes, surgiu o assunto de termos um bebê. Alimentamos a conversa. O desejo foi crescendo tanto, que mal chegamos em casa, fomos direto fazer amor. Foi tão intenso! Diferente das outras vezes. Já havia uma criança em nossas fantasias. Uma expectativa nova para o futuro. “TER UM FILHO”! Sei que isso mudaria toda a nossa vida para sempre. Com perdas e ganhos. Mas só de imaginar a carinha, qualquer preocupação desaparecia. Daquele momento em diante começou a minha via sacra. Quase dois anos de tentativas e frustrações. Foi então que resolvemos fazer inseminação artificial. Até que enfim deu certo. Resultado: gêmeos! Muita alegria e sonhos. O início da gravidez foi complicado. Enjoo e ansiedade. Barriga aumentando rapidamente. Cansaço próprio do estado. Fantasias animadas intercalavam com um medo absurdo que a gestação não desse certo. Quando soube que estava com um leve descolamento de placenta, senti um verdadeiro pânico de perder os meus bebes. Repouso necessário. Barriga pesada. Dormir foi ficando cada vez mais difícil. Procurei fazer meditação como forma de alívio. Assim fui administrando toda a situação. No oitavo mês de gravidez, numa noite quente de verão, estourou a bolsa. Que susto! Ainda não estava na hora. Corremos para a maternidade. Entre risos e prantos chegaram – Rodrigo e Ana. Meu garoto nasceu forte e saudável, com uma fome de leão. Já a minha princesa, mal chorou. Fragilizada e com riscos sérios. O meu mundo desabou. Não podia ter minha filha em meus braços. Angústia aflitiva. A ansiedade voltou com tudo. Desenvolvi um núcleo compulsivo: medo de Ana morrer. Esse pensamento se transformou num padrão mental atormentador. Sentia-me impotente. Precisava cuidar do Rodrigo. Precisava de Ana! No meio desse caos emocional, tive um pesadelo, em que minha filha me pedia para salvá-la. Fiquei mais transtornada ainda. Nesse tormento, entre impotência e culpa, desesperada, resolvi que ficaria com a minha menina em tempo integral. Deixei Rodrigo bem cuidado, pelo pai e avó. Essa decisão foi transformadora. O pensamento obsessivo abriu espaço para um sentimento de doação total. Ficamos juntas diuturnamente por quinze dias. Lá, eu cantarolava sons de amor. Balbuciava palavras das entranhas. Constante contato físico e emocional. Adormecia conversando com ela. Numa certa manhã, enquanto eu acarinhava a sua pequena mão de porcelana, recebi um suave aperto em minha mão. Entendi isso como a expressão da sintonia entre nós. Chorei de felicidade. Naquele instante eu soube que iríamos brincar muito pela vida! Entendi, também, que a mensagem do pesadelo foi reveladora para o meu coração. A partir dali foi descongelando o padrão mental doentio em que eu estava ancorada, com medo de perder minha filha. Esse pesadelo fez com que eu tentasse encontrar dentro de mim atitudes novas que transformaram aquele padrão mental, de tanta angústia e culpa, que estava congelado em minha mente. Fez-me sair do desespero em que me encontrava. Nossa casa hoje é festa e bagunça. Cansaço e excesso de afetos é o que há mais por lá. Dentre todas as situações que vivenciei como cardiologista, Ana me ensinou o inusitado. O MELHOR DOS REMÉDIOS É O CONTATO DE AMOR!
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