Foi assim: Maria Rosa sonhava demais. Sonhos normais. Sonhos recorrentes. Sonhos pesadelos! Andava confusa em seus sentimentos e percepções. Sonhava acordada! Esta condição emocional estava desgastando muito sua energia. Totalmente fora da realidade. Alimentando-se só de ilusões fortuitas. Moça sensível e sonhadora, desenvolveu fantasias eróticas emocionais com uma pessoa que tinha conhecido virtualmente há mais ou menos dois anos. Esteve com ele uma única vez. O restante do tempo se comunicavam apenas e tão somente através de símbolos virtuais ou monossílabos. Um simples “oi” ou um “coração” enviado via zap já estimulava toda sua carência de mulher. Valia como uma declaração de amor! Subia nas nuvens. O quadro foi se agravando. “Dependência afetiva idealizada”, sonhos cada vez mais intrigantes, desafiando sua capacidade de elucidá-los. Conflitos constantes. Desgastes energéticos. Brigas entre realidade e fantasia. A fantasia sempre vencia. Depressão! Dependência emocional! Buscou ajuda terapêutica. Dois últimos sonhos trazidos. Primeiro: Local – Faculdade. Primeiro dia de aula. Maria Rosa senta-se no fundão da sala. Com ela um grupo de colegas conversando animadamente, trocando contato. Na primeira carteira, sozinho, Régis, sua paixão virtual platônica. Quieto e isolado dos demais! Organizado e focado somente no estudo. Todos os seus pertences postos perfeitamente sobre a carteira. Notava-se uma extrema organização. Em nenhum momento ele deu a entender que tinha percebido a presença de Maria Rosa. Ela, lá no fundão, de olho nele. Tagarelando com amigas pra disfarçar. Sempre de olho nele! De repente Régis se levanta e sai da sala. Deixa todos os pertences sobre a carteira. Maria Rosa, sorrateiramente, vai até lá e mexe em seus documentos e pertences. Verifica que há muito dinheiro na carteira deixada por ele. (Dado de realidade: Régis é um homem que só pensa em trabalhar. O trabalho é tudo pra ele! Fala pouco de si. Raramente conversa. Denotou um pequeníssimo interesse por Maria Rosa durante esse tempo em que se conheciam. Desprovido de emoção). No fim do sonho ele abandona a classe e vai embora sem olhar para trás. Ela, como uma gazela frágil, disfarça mais uma vez o seu sentimento platônico. Ninguém da turma percebe. Segundo sonho: Maria Rosa estava na casa da avó. Lá havia outras pessoas. Maria Rosa, estava na sala parada. Sua mãe, em pé, catatônica. Todos diziam que a mãe estava morta, mesmo estando em pé. Estava inerte. Somente Maria Rosa percebia um pequeno movimento nas mãos da mãe. Sabia que ela estava viva. ( Identificou esse aspecto como parte de sua própria identidade). As pessoas queriam enterrá-la. A ideia de enterrar a mãe viva causou pânico em Maria Rosa. Esses dois sonhos foram sequenciais. Estão interligados e intrincados num mesmo contexto emocional. PROCESSAMENTO: Deitada numa poltrona. Alongada e relaxada. Respirando calmamente. Olhos fechados. Maria Rosa começou uma caminhada interna através das cenas de seu PRIMEIRO SONHO. Saiu do concreto das cenas. Foi buscar, dentro de seu peito, o que representava Régis, sozinho e isolado na primeira carteira. (Dificuldades de contato e expressar emoções). Não sabia muito bem como cuidar de sua identidade (deixou seus documentos abandonados em cima da carteira e saiu da aula). Caminhada pelo SEGUNDO SONHO:- Casa da avó. A mãe catatônica. Maria Rosa percebeu um leve movimento em suas mãos. As demais pessoas diziam que estava morta e queriam enterrá-la. (Dificuldade de se comunicar e ser creditada/ de expressar suas emoções/de “tomar seu tempo”, sem ansiedade/Medo ao não encontrar saída numa situação social. Pânico por não conseguir valorização e reconhecimento). Conciliando todos os aspectos que puderam emergir desses dois sonhos, MARIA ROSA pode reconhecer em si, num plano mais íntimo, traços importantes de seu caráter que a impedem de fazer escolhas saudáveis e equilibradas. Sentiu que sua identidade biológica, tem uma defasagem com sua identidade social. (Sentir/organizar/expressar). Deu início ao processo de se auto conhecer mais profundamente. Buscar entender as ansiedades intensas e as inseguranças que a acometem em momentos decisivos. Percebe que Régis foi um instrumento importante. Um sinalizador! Podia até ser uma boa pessoa. Mas, definitivamente, não era o homem que queria. ” Foi um encontro de neuroses semelhantes!” Está em busca de sua integração no plano saudável da vida. DEFINITIVAMENTE ELE NÃO SERÁ O HOMEM ESCOLHIDO!
Mês: janeiro 2021
SENSAÇAO DE DESCARTÁVEL! (RECADO).
Estranho. Muito estranho o que estou sentindo. É como um divisor de águas. Tudo mudou dentro de mim. Nada do que eu queria faz mais sentido. É como se tivesse acordado no meio da escuridão. Perdi as referências. Pior que não tenho a menor ideia de onde buscar motivações para continuar. Por maiores que sejam as explicações do sucedido. Não faz mais sentido! Elas caem no vazio da alma. Não foi o fato em si. Foi a soma de toda uma vida! Foi a gota d’agua que faltava para transbordar no copo. “Você transbordou”! Nada será como antes. Ultrapassou todos os limites da falta de ética, respeito e consideração. Palavras são fracas diante de atitudes. Você ainda não percebeu isso? Tenho pena. Muita pena de você! Se perde em atitudes e gestos doentios achando que sou o remédio disponível sempre que precisar. Hoje eu me amo mais. Mudei a bula. Indicação:- EXCLUSIVO:- PESSOAS EQUILIBRADAS E FELIZES!
SONHO RECORRENTE! ( ANCORADA NA INFÂNCIA/ADOLESCÊNCIA).
Sabrina, vinte e nove anos, anda atormentada com um mesmo sonho há meses. Acorda angustiada e intrigada. Precisa entender que mensagens são essas de seu inconsciente. Sonho:- “Sabrina está num hotel de veraneio. Cinco estrelas. Lá tem tudo que gosta na vida. Comida boa. Diversão. Beleza natural. Luxo. Pessoas interessantes. Último dia de viagem. Está ansiosa e com dificuldade de arrumar as malas pra voltar. Suas irmãs já estão com malas fechadas. Tudo pronto, pra irem ao aeroporto pegar o avião de volta. Sabrina não consegue juntar todas as suas coisas. Está tudo esparramado pelo quarto. Tem peças e objetos que não consegue achar. Dificuldades pra fechar as malas. Muito ansiosa ao sentir o tempo passando e as irmãs pressionando que irão perder o avião. Ameaças de deixá-la lá. Sozinha! Ambivalência:- “Necessidade de voltar para casa/ Desejo de continuar no hotel. (Princípio do prazer/ princípio da realidade!) Dificuldade de postergar o prazer e encarar a realidade.”. Trabalhando esse sonho com Sabrina e ouvindo sua história de vida, foi ficando claro a dificuldade que ela sente de encarar a vida de frente. “A realidade tem cara feia”. Se enquadrar e ter atitude de adulto diante da vida para ela é assustador. Assim como uma criança, Carina persiste, ( muitas vezes inconsciente) em continuar no prazer. Sua história mostra que foi uma criança carente. Sanduiche entre duas irmãs. Sua mãe deu o máximo que pode. Tentou lhe dar o melhor. Não foi o suficiente. Seu pai, constantemente ausente em situações fundamentais. Sempre correndo atrás de negócios. Sabrina ficou com um buraco nas relações de afetos primordiais. Não recebeu uma carga suficiente pra se auto estruturar emocionalmente. Extremamente sensível. Reprimiu expressões de afeto e de contato afetivo. ” Ninguém dá o que não tem”! Desenvolveu atitudes inseguras. Inapropriadas diante da realidade. Sua expressão verbal ficou limitada e imatura. Na infância e adolescência foi vítima de bullying na escola. Dificilmente fazia amigos. Menina extremamente boa e honesta. Honesta até demais! Contida. Não percebia, muitas vezes, malícias próprias da idade”. Dificuldade de se inserir no social. Muitas vezes era descartada da turma por isso. Restavam apenas e tão somente suas duas irmãs, que nem sempre lhe acolhiam calorosamente. Tinham seus próprios interesses! O sonho recorrente teve início depois que iniciou um processo terapêutico na tentativa de resgatar sua auto- estima e se entender melhor. Está sendo um grande suporte para alavancar e fazer emergir conteúdos emocionais incrustrados em seu peito. Já consegue sentir sua menina interna chorosa e insegura, querendo se reabilitar ao momento de vida. Crescer e usufruir o que lhe é de direito. NÃO QUER MAIS SER LANTERNINHA DE NINGUEM!
CONTRATO FURADO! (AUTO-ENGANO).
Te conheci no meio de sonhos. Num furacão de emoções. Tudo tão perfeito. Mal dava pra acreditar. Me belisquei! Pisquei forte. Inspirei profundamente e percebi que estava viva. Senti a vida. Era real. Você existia. Continuamos a nos ver. Paixão desenfreada. Eu mais envolvida que nunca. Sabores dos mais variados temperos. Inebriantes sabores! Momentos de selar felicidade. Jardins de girassóis dilatando as pupilas de tanto tesão. Idealização! As nuvens eram o chão. Tempo. Tempo! Inimigo da paixão. Quanto mais passa. Passa tudo! Será? Sei lá! Só sei que assim foi. O avesso é doído. Doido! Coração reclama. Máscaras caem. Controle. Atitudes insanas. Violência psicológica. Críticas ácidas. Traição encoberta. Deflagrou o verdadeiro caráter. Traços psicopáticos. Tão encobertos! Retrato do mal. Destruição de identidade. Jardim seco! Sem luz dos girassóis. TRAUMAS DE UMA PAIXÃO.
SIMPLESMENTE TE AMO! (AMOR INCONDICIONAL).
Aquele cheirinho no cangote. Cheirinho doce como o mel. Inebria os sentidos! Se o meu humor estiver pesado, no mesmo instante, uma nuvem de energia vibrante invade o coração. Basta seus olhinhos brilhantes me seguirem que já sinto o caminho do paraíso. Meus movimentos peristálticos entram num movimento tão intenso mudando o roteiro dos mais absurdos sonhos. Sua boca de lábios róseos e energéticos traduz fome de vida. Pulsação vital fazendo entender como é belo viver. Toque. Contato. Sentidos! Coração sinalizando AMOR INCONDICIONAL!
EU NÃO QUERIA SER VOCÊ! (AVERSÃO).
Passos velozes. Determinados. Andava em passos largos pelas avenidas. Assim como uma louca. Não enxergava as pessoas que cruzavam comigo. Pareciam fantasmas. Apenas sombras que atrapalhavam o meu caminho. Sentimentos conflitantes, queimando o meu peito. Precisava urgentemente me livrar daquela angústia. Acelerava os passos. Cada vez mais rápidos. Tentava correr da dor. Ela teria que ficar para trás. Lágrimas presas embaçando meus olhos. Coração disparado. Boca seca. Língua grudada no céu da boca. Ainda assim eu não conseguia diminuir a caminhada louca. Minhas pernas denunciando cansaço. Começaram a tremer. Um certo vazio invadindo o peito. Desiquilíbrio energético. Senti minhas forças diminuindo. Parei de repente. Nem me dei conta que estava bem em frente ao “Parque dos Pássaros”. Protagonista de tantas histórias felizes. Até de tragédias. Foi ali em frente à Fonte dos Amores que Cristina apunhalou o seu amor. Coitada. Não suportou a dor da traição. Presa em flagrante. Não conseguiu usar o racional pra organizar o coração. Ficou cega. “Integrar amor e emoção é essencial”. Tenho certeza se tivesse pensado mais, não entraria em desatino.. Estragou sua vida por quem não a merecia. Burrice. Ouvi dizer que se arrependeu muito. Pesadelos todas as noites. Não dava mais pra voltar atrás. Essas lembranças tão fortes foram me transportando a outro canto da minha dor. Pensei:- Quanto sofrimento de graça! Parei. Sentei-me sobre o primeiro banco que avistei. Ainda molhado pela garoa que tinha acabado de cair. Minha calça jeans encharcou. Nem liguei. O frio do molhado na pele deu uma sensação de vida. Meu corpo foi conversando com as sensações no meio do caos emocional! Como a chuva tinha dado uma trégua, tirei o casaco. Nesse momento passou um sorveteiro:-Olha o sorvete caseiro! Pensei:- Porque não? Puxei uma nota da carteira molhada. Deliciei-me com o gostinho do morango. Fui ficando mais calma. Sensação infantil a cada lambida. Periquitos e sabiás cantando em coro entre os galhos das árvores. Parece que aqueles pássaros não queriam me ver triste. Nem sei porque quis acreditar nisso. Me fez bem. Num instante até duvidei de mim. “Meu Deus será que enlouqueci? Pensei logo-: Acho que não! Louco tem dificuldade de integrar razão com emoção. Não está sendo o meu caso. Resgatei um pouco do meu equilíbrio naquele momento. Sensação de paz foi brotando. De encantamento. De prazer! Eu, meu sorvete e os pássaros orquestrando seu sons mágicos. Foi terapêutico! Reconheci que o universo oferece presentes inesperados. Basta reconhece-los. De repente tudo pode mudar. O sofrimento desaparecer. Por instantes esqueci da dor. Alonguei um pouco o corpo, mesmo ainda sentada. Parecia que tinha saído de uma luta. Muito dolorido! Estiquei as pernas, braços. Movimentei o pescoço, levemente. Em círculos. Suavemente. Nesse momento meu coração se fez presente novamente. “Coração e pescoço”. Sensação ambivalente. Amor e orgulho brigando por lá. Entregue a essas sensações, distraída, tinha esquecido de tomar o sorvete .Derreteu por inteiro. Gotas de morango por todos os lados. Calça jeans, meus pés. Tudo melado. “Sempre tive aflição de melado na pele”. Felizmente essa neurose não estava lá. Não mexeu comigo. Meu coração sorrateiro insistia em trazer lembranças dolorosas de um passado recente. Elas foram se intensificando. Sensação ruim. Novamente disritmia. Respiração acelerada. Mãos geladas. Dor no peito. Medo de morrer. Sensação de morrer. De prisão! Insuportável. Precisava me livrar daquilo tudo. Angústia dói tanto! Num esforço, novamente, busquei olhar a realidade que me cercava. Precisava voltar à razão. O instinto de sobrevivência é forte. Parte minha imersa na dor. Outra parte me chamando pra vida. Voltei meu olhar para o copinho vazio. O sorvete não existia mais. O copinho vazio e minha mão melada pelo sorvete derretido. Num impulso infantil, comecei a lamber os dedos. Queria sentir de novo o gostinho do morango. Assim fiquei por alguns segundos. Quando levantei os olhos, uma menina de uns quatro anos de idade, tomava um sorvete também. Curiosa me observava. Expressava surpresa pela minha atitude. Generosa me ofereceu o seu sorvete.:- Quer? Esse seu gesto mobilizou sentimentos genuínos em mim. Sorrindo , agradeci. Recebi um lindo sorriso de volta. Ouvindo o chamado da mãe, jogou-me um beijo com a mãozinha. Saiu correndo. Aquele pequeno vestido amarelo com sorriso cristalino, como num milagre, resgatou em mim sonhos escondidos pela vida. Foi tão intenso! Percebi naquele momento uma radiografia da felicidade que eu buscava. Quantos resgastes eu devia ao meu coração. A gente se engana muito nesta vida. “Quantas cebolas com casca lisa, bonita. Por dentro toda podre”. Não se aproveita nada. Muitas vezes nos enganamos assim com pessoas. Eu me enganei! “As aparências enganam. A saúde vem de dentro para fora. Atitudes expressam a saúde mental e o equilíbrio. Bonitinhos e ordinários é o que mais se tem por ai! Recado -: Hoje vou me escolher. Eu não quero você. Não preciso mais de você. “EU NÃO QUERIA SER VOCÊ”!
NÃO SEREI SUA VÍTIMA! (NEUROSE).
Dalton acordou no último dia do ano disposto a infernizar a vida de Adriana, mais uma vez. Insuportável. Sem respeito. Ingrato. Coitada! Desta vez ele se deu mal. Adriana estava decidida. Não iria mais se dar a esse papel. Pensou:- Tem que ser “Santa”! Manter a paz e ser feliz com esse homem é impossível! Revoltou-se naquela manhã. Estava persuadida de que ele não a merecia. Nem quis mais lembrar que ele era vítima de sua própria história. Essa ideia sempre surgia para amenizar os efeitos colaterais das atitudes insanas dele. Sempre o desculpava. Tentava pensar sobre os poucos pontos positivos do caráter dele. Mas, já estava desanimada. Ele reincidia sempre. Seria uma boa pessoa, não fosse o corrosivo conteúdo emocional. Muita repressão sofrida na infância transformou-o num ser individualista e ácido. Seus valores tinham que ser sempre os melhores! Queria ser a boa referência em tudo. Quando Adriana se apaixonou não tinha a menor ideia do que a esperava na convivência com ele. Menina sensível, capaz de conversar com plantas e Anjos. Quis o destino que ela caísse nessa armadilha neurótica que Dalton representava. Desiquilibrava até um santo! Adriana já tinha puxado o gatilho. Apaixonada ainda! Mágoas acumuladas com paixão adoecem a alma. Seu lado racional avaliou todos as angústias vindas da relação. A realidade ficou mais forte do que as fantasias construídas. Assim que foi percebendo o profundo desajuste emocional em que estava metida, ficou mais atenta às circunstâncias. Foi dando um tempo. Adriana era assim: – pele clara, textura de marfim, olhos negros e risonhos. Dentes incrivelmente brancos e fortes. Emanava uma energia contagiante. Alegria de viver! Foi criada sem grandes repressões. Um dos únicos problemas sérios de sua infância foi a dificuldade financeira enfrentada junto à família. Conseguiu driblar bem essa questão. Aprendeu a não ser consumista. Gostava da simplicidade da vida. “Vinha de uma família simples porém com ótimo contato afetivo.” Sua ambição era aprender coisas novas e tudo que se relacionasse ao desenvolvimento humano. Estudou em escola pública de boa qualidade. Isso a ajudou a desenvolver seus melhores aspectos intelectuais. Escolheu “pediatria”. Conseguiu entrar na universidade. Formou-se com boa qualificação. Foi num de seus estágios que conheceu o “doutor Dalton”, diretor de um renomado hospital de sua cidade. Dirigia todo o setor de obstetrícia. Ele ficou fascinado por Adriana. Começaram a namorar assim que os olhares se cruzaram. Tinham em comum muito amor pelas crianças. Por isso a escolha profissional. Adriana, como toda mulher sensível, maternal, sonhava ter muitos filhos num futuro próximo. No início da relação com Dalton, tudo foi encantamento. “A intimidade aumentando, o pacote neurótico se abrindo”. Embora Dalton tentasse, não conseguia conter suas destrutivas reações emocionais. De repente, do nada surgiam discussões pesadas. Intensos conflitos emocionais. Atitudes verbalmente agressivas. Quando ingeria álcool essas reações ficavam num grau insustentável. Era do tipo que não suportava uma opinião contrária à sua. Esquecia o significado de respeito e de limite. Discordar dele era briga certa. Azedava o dia. Depois se fechava numa atitude fria e distante. Podia durar dias sem conversa ou contato. Como se quisesse se auto afirmar destruindo Adriana. Nunca pedia desculpas. Era Adriana quem buscava a reconciliação. Esse comportamento repetitivo foi destruindo os sonhos. No nono mês de convivência, Adriana acordou. Embora ainda apaixonada, seu lado saudável gritou mais alto. Ficou imaginando como seria o futuro ao lado de um homem com as atitudes dele. Quantos desgastes energéticos. Tinha aprendido com seus pais que ninguém é feliz quando não há respeito. Quem não se respeita não tem boa auto estima. “Quem se respeita é respeitado”! Dalton não a respeitava. Sufocava a sua identidade. Criticava acidamente os gostos musicais ou preferências alimentares dela. Se em nove meses já se comportava assim, como seria lá na frente? A identidade sensível e forte de Adriana lhe respondeu sem titubear:- Sai dessa enquanto é tempo! Melhor sofrer agora do que pagar pelo preço de uma má escolha, pelo resto da vida. Estava decidida que não viveria de aparências. O mal resolvido Doutor não iria transformá-la num fantoche, sem identidade. Não, isso não! Mesmo assim, naquela manhã do último dia do ano, Adriana tinha acordado leve. Com muita energia. Resolveu fazer uma surpresa para Dalton. Cantarolando, foi preparar para eles um desjejum caprichado. Otimista como era, decidiu dar o seu melhor, apesar da certeza de que nunca mais toleraria alguma atitude neurótica de Dalton com ela. Iria tentar um começo de ano novo saudável. Dalton ainda dormia. Frutas, cereais, queijo e pãezinhos torrados. Café bem curto. Como ele preferia. Ao contrário dela, que adorava cafezinho bem fraco. Preferiu agradar o seu amor! No rádio tocava um samba que Adriana amava. Teve o cuidado de fechar a porta para não acordar Dalton. Começou a cantarolar, distraidamente. Animada, aumentou um pouco o som. De repente, Dalton furioso, abriu a porta da cozinha. Descontrolado. Sem a mínima empatia. Xingando alto, desligou o som. Ele não tolerava samba. “Que merda de música! Que gosto horrível!”. Grosseiro e insensível. “Última gota d’agua no copo”. Foi como um balde de água fria. O café esfriou. A festa acabou. ALI COMEÇOU UM NOVO CICLO DE ADRIANA!