Caminho pelas lembranças. Olhos fechados. Rede aconchegante. Jazz tocando. Som suave ressoa na sala vazia. Domingo de chuva. Garoa incessante molhando lá fora. Taça de vinho esperando, sem pressa, na mesinha ao lado da rede. Pensamentos livres de censura ou pudor. E são tantos! Brincam com os meus sentidos. Muitos deles tropeçam em meu coração que dispara como um touro louco correndo pela arena. Respiro fundo. Tento controlar o touro com respiração lente e pausada. Isso custa-me uns longos segundos doloridos. Finalmente retomo as rédeas e me permito continuar nessa experiência tão intensa. Ambivalente! Tons coloridos mesclados com preto e branco! Abro os olhos por um instante. Pego a taça e degusto um gole do vinho encorpado que está aguardando na mesinha ao lado. As papilas gustativas me inebriam os sentidos. Delícia! O sabor remonta a momentos de um passado recente. Estico-me na rede. Fecho os olhos novamente. Busco mentalmente dar continuidade às sensações que ainda ardem dentro de mim. Como num filme romântico emerge a cena daquela tarde chuvosa na cozinha do apartamento de Sérgio Luiz. Lindo. Sensual. Sabe seduzir aquele homem! Dono de uma conversa gostosa. Integra palavras com emoção. A gente não se cansa de ouvi-lo. Proprietário do renomado restaurante italiano “La Nina”, do bairro em que eu morava. Foi lá que o conheci. Nesse dia tinha pedido uma massa leve, com molho de manjericão. Chegou fumegante e com um aroma divino. Ele fez questão de trazer o prato à minha mesa. Seu olhar jogou estrelas em cima de mim. Mal olhei para o prato. Só tinha olhos para as estrelas! Jeito maroto e brincalhão. Sérgio Luiz me fisgou. Duas semanas depois já estávamos passeando de mãos dadas. Rindo à toa. Naquela tarde de quinta feira, chuvosa, caminhando perto de seu apartamento, a chuva apertou. Resolvemos subir e nos proteger. Enquanto me secava o Lindo, foi pra cozinha. Preparou o sanduíche mais gostoso que já comi. Tão simples. Tão completo. “Pão integral, queijo branco e alface”. Combinou tão bem! Sexo rolou maravilhoso. Clima emocional perfeito. Tarde encantada. Me assustei. Bateu insegurança! Muito medo do futuro. Não sustentei aquela paixão. Ali foi o fim. Sumi sem dar satisfação. Nunca mais o vi. Dificuldade enorme de entregar o coração. Pensei: Sofrer de novo? Não! Esse comportamento se repetia todas as vezes quando começava uma paixão. Pensei que seria diferente com Sergio Luiz. Novamente essa cena temida! Foi mais forte que o meu desejo de tentar ser feliz. Sumindo, me sentia resguardada. Protegida da dor. É como se eu fortalecesse o meu ego e não perdesse as rédeas. “Há um ciclo emocional recorrente que me impede de ser feliz”. Não dá mais! Não nasci assim! Lembrei que o meu Anjo da guarda, Carol, recente amiga, abriu meus olhos! Disse que estou com comportamento emocional doente. Se não cuidar disso, vou morrer sem amar. Apavorei-me. Não tinha me dado conta disso. Colocava a culpa nos homens que cruzavam o meu caminho. Carol acendeu uma luz transformadora. No vai e vem da rede. Na saudades que bateu. SERGIO LUIZ CAUSOU!