Como nas fantasias, ela é linda. Pele de porcelana. Sorriso aberto e franco. Luz intensa no olhar. Altivez na postura, voz doce. Suave e meiga. Quando precisa, sabe ser incisiva e firme. Sua presença traz a energia da paz. Quando pequena, muito traquina. Haja traquinagem! Subia nas árvores com a agilidade dos macaquinhos. Um tanto silenciosa. O seu mundo devia ser muito encantado! Sempre brincando sozinha. Cresceu com sua beleza. “Bela e sensível”! Transformou-se numa linda mulher-menina. Expressão infantil, delicada e carente. A vida lhe trouxe amarguras! Por ignorância ou egoísmo, seus pais, sua família , não souberam lidar com a imensa sensibilidade daquela criança. Ela não recebeu o quinhão justo de afeto e atenção que merecia. Não souberam entender a criança calada que gostava de ficar isolada em seu mundinho fantasioso. Todos os sentimentos que não foram expressos e ficaram blindados em seu peito. A linda Cinderela sofreu sem acolhimento. Sem ter se sentido vista. Amarguras acumuladas ao longo da infância e adolescência. Essa mulher menina, ainda com olhos brilhantes, buscou terapia para entender melhor o seu coração. Tem um sonho recorrente que está tirando o seu sono há mais de um dois meses:- SONHO – Está deitada na calçada, na esquina da casa em que morava na adolescência. “Casa assobradada, confortável, ampla. Morou lá durante a meninice até vinte e poucos anos “. Exposta na rua, não estava constrangida em ser criticada ou vista. Sentia-se bem. Libertada. Leve. Em outros sonhos, também recorrentes, ela estava sempre dentro da mesma casa, com suas irmãs e pais. Queria sair e não conseguia. Acordava sempre sufocada. Ao contrário, neste último sonho, a sensação de liberdade por não se importar em estar fora da casa e não se preocupar com expectativas dos outros em relação a ela mexeu em seu interno. Ficou ambivalente em alguns aspectos; no entanto, a força energética de sentir-se feliz em manter-se no lugar que ela própria escolhera foi salvadora. Não se importar com crítica e rejeição foi como sair de uma prisão de segurança máxima. “Não quer continuar a ser refém de sua história”! O fato de sentir-se fora da casa, com tantos registros traumáticos, responsáveis pela sua contenção emocional, foi sentido como um auto resgate da alma. De lá para cá, muitas coisas estão mudando em sua vida. Cinderela finalmente já pode chorar. Rir. gritar. Está deixando para trás a menina contida. Já consegue entrar e sair da casa quando bem entende. TEM SUAS PROPRIAS CHAVES!