” NAS GARRAS DA SAUDADE”! (SENSAÇÕES MEDIATAS).

Vão passando os anos. Tanto tempo já se passou. Ainda não o esqueci. Parece que foi ontem que o vi pela última vez. Seus olhos emanavam uma energia intrigante. Brilho intenso, devorador. Nunca antes acontecido! Acho que não estava preparada. Só o via como um grande ombro amigo. Aquilo me assustou. Seus lábios não disseram nada do que eu esperava ouvir. Já o olhar maroto delatou seu coração! Pra mim, éramos como dois amigos, alma gêmeas. Confidentes. Cúmplices em muitas situações. Felipe preenchia lacunas de um casamento “AGRIDOCE”! Augusto, meu marido nunca teve ciúmes de Felipe. Tinha um certo desprezo pelo seu jeito simples e natural de ser. Muitas vezes eu estranhava a paciência infinita que Felipe tinha comigo. Ouvia por horas meus queixumes. Sempre me entendendo. Incondicionalmente. Nunca, nunca mesmo, me julgava. Apenas ouvia meus conflitos, enquanto passava as mãos entre os meus cabelos. Um gesto de carinho que só  ele sabia ter. As conversas geralmente aconteciam em fins de tarde no café da esquina da avenida Junqueira. Bem pertinho da igreja matriz do centro da cidade. Viraram hábito esses encontros. No mínimo duas vezes por semana. Ele me fazia tão bem! Tão delicado. Depois de muitas conversas eu voltava pra casa leve. Animada da vida. Felipe despertava o melhor em mim! Não sei bem porque nossas conversas aumentavam o tesão que eu sentia por Augusto, meu companheiro. Após meus desabafos acompanhados com café e pão de queijo quentinho, chegando em casa me sentia incrivelmente energizada. Colocava um jazz. Enfrentava o fogão. Preparava pratinhos apetitosos para o jantar, tentando investir num clima emocional bom. Normalmente regados a bom vinho. Depois. Ah, depois… Amor enlouquecido! Nem sentíamos o tempo passar. Muito tesão. Sensação de vida. Tudo parecia perfeito. Esse era o ponto alto da nossa relação. “Só sexo não sustenta uma relação saudável”! Essa energia prazerosa durava até a próxima briga. (Briga constante corrói  relação). Augusto me sufocava. Ciúmes doentios. “Sempre tive alma livre”. Não sou mulher para ficar enjaulada. Preciso respirar! As recorrentes brigas e o seu controle, minavam minha energia. O conforto era sempre o meu amigo Felipe. Alto astral. Bom papo. Disponível. Em nossas tardes ele alimentava minha alegria de viver. Parecia um terapeuta. Ele sempre me falava porque eu insistia  num casamento desiquilibrado. Muitas vezes questionei o que me prendia ao Augusto além de sexo. Não havia paz. Nem confiança. De ambos os lados. Recebia respostas absurdas de meu coração. Sentia que estava enfeitiçada ou muito insana mesmo! Um dia, cansada dessa insalubridade, resolvi ter atitude. Mudar rumos. Matriculei-me em sociologia numa renomada universidade em São Paulo. Voltaria quinzenalmente para casa. Ares novos! Última chance  à um casamento falido. Achei que essa trégua traria reflexões e mudanças. Seria um exercício que poderia fortalecer ou desfazer a minha relação de vez. Comuniquei a Augusto minha decisão. Entendeu a mensagem! Teve que aceitar. Ele iria nos fins de semana em que eu não viesse. Pra quem morava a cento e oitenta quilômetros de distância era uma aventura e tanto! Focar mais em mim. Conhecer pessoas. Recomeçar com qualidade os  estudos e a vida. Reforçar a minha identidade de mulher. Naquela última sexta feira de janeiro, no usual encontro com Felipe, comuniquei a minha decisão. Ele ficou estranhamente esquisito. Até fiquei constrangida. Um grande amigo não deveria reagir assim! Seu silêncio me incomodou. Não fosse o brilho estranho de seu olhar acho que teria virado as costas e ido embora. Senti algo novo e mobilizador mas preferi fugir. Não podia naquele momento.  Fugimos daquele brilho traidor. Neguei! Negamos. Nem quis questionar. Estava de malas prontas. A partir dai nossas conversas foram se escasseando. Cessaram! Fui embora. Por lá fiquei os últimos quatro longos anos. Voltei mudada. Determinada. Poderosa. Sabendo que queria ser feliz! Augusto não teve jeito mesmo. Estamos em divórcio litigioso. O brilho daquele olhar ainda está aqui. Só de passar perto do café onde a gente se via me dá um frio na barriga! Tenho tantas saudades, Felipe. SERÁ QUE AINDA?