Depois de um período nem sempre acolhedor que pode ser marcado por sensações prazerosas ou angustiantes, independente de nossa vontade consciente, nascemos! A jornada física no planeta terra começa ai. “Em psicanálise, as polaridades amor e ódio, vida e morte e outras, são forças que habitam o ser humano.. Estão presentes no cotidiano, tanto nos conflitos simples e banais, quanto nos mais mórbidos ou sublimes da humanidade”. Estes pares de opostos estão presentes, fundidos em tudo o que o ser humano faz, pensa e sente. Um impulso energético interno direciona as nossas ações, nosso comportamento, com o objetivo de equilíbrio interno, para gerar bem estar. Impulso de morte e pulsão de vida influenciam o nosso comportamento e sobrevivência humana. Seria perfeito que nessa chegada à terra houvesse festa, muita alegria e coração pulsante; no entanto, muitas vezes, isso não acontece. “Conflito e angústia humana, mal administrados, podem causar desequilíbrio energético e danos a saúde”. O destino com sua gama de acontecimentos colabora muito pra que essa situação surja. “Temos que ser guerreiros”! Com meu filho, sinto não ter evitado que recebesse sensações de meus desequilíbrios e angústias. Naquele momento não tinha a menor consciência do tamanho de minha insanidade emocional. Tampouco o quanto isso pudesse afetar a quem mais amava. “Egocentrismo impede de se olhar para fora”! Fui inconsciente e frágil. Andei só no caminho da dor, sem me dar conta que uma vida crescia dentro de mim. Precisava ser cuidada. Esperei tanto pra ter o meu Danilo. A descoberta da gravidez foi a sensação da mais inimaginável felicidade que já tinha sentido. Estrelas brilhavam em minha alma, diuturnamente. Enxoval escolhido como pedrinhas preciosas enfeitando o coração. Durou pouco. No sexto mês, já mostrando uma barriguinha redonda e linda, sentindo a vida pulsando com chutes e pontapés vigorosos, a alegria de viver partiu. Tudo se transformou. Ouvi a notícia impiedosa na televisão:- O pai de meu filho tinha morrido. Acidente. Deus foi cruel comigo. Morri também naquele instante! Danilo não! Continuava com seus movimentos em meu ventre dando sinais de vida. Meu coração não conseguia acompanhar o ritmo e os movimentos de Danilo. É como se ele quisesse me despertar para a vida. Sentia muita culpa, tristeza e desejo de sumir. Carga pesada demais! Fragilizei. Foi então que meu filho resolveu antecipar a sua vinda. Nasceu prematuro. Num ambiente de intenso caos emocional. No dia em que ele chegou havia brumas nos céus encobrindo o brilho do sol amarelo do outono. Insistindo em nascer também! Parece que tinha havido um pacto entre meu filho e o sol! Os dois resolveram nascer juntos iluminando! Minha alma escurecida foi surpreendida pela luz de Danilo e pela luz do sol! Fiquei numa ambivalência total Senti uma desordem energética e afetiva em meu coração tão escuro. E nessa claridade abrupta, chorei. Chorei todas as dores intensas enterradas no âmago.. Chorei a culpa. Chorei a luz! Ressuscitei! Os olhos de Danilo eram idênticos aos do meu amor perdido. Coração disparou. Naquele momento senti a faísca da vida pulsar. De algum jeito estava novamente junto aos amores de minha vida. Em meu processo terapêutico percebi que congelei sentimentos intensos sem conseguir processá-los. Fiquei cega aos matizes coloridos que continuaram enfeitando o caminho. Compreendi que lidei com os meus limites possíveis de sobrevivência. A perda sofrida me aniquilou a razão. Só consegui pulsar na revolta e impotência, por dificuldade de encarar a realidade. Estava com a alma partida. O brilho dos olhos de Danilo e do rei sol, resgataram parte da minha energia perdida. Foi mágico. Pulsação de vida preponderou. “ESCOLHI VIVER”!
Mês: abril 2021
O GATO MORDEU A LINGUA! ( RECONCILIAÇÃO).
Tenho dois gatos. Manhosos e sensuais. Meio grudentos. Olhos azuis como o céu. Carentes. Os dois tem o peito coberto por pelos brancos. Um deles tem o nome de Frederico. O outro, Rafael. Cada um deles tem seu próprio jeito de ser. Frederico é simpático, afável, ao passo que Rafael é antipático, ensimesmado. Algumas vezes impertinente. Ranzinza. Não dá pra confiar em seu humor. Implicante como ele só! Não tolera Frederico. Harmonizar o ambiente com esses dois, não é fácil. Tem me dado muito trabalho. Converso muito com eles. Ainda bem que ambos são carinhosos. Sabem me conquistar diariamente. Pra mim é super importante ter conforto emocional dentro de casa. Confesso que tenho uma tendência instintiva em proteger Frederico. A sua energia tranquila combina com a minha. Protejo mesmo Frederico! Não tolero o egocentrismo e falta de sensibilidade de Rafael. Algumas vezes já pensei até em abandoná-lo. Desisti. Não tem jeito. Eu o amo demais. Não sou de abandonar meus amores! Resolvi cuidar das diferenças e tentar conciliar. Não suportaria ficar longe dele. Seu toque é insubstituível, Mesmo sendo tão neurótico. Noutro dia, surpreendi meu lindo Frederico querendo brincar no tapete com Rafael. Milagres acontecem! Fiquei surpresa. Desta vez Rafael não o rejeitava. Milagrosamente, percebi que estava envolvido com a brincadeira. Foi a primeira vez que vi os dois juntos e descontraídos. Fiquei feliz da vida com a cena. Senti que a relação estava melhorando. Alívio! Na verdade incomodava muito perceber aquele nível de rejeição de Rafael por Frederico porque meu coração é profundamente apaixonado pelos dois. A cena deles brincando no tapete fez renascer em mim, a vontade da gente assistir filmes, comer pipoca, juntinhos na sala de estar. Trocar energia do amor. O bom da história é que desde aquele dia Rafael mudou! Agora busca sempre Frederico. Até o brilho de seu olhar azul ficou diferente quando estão juntos. Realmente Rafael mudou! Acredita que ele anda querendo casar comigo? Fiz aniversário semana passada. Sabe o que ganhei de niver dele? UMA LINDA NEVE. “MIAU”!
PÉS DESCALÇOS! ( PROTEÇÃO/DEFESA).
Estava num bosque. Era noite de verão. Lua cheia clareava as árvores e todo o ambiente ao redor. Mariposas voavam livremente, como dançarinas ao luar. Encantavam com seus movimentos suaves e ritmados. Comecei a caminhar empurrando os galhos que cruzavam o caminho. Suspense. Um certo medo vinha das entranhas. Fantasias misturadas com realidade tornando o momento fascinante e assustador. Isso não impedia de continuar a me embrenhar cada vez mais no desconhecido. Buscava mistérios e emoções! Fui andando. Passos vacilantes. Insistentes. Depois de algum tempo percebi que a claridade tinha diminuído muito. Frio na barriga repentino. Parei! Ouvi um ruído, como se fosse passos de algum animal grande. Paralisei! Pernas tremeram. Suor frio no rosto. Mãos geladas. Respiração contida, pra não emitir som algum. Não podia chamar atenção. Fiquei assim, instintivamente, por alguns instantes. Coração queria saltar pela boca! Na mente, pensamentos de auto sobrevivência. Aqueles minutos pareciam intermináveis! Ansiedade intensa se apoderou de mim. “Ansiosa e aflita”! Num repente senti uma dor ardida no pé esquerdo. Aquela dor funcionou como uma “chamada para a realidade”. Consegui organizar minimamente os pensamentos. Foi aí que percebi que estava descalça. Meu pé começou a sangrar. Doía muito! Percebi que algum espinho pontudo o tinha espetado. Como uma criança, comecei a chorar. Chorei muito. Sangrava, sangue vermelho! Sentimentos misturados. Ambivalentes. Decidi interromper a caminhada. Comecei a retornar com passos lentos. Firmes! Protegendo o calcanhar esquerdo que doía muito se o colocasse no chão. Apoiava-me em alguns galhos quando a perna vacilava. Conforme fui retornando, a luz da lua foi retomando e clareando o bosque. Isso me energizou. Diminuiu o medo. Fui ficando mais tranquila, não fosse a dor no pé. O coração se aliviando. Peito se abrindo. Finalmente reconheci onde me encontrava. Incrível como fiquei mais segura. Não me sentia mais perdida. Uf! Caminhei mais um pouco e encontrei o ponto de partida. Lá se encontravam os meus sapatos. “A luz da lua iluminava os meus sapatos vermelhos”! Estavam lá me esperando. Apressei os passos em direção a eles. Por alguns segundos até me esqueci do espinho no pé. Só fui lembrar quando apoiei o calcanhar no chão. Sentei-me numa pedra cinza, e, sob a luz do luar, arranquei o espinho dolorido. Doeu um bocado. Aliviou também. Dei uns passos e fui lavar o machucado numa fonte ali pertinho. Assim que fui tentar colocar os sapatos, percebi um vulto se aproximando. Fiquei apreensiva. Estava tudo tão deserto! Meio alerta e muito atenta. Qual nada! Quando o vulto se aproximou, revelou-se a figura com que mais sonhei. Parecia a história da Cinderela. Tinha a delicadeza própria dos príncipes de meus sonhos. Com um sorriso lindo em seu olhar, colocou os sapatos vermelhos em meus pés! DEU-SE O ENCANTO… (ACORDEI COM O TELEFONE TOCANDO).
SONHO/Trazido por Lina Maria. Moça jovem, inteligente e sensível, necessitando auto conhecimento e ampliação de consciência. Terapeuticamente será desenvolvido fortalecimento de sua relação com a realidade, integrando-a aos seus sonhos e desejos, respeitando os seus limites.