Sonolenta. Sensação corporal de leveza. Olhos pesados, lacrimejando de tanto bocejar. Credo, parece quebranto! Não paro de ficar bocejando, até dói o maxilar. Sentada no tapete da sala de estar dou uma espiada rápida no sofá aconchegante, encostado no canto da parede. Da varanda emana um cheiro delicioso de jasmim. O perfume se espalha por toda a sala. A tentação de deitar naquele sofá é imensa. Meu corpo pede um sono gostoso! No entanto vim aqui na sala para meditar. Não quero dormir agora! (Não devia ter tomado as duas taças de vinho no almoço). Tenho pouca resistência ao álcool! Com preguiça, me levanto, vou até a cozinha tomar um copo de água. Aproveito e provo um bocadinho da geleia de morangos frescos que fiz hoje pela manhã, antes do almoço. Provo. Hum, delícia! Pego uma colherada e lambuzo uma torradinha integral. Nossa! Sinto que meu corpo acordou com esse prazer! Os morangos docinhos reanimaram o desejo de voltar à experiência a que eu tinha me proposto: meditação profunda! Há tempos estou querendo fazer essa viagem. Experimentar sensações novas, saudáveis e intensas, através dos sentidos. Fiz iniciação na yoga e, num determinado momento, travei. Tive que interromper. Acho que me bloqueei. Isso ficou mal resolvido em mim. Neste domingo tranquilo, sozinha aqui em casa, me estimulei viver a experiência novamente. Nestes últimos dias, li um livro incrível sobre “efeitos da respiração profunda”. Essa conexão com o interno é muito importante para o auto desenvolvimento e auto percepção. Tema atraente para mim! Ainda na cozinha olho para a mesa e olho as compotas. Tentação, essa geleia! Pego uma colher e saboreio mais uma porção dessa delícia. Volto à sala engolindo prazer. Novamente me sento no tapete, em posição de lótus e me preparo para meditar! (O livro que li explicava que através da respiração apuramos os sentidos e nos apropriamos mais de nós mesmos). A sexualidade pode atingir um estado de entrega plena! Sensibilidade mais refinada. Tudo melhora! O vento na pele, o ar inalado produzem sensações aguçadas de um extremo prazer de estar vivo, mobilizando pontos sutis do sistema energético. Busco sair desses ensinamentos saudáveis que invadem a minha mente e tento voltar para o vazio interno. Inspiro a calma! Respiro lenta e profundamente. Faço isso algumas vezes. Volto a respirar normal. Começo a contagem mental, de um a cinco. Quando algum pensamento interfere, retomo a contagem. Controlar os sentidos não é fácil! Gosto do morango que insiste ainda em minha boca, junto ao perfume das flores que vem da varanda, despertam sensações de um prazer singular. Intenso! Me ancoro nesse estado sensorial. Fecho os olhos. Aguço mais os sentidos. Ouço o vento cantando entre os galhos dos coqueiros do quintal. As folhas conversam entre elas. Som misterioso. Fascinante! Coloco as mãos sobre o meu abdome, entrelaçando os dedos, suavemente. Sinto o calor da minha pele entre eles. Calor gostoso. Morno. Em minha mente imagens abstratas, variadas, vindas do inconsciente. São figuras desconexas. Coloridas. Preto e branco. Misturadas. Me entrego aos sentidos! Quadro emocional motivador. De repente estou num lugar novo e estimulante. Foco meu olhar no meu âmago. Bem lá no fundo das entranhas. Ancoro nessa sensação por instantes. Inspiro fundo! Expiro lentamente. Solto todo o ar num ritmo suave e prazeroso. Repito algumas vezes essa respiração. Pensamentos desconexos vêm a mente. Deixo que eles permaneçam o tempo necessário e que voem junto ao vento! Aceito sem censura expressões cerebrais emergentes. (Vou dando continuidade ao processo de limpeza mental, através desses exercícios). Olhos fechados, firmes, focados em meu interior. Depois de algum tempo surge uma sensação de vazio. Intenso. Tento permanecer nesse lugar, nem que seja por rápidos instantes. Algum medo? talvez! Pensamentos cruzados, insistem em interferir nesse processo de esvaziar a mente. “A cabeça da gente é danada, Traiçoeira”! Parece que conspira contra! Não desisto fácil. Sou persistente. Não quero me sabotar! Retomo o processo. Desta vez, conto de um a nove, rejeitando qualquer interferência da mente. Quando ela invade, recomeço a contagem. Depois de muitas tentativas, nem sei quantas, atinjo uma sensação de leveza e profundidade. Há uma luz aquecendo as minhas células. A energia circulante, traz imagens fortalecidas de mim mesma. “Sou gaivota no pico da montanha”. Estou nas nuvens. Transformador e transformante, esse instante. Minha alma está lépida. Lilás! Coração vermelho, pulsante! Pulsando na cadência das batidas. Tranquilo. Sereno. Dança harmoniosa. Integrada. Meu corpo reage num estado de intensa integração. Nirvana. “A CASA ESTÁ EM FESTA”!