MINHA RELAÇÃO COM O TEMPO! (SABOR AGRIDOCE).

Quem entende de sabores pode entender sobre o tempo. Ele, mais que tudo, oferece uma diversidade incrível deles. Sentada numa poltrona branca e macia, na sala de estar, em frente à lareira acesa, deliciosamente aconchegante, comecei a pensar na vida. Tantas histórias que nos deixam doces saudades. Outras nem tanto. Fugimos de seu amargor. Ouço ao fundo Mozart. Esse som me remonta a sensações muito ambivalentes. Me entrego. Viajo nesse tempo. De repente estou com quatro anos de idade. Deitada, com a cabeça no colo da minha mãe. Como se fosse agora, ouço meu pai tocar  piano. Mozart! Adorava ouvi-lo. Sensação de felicidade. “Meu pai e seu piano”. Sala com ampla varanda. Iluminada pelo sol daquela tarde de primavera. Roseiras floridas. Coloridas! Vermelhas. Brancas e amarelas. Muitas margaridas pelo jardim. Tinha até amores perfeitos. Tão perfeitos! Como o amor fortalece… Sou gigante nesse momento. Fonte de afeto é imprescindível ao coração! Distraída nas lembranças e sensações, de repente levo um susto. Meu gato angorá branco, pula para o meu colo. Abruptamente. Imediatamente retorno ao momento presente. Nem deu tempo de me despedir daquela energia tão boa. Daquela saudade tremenda. Abandonei meus pais e o som do piano, por causa do Nino. Meu lindo gato angorá. Senti uma raiva repentina, mas passageira. Pensei:- Poxa. logo agora, Nino? Devia ser mais criativo e ter ido brincar com  borboletas no jardim. Quem sabe tirar uma soneca na caminha nova que ganhou. Mas não tem jeito, Nino é mesmo assim. Eu o amo de qualquer forma. Sua presença sempre me alegra. É dele esse comportamento. Não consegue me ver quietinha. Acho que tem medo de me perder. Amor é assim mesmo! Ele é ciumento. Me quer inteira. Só pra ele. Vê se pode? Ele não me divide nem com meus amigos. Fica irritado, arisco. Eriça os  lindos pelos longos. Parece mais um ouriço. Um lindo ouriço branco. Tão matreiro! Nem consigo dar bronca nele quando faz  suas artes. Adora comer rosas do jardim. Gato vegetariano, esse meu! Não gosta de carne. Come alface, tomate e banana. É um banquete pra ele. Quando quer algo mia muito alto. Parece até um choro. Não um miado. Olhando esse meu filho felino, entregue em meu colo, deslizo os dedos entre seus pelos macios. Sinto uma energia revigorante circular em mim. Seus olhos azuis insistem em olhar em meus olhos.  Transmitem contato de afeto e carinho. Assim como uma criança. Me perco naquele azul. O vento que vem da varanda traz, com ele, um aroma incrível de café, vindo da cozinha. Começa a se espalhar pela sala inteira. Só de imaginar o delicioso sabor, dá água na boca! A campainha tocou. QUEM SERÁ? SÃO TANTOS OS SABORES!

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