Janaína acordou naquela ensolarada manhã de primavera com muita disposição. Tinha planejado cada minuto daquela sexta feira especial. Feliz da vida. Vinte dias de férias. Delícia! Academia e uma boa caminhada pela praia, logo cedo. Suco de frutas naturais era o suficiente até a volta. Olhou o relógio. Saiu rapidamente. Não queria atrasar no horário. Orlando, seu companheiro, já tinha ido trabalhar. Proprietário de uma empresa de contabilidade. Era bem mais rígido e racional que Janaína. Ela trabalhava como terapeuta ocupacional com pessoas da terceira idade. “Tinha um carinho especial pelos velhinhos”. Com seus trinta e quatro anos, ainda não tinha filhos. Envolvia-se demais com o trabalho. Para ela, não tinha nem fim de semana. Se precisasse, estava disponível. Aquelas férias eram muito bem vindas. Precisava descansar. O cansaço maior vinha do stress que ultimamente estava passando em seu relacionamento com Orlando. Estavam juntos há sete anos. No início ele se mostrava gentil e equilibrado. Ela encantou-se! Orlando gostava de conversar. Inteligente e bem formado sabia discutir qualquer assunto. Simpático. Boa aparência. Antigamente, ela não sentia o tempo passar perto dele. Casou construindo castelos na areia. Sentia-se a mais feliz das mulheres. Infelizmente essa alegria durou pouco. Conforme a intimidade cresceu, foi surgindo um homem egoísta e centralizador. Queria controlar tudo. Em seu universo, só existia ele. Janaína assustou-se. Foi tentando contornar as situações com sua ternura. Era uma mulher extremamente sensível e terna. Na maioria das vezes conseguia a reconciliação rapidamente. Muitas vezes isso lhe custava uma grande perda energética. Mesmo assim achava que valia a pena. Queria continuar sustentando o sonho de ter filhos com o seu escolhido. Sua intelectualidade a fascinava. Ultimamente, porém, a situação estava ficando insustentável. Orlando não se contentava só em controlar tudo. Passou a ser verbalmente agressivo e extremamente crítico. Parecia outra pessoa. Rotulava Janaína com apelidos pejorativos, publicamente, ou no meio familiar. Ela reclamava. Brigava. Chorava. Logo depois, com sua meiguice costumeira, perdoava. “Nessas crises, Orlando compensava sua baixa auto estima”. Sentia-se poderoso submetendo Janaína a seus julgamentos ácidos e destrutivos. Tudo tinha que ser como ele achava. Há uns dois meses, no entanto, sofrendo outro ataque de fúria violento, por motivos banais, Janaína resolveu dar um basta nessa situação recorrente. Percebeu que estava se auto destruindo a cada vez que o perdoava. Resolveu mudar de atitude diante de Orlando. Diante da vida! Resgatar a sua auto estima. Não podia continuar admitindo tanta falta de respeito com ela. Estava se auto sabotando a cada vez que se submetia à neurose de Orlando. Acordou! Ele simplesmente, não tinha esse direito. Não admitiria mais que isso se repetisse. Resoluta, olho no olho, mandou o seu recado a ele: respeito! Cumplicidade. Lealdade e confiança. Seria assim ou tudo acabaria ali! Por isso, no primeiro dia de suas férias, naquela manhã de primavera, estava mais leve. Determinada. Quando voltasse da academia e de sua caminhada pela praia, iria acabar de arrumar as malas. Partiria no dia seguinte com uma amiga, rumo a um sonho muito antigo: “Conhecer as Ilhas Gregas e alguns países da Europa”. Vinte dias de sonho. Fecharam um pacote numa excursão marítima. Orlando quando soube ficou surpreso e furioso. Inconformado! Pensava: – Como sua “menina” teve a ousadia? Essa não podia ser Janaína. Controlou-se! Desta vez o jogo se inverteu. Ela soltou o verbo. Destravou a garganta. Ele ouviu tudo que estava preso no coração de Janaína. Ela deixou muito claro que daquele momento em diante não seria mais a sua vítima. Estava dando uma última chance ao casamento deles. Condição: novas bases na relação. Lealdade, confiança e muito respeito. Recasar! Orlando sentiu firmeza. Percebeu que era conversa séria! Amuado. Fez chantagem emocional. “Sua princesa tinha coragem de abandoná-lo”? Correr riscos numa viagem sem ele? Ela, irredutível em sua decisão. Última chance. Quem sabe ainda desse tempo de serem felizes! Porém, naquele momento, estava em lua de mel consigo mesma. Queria novas sensações de vida. Conviver com o seu melhor. Talvez na volta da viagem suas almas se convidassem para uma nova dança. QUEM SABE! Janaína partiu na manhã seguinte. Cheia de alegria de viver. BORBOLETEANDO!