LOUCURA OCULTA! (VIOLÊNCIA DOMÉSTICA).

Caminhos me levaram a você. Que caminhos aqueles? Porque? Seria destino? Droga! Podia ter pulado aquele dia em minha vida. Se eu tivesse uma bola de cristal! Jonas entrou tão sorrateiramente em meu coração. Quase nem percebi. Quando me dei conta já estava totalmente envolvida e encantada. Maior erro que eu podia cometer! Esqueci de mim. Foi tão intenso. Ficou mania. Doença mesmo. Perdi a identidade. “Virei Jonas”. Fui sua ridícula sombra! Auto crueldade me submeter a tanta agressão psicológica daquele homem. Overdose! Custou reconhecer o “ser humano menor” que estava ali e ao  tamanho em que eu estava me reduzindo. Cega por paixão! Paixão por um doente! Aquele ser arrogante não sabia o que era respeito a uma mulher. Abruptamente se transformava num animal feroz e insensível, alternando com atitudes de extremo carinho em momentos diferentes. Desproporcional! Desequilibrado mesmo! Esse traço de caráter perverso emergia principalmente quando ele se  defrontava com minha alegria. Acho que mobilizava seus sentimentos bloqueados. Muitas vezes, causticamente, falava que eu parecia hiena. Sorria do nada. Sem motivo! No começo disso tudo eu nem ligava para o jeito doente dele. Até achava engraçado. Quando as agressões foram ficando recorrentes e mais intensas, algo dentro de mim sinalizou que não dava mais. Eu teria que tomar uma atitude! Essas cenas insanas sempre ocorriam quando estávamos a sós. “Loucura inteligente”. Encobria seu desequilíbrio dos olhares externos, no social. Disfarçava-se sob uma camada de bom humor e muitas brincadeiras. Era admirado pelo seu jeito educado, gentil e inteligente. Especialmente pela sua grana! “Socialmente, a imagem do bom menino que deu certo”. Dentro de casa, a besta explodia! Bastava contrariar seus caprichos ou vontades, lá vinha o “Jonas louco”. Desrespeito total. Lado escuro, mesclando mel e fel! Conturbava o meu mental. Ficava confusa. Enlouquecida, depois das crises. Não sabia o que fazer, duvidava até de mim! Muitas vezes imaginava que talvez Jonas estivesse apenas estressado, coisa de momento, quando arrependido,  cabisbaixo pedia desculpas. Ficava feliz. Quem sabe? Qual nada! Daí um tempinho ele se repetia em atitudes severamente neuróticas.  Nova decepção! Nova violência. Tentei ponderar e desculpar por quatro longos anos. Ele nunca quis fazer um tratamento psicológico. Dizia sentir-se  perfeitamente equilibrado. Perfeito! Muitas vezes, tive enorme vontade de sumir. Mandar tudo pro inferno! Virou uma gangorra a minha relação com Jonas. Baixos e altos. Altos e baixos! Muito mais baixos que altos. Minha energia sendo sugada de forma vampiresca. Com o passar do tempo fui mudando internamente. Cansando de perdoar. “O bom menino no social foi perdendo sua força dentro de casa”. Suas neuroses não engatavam mais em minhas neuroses. O nó lentamente se desfazendo. Ambivalência entre amor e raiva em que eu estava estagnada foi evoluindo num sentimento único, forte, anunciando sinais vitais de minha identidade. O meu emocional buscando  focar num caminho livre e claro. Amor e raiva se transformando em “Amor Próprio”. Lentamente e silenciosamente foi crescendo essa nova consciência, disposta a proteger minha integridade de mulher. Num belo sábado de sol aconteceu o ápice dessa relação emocional caótica que eu mantinha com Jonas. Animada, preparei uma reunião em casa, com amigos em comum. Tudo planejado. Tudo estava tranquilo.  Por um motivo banal, o imbecil do Jonas teve a audácia de  armar um novo e intenso barraco em cima de mim. Coitado. Bem naquele dia. Sem perceber minha transformação interna, a fera atacou novamente! Se deu mal. Desta vez me pegou mais fortalecida. Sem notar que eu estava diferente e  disposta a buscar alegria de viver, com ou sem  ele. Tremi de raiva! Muito desequilíbrio daquele doente. Por motivo banal ele recaiu! Estava segurando uma bandeja com copos cheios de cervejas, cantarolando com a música de fundo. Feliz. Distraída. Num repente, tropecei no pé de uma cadeira. Parece coisa do diabo. Jonas estava bem ali. Agachado. Amarrando o tênis. Sua bermuda ficou molhada pela bebida. Enfurecido levantou a cabeça abruptamente. Ficou em pé, soltando fogo pelo olhar. Transformou-se no demente que eu já conhecia. Rosto vermelho de raiva. Olhos saltando pelas orbitas. Até salivou de tanta fúria. Reagiu como se eu tivesse dado um soco no meio da cara dele, sem motivo algum. Reação absurda.  Insultou-me violentamente. Minhas pernas foram ficando trêmulas. Ele simplesmente, não ouvia minhas desculpas.  Esbravejava, me ofendendo, xingando de vadia, desastrada, infeliz! Gritava dizendo  que eu nunca fazia nada direito, mesmo.  Suas ofensas foram num crescer assustador, enquanto eu pedia mil desculpas. Soltou adjetivos pejorativos que derrubam qualquer dignidade.  Rir comigo do acontecido seria esperar muito daquele doente. Aproveitou que estávamos sozinhos na sala de jantar e despejou toda a raiva de uma vida. Confesso que fiquei com medo de sua loucura sem limites. Sorte que o pessoal da festa estava no quintal dançando e não percebeu o ocorrido. Seu olhar de ódio e violência no instante da fúria, deixou um registro do definitivo fim da nossa relação. Foi num estalo, em minha mente. Não queria, nunca mais, aquele olhar  de ódio sobre  mim.  Eu não merecia aquela violência! Calada e decidida voltei à festa. Estranhamente tranquila. Como se tudo estivesse maravilhoso. Dai a pouco surge Jonas, com uma gelada na mão. Dissimulado. Brincando e rindo.  Naquele instante, reafirmei em meu coração, que não queria mais Jonas em minha vida. A falta de respeito a minha pessoa estava sendo enterrada naquele momento! Com essa convicção, depois que todos foram embora e Jonas embriagado,  em sono profundo em nosso quarto, decidida, fui dormir no quarto de hóspedes. Sensação estranha e nova. Respiração ora leve, ora acelerada. Parecia que eu estava anestesiada. Dormi profundamente naquela noite. Acordei pela manhã, ainda esquisita. Sonhos de recomeço, de uma nova vida. Um tanto triste, por ter me auto sabotado durante tanto tempo e  permitir que aquele homem violento quase anulasse minha identidade. Jonas, por sua vez, ao acordar, fazendo-se de vítima, como sempre, tentou me seduzir e se desculpar. Tentou, beijos forçados. Frios. Frustrou-se! Afastei-o com firmeza. Senti  aversão!  Ele percebeu. Ficou sem chão ao ouvir minha decisão. Ali na cozinha, em pé, levantei a cabeça, olhei em seus olhos. Bem firme. Resoluta, sem titubear, pedi o divorcio. Surpreso. Agressivo. Gritou que eu estava louca. Precisava me tratar. Concordei!  Falei, então, que não se metesse com uma louca! Não seria mais seu tapete. Nem de homem, algum. Não deixei o desequilibrado Jonas, falar. Eu berrava! Meu coração saia pela boca. Vociferei todo o sufoco contido há anos. Ele ouviu tudo num silêncio assustador. Entendeu que era o fim. Silencioso, foi embora de casa naquela manhã de domingo ensolarada! Levou junto seu ego inflado e poucos pertences. Não deixei que levasse nossa gatinha, Lila. Saiu sozinho com o seu carrão vermelho! Foi embora de minha vida deixando rastros de mágoas. Muitas feridas para cuidar. Natural que eu chorasse algumas noites. Não sei se de raiva ou saudades dos falsos momentos bons. Não importa. Lavar feridas com lágrimas ajudam na assepsia da alma. Ando com dó de mim mesma. Isso não é bom! Muitas vezes me sinto como criança sozinha, fragilizada.” Quem me dera voltar no tempo”. Jonas, jamais seria uma escolha. Resgatar minha menina interna com a consciência de agora, é tudo que preciso. ” Procurando por mim”!  – Queixa de Ana Rita, quando buscou psicoterapia. (Depois de participar de um Workshop na integração entre corpo e mente. Chegou em meu consultório na busca  de um trabalho emocional na linha de Reich). “Concomitantemente Ana Rita está começando um movimento social, na ampliação da consciência, em defesa das mulheres que sofrem violências domesticas, tanto físicas quanto psicológicas”.