Saudades. Quantas saudades! O peito dói muito. Parece que vou enfartar. Você não devia ter feito o que fez. Tão insensível, meu Deus. Onde estava a paixão forte que dizia sentir? Bem no momento em que eu estava quase voando de tanta felicidade. Você não sabe perdoar! Decididamente, você não me merece! Me arrependi profundamente de ter ido ao baile das máscaras. Naquele dia, eu tinha me programado para sair com o você, embora não sentisse nenhuma atração. Tenho que ser sincera! Estava muito envolvida com o meu ex namorado! Dada a sua insistência, iria experimentar conhecer você melhor. Todos comentavam da sua paixão por mim. Aconselhavam-me a lhe dar uma chance. Você tinha uma ótima reputação. Pensei bem. Não custava nada. Me sentia tão carente! Tinha perdido um grande amor! Estava ainda de luto. Eu carente e você oferecendo amor! Na verdade eu tinha até um pouco de pena de rejeitar você. Juro que não pretendia cancelar o nosso cinema daquela noite. A Rita, minha melhor amiga, tinha que aparecer com o convite do baile do clube. Bem no dia do nosso encontro? Fiquei numa dúvida danada. Acho que fui infantil. Verdade que eu já tinha confirmado o nosso encontro. Você, exagerado, me mandou um buquê de rosas vermelhas. lembra? Sei que sua expectativa era imensa. Por outro lado, também, há muito tempo, eu sonhava em ir à um baile de máscaras. Nunca tinha ido! Num ímpeto, resolvi cancelar o nosso encontro. Inventei uma enxaqueca fortíssima! Hoje, acho que fui egoísta e cruel. Não pensei duas vezes, corri para alugar uma fantasia. Consegui a de “Dançarina sem rosto”! Era linda. De um tecido leve e colorido. A máscara cobria o rosto todo. Não dava pra ser reconhecida, de jeito algum! No baile, me senti exuberante e misteriosa. Uma sensação muito nova. Ali eu pude viver minhas fantasias, livremente. A orquestra tocando músicas incríveis. Todos os ritmos . Pessoas descontraídas. Muita animação. Muita alegria. Num intervalo da orquestra, fui me sentar sozinha numa mesa de canto. Distraída, ouço atrás de mim uma voz rouca e quente se convidando a sentar-se ali, comigo. Virei a cabeça e dei de cara com um “zorro”! Não dava pra reconhecer quem estava por trás daquela máscara. Gostei de seu atrevimento.”Gosto de homens com atitudes”! Começamos a conversar sobre assuntos intrigantes. Parecia que a gente se conhecia há muito tempo. Enquanto conversávamos, ele acariciava as minhas mãos com uma delicadeza que nunca senti. Fiquei imaginando quem estava por traz daquela fantasia. Quem seria? Apenas a boca e os olhos davam para serem vistos. Me pareceram conhecidos. Estava confusa com tantos coquetéis! Atrevidamente ele aproximou o seu rosto do meu e me presenteou com um beijo delicioso. Me arrepiei! Ali, eu me apaixonei. Ficamos juntos o resto da festa. Dançamos e rimos muito. Parecia um sonho! Ele não sabia o que fazer para me agradar. Eu feliz, me sentia nas nuvens. Combinamos de tirar as máscaras só quando acabasse o baile. Pronto. Fim de de festa! Não acreditei. Não podia ser verdade! Pensei estar embriagada. Tendo visões. Bem ali, em minha frente, estava o Breno. “De carne e osso”! O cara apaixonado que eu rejeitei tanto! Fiquei perplexa. Feliz. Confusa. A minha voz sumiu. A dele não! Não sei como alguém pode mudar tanto em segundos! Fiquei assustada. Expressou uma raiva e agressividade inesperada. Jogando fogo no olhar, sadicamente, me disse em tom sarcástico: Você é uma mentirosa. Falsa. Cruel! Essa era a sua dor de cabeça? Não sei como me interessei por você! Eu te idealizei. Me fez de palhaço. Realmente você me desencantou! Nunca mais quero te ver! Saiu pisando forte. Depois disso ele sumiu. Tentei me desculpar. Ele nunca atendeu meus telefonemas. Aquele encontro no baile, foi tão intenso. Despertou em mim muitos sentimentos. Não tem explicação. Fiquei apaixonada. Envergonhada. Confusa e com uma imensa saudade. Parece que fui vítima de uma bruxaria! Tentei contato novamente. Nada! Descobri, através de amigos, que ele foi uma criança adotada e teve muitos traumas desde o nascimento. Nasceu de uma mãe adolescente de dezesseis anos . Ela entregou o BRENO para adoção e nunca mais se soube dela. Ele foi adotado por Carla. Por uns tempos tudo correu bem. Aos poucos Carla foi mudando muito. Começou a andar com más companhias a se drogar e se prostituir. Saia quase todas as noites. Pouco se importando com Breno. Ele preenchia o tempo criando personagens imaginários, como companhia. Carla dizia a ele que trabalhava de garçonete num bar no centro da cidade. Isso perdurou por anos. O povo comenta! Quando Breno se tornou adolescente, ouviu que o trabalho de Carla era a prostituição. Ficou transtornado com tudo! Não perdoou a mentira. Transformou-se num jovem revoltado e muito carente. Assim que deu, foi morar com um amigo. Começou a estudar como um louco. De algum jeito queria resgatar a sua identidade e honra. Desenvolveu aversão a mentiras! Foi a forma que achou pra se defender da dor de ser enganado. Já bastava a sua mãe genética que o doou como se fosse um “pacote de bolachas”. Levou a vida a sério. Estudou muito. Ao mesmo tempo que se tornou muito rígido em alguns aspectos, ficou também, extremamente, sensível e humano. Formou-se em assistência social e foi trabalhar com crianças carentes. Nunca perdoou as “suas duas mães”! Intolerante às mentiras. Quando ouvi todo esse drama, compreendo Breno. As coisas fizeram sentido. Fiquei mais apaixonada ainda. Com muita vontade de grudar nele! Deus, acho que é castigo. As festas de fim de ano estão chegando. Será que devo? Essa dúvida me mata. Cadê o meu celular? Alô? DEIXE O SEU RECADO!!!
Autor: Leila Tereza
ROMPENDO MÁSCARAS! ( RELACIONAMENTO).
Existem vários tipos de caracteres. Cada um deles encoberta (revela, a olhos treinados), na estrutura corporal, as emoções que os originaram. O caráter narcísico, popularmente muito conhecido e tão desconhecido em sua construção emocional, é um bom modelo para se ter noção das consequências que a carência afetiva – a privação precoce de afeto – pode acarretar sobre o jeito de ser de uma pessoa. Somos naturalmente narcisistas. Essa característica é inerente ao ser humano. Num grau normal, isso é bom. Revela um saudável amor próprio e condições de se cuidar para estar neste mundo de uma forma equilibrada. Narcisismo, bem dosado, representa uma boa auto-estima. Num grau exagerado, é patológico. A pessoa se torna extremamente egocêntrica, sem capacidade de empatia! Haje como um trator! Precisa desesperadamente de um espaço onde possa se sentir admirada e respeitada. Busca o que não teve! Quer sempre ser o melhor! Assim se expressa para o mundo. É uma compensação. Na verdade, esse comportamento funciona como uma máscara, que encobre um ser humano inseguro e frágil – uma defesa para se sentir importante, admirado, aceito. No campo social existem muitos doentes narcísicos! No ambiente familiar, no entanto, por haver maior intimidade, sua fragilidade fica mais exposta. “Quanto mais intimidade, menos máscaras”! A relação de uma vida a dois proporciona um bom exemplo de quebra de defesas. O dia-a-dia, na intimidade, é revelador! É um excelente espelho que pode refletir as neuroses de cada um. Muitas vezes, em discussões, ouvimos do companheiro, acusações sobre o nosso comportamento. Não aceitamos! Ficamos com muita raiva. É difícil reconhecer que somos imperfeitos! Nosso narcisismo não aceita. Recebemos como uma agressão. Claro que a neurose do outro pode, também, estar atuando contra a nossa! Em situações de brigas existe o perigo da soma de neuroses! Intensos riscos! “Ego contra ego”. Briga feroz! Utilizar o racional nesses momentos é salutar. Fugir da reação impulsiva. Após a crise emocional, uma forma de resgatar algum equilíbrio é exercitar a humildade. Autoquestionar-se. Dizia São Paulo: “a humildade é a verdade.” Oportunidade de crescimento e auto conhecimento. Pode ser transformador! Temos dificuldades em admitir nossos defeitos de caráter, mas, também, em reconhecer nossas reais virtudes! Nos vínculos íntimos, expressamos nossas melhores e piores qualidades. Fantasias, desejos, raivas e todos os tipos de sentimentos. Ao mesmo tempo em que podem ser a causa de tantas rupturas, poderiam ser o fertilizante de relações mais genuínas, mais gostosas, se houver a ampliação da consciência. O mundo misterioso das emoções é avassalador! Já no macro cosmo, aqui, no mundo externo, vivemos das aparências. Elas são mais fáceis de administrar. Muitas vezes, são enganosas. Não podemos nos iludir só com as aparências! A estrutura corporal, os gestos e expressões representam a unidade do ser. A psicoterapia pode ajudar muito neste processo de reconhecimento e construção. AUTO CONHECIMENTO! A partir daí fica mais fácil administrar seus traumas e neuroses. Crescimento é de dentro para fora. Fica mais fácil olhar para o mundo de uma forma saudável. Quem se apropria de si mesmo, dificilmente se tornará vítima de alguém. Já sabe o que quer! A sedução de nenhum narcísico conseguirá afetar quem se escolheu para ser feliz! “MENTE E CORPO: UNIDADE FUNCIONAL”! REICH.
SEQUESTRO DE MIM! ( SENTIDOS APRISIONADOS).
Quantos de nós podemos respirar plenamente? Na verdade, todos podemos. Poucos conseguem. O estresse presente no dia -dia, altera ritmo e frequência da respiração. Tudo fica acelerado. A respiração é automática, funciona sem a gente perceber ou controlar. A não ser que se faça um trabalho direto, delicado e focado. Respiração tem padrões próprios. Esses padrões reflete a mobilidade do diafragma. Se ele estiver comprimido, a amplitude de seus movimentos será limitada e a respiração não será plena. Com o tempo, isto pode trazer danos à saúde. “Somos energeticamente o resultado da forma que respiramos”. Podemos, no entanto, interferir, através da consciência, e tentar mudar esses padrões, expandindo o nível da respiração. Para isso, existem várias técnicas. Diferentes linhas. Cada linha, dentro de sua abordagem, busca a saúde global do organismo. Quero falar da importância e da relação que existe entre o “respirar e os nossos sentimentos”. Vivemos num mundo de muitas repressões e formalidades. Sentimentos reprimidos, atuam diretamente na contenção do diafragma e muitas vezes em nossa postura corporal. Desde cedo, aprendemos a trancar no peito, desejos, medos, raivas… Acontecem em vários níveis. Contenções se instalam, assim como uma “Caixa preta do avião”. Difícil acesso. Fica lá, guardadinho! O organismo, na maioria da vezes, diante do estresse profundo e mal cuidado, reage como um todo, podendo se comprimir em vários níveis. Essa história revela isso:- Felipe nasceu forte e cheio de saúde. Cresceu num lar com muitos preconceitos, sem contato e pouca afetividade. Assim, foi aprendendo a suportar e conter sentimentos importantes, em sua experiência de vida. Esses bloqueios, desenvolveram medo absurdo de se expressar espontaneamente. Transformou-se num homem que seria bonito, não fosse sua estrutura corporal rígida e atitudes robotizadas. Costa encurvada. Parecendo que carrega o mundo sobre elas. Adora livros e filmes trágicos. Tudo que se refere a sofrimento desperta o seu interesse. Acido e muito crítico. Muitas vezes um chato. Sem criatividade. Assuntos repetitivos. Falar sobre negócios, seu fraco. Isso ele faz bem! Politicamente correto! Tenta se valorizar com as pessoas, o quanto pode. Sente-se rejeitado quando não é ouvido ou admirado. Acha a realidade da vida natural, maçante. Esconde-se no trabalho. Não consegue sentir-se feliz. Parece que falta sempre algo. Um dia destes, sentindo-se muito ansioso e com a respiração alterada, foi caminhar na praça principal de seu bairro. Conselho de seu médico! Precisava se distrair, mudar rumos mentais. Na praça, tentou olhar as pessoas e a animação que lá havia. Realmente, o mal estar foi indo embora. Parando em frente à vitrine de uma loja de perfumes, viu sua imagem refletida no espelho. Espantou-se. Nunca tinha se visto daquela forma. Detestou o que viu! Não era assim que ele se imaginava. Não podia ser ele. Ficou inconformado! Viu-se feio e ansioso. Naquele segundo, sua mente se integrou um pouco mais ao corpo. Pode fazer uma leitura da realidade e se perceber. Começou a respirar mais pausadamente. A respiração foi melhorando! Dentro de sua cabeça, houve um confronto entre a sua imagem expressa e a autoimagem. Ele teve sorte. Naquela caminhada, os ventos sopraram a seu favor. O exercício de andar mobilizou sua respiração. Mudança no psicológico, concomitantemente. “Ampliação de consciência”. Surgiu em sua mente, uma cena recorrente, na época do colégio, onde, colegas de classe o humilhavam cruelmente. Até apelido pejorativo recebeu ” gordo suado”. Assim que se referiam à ele. Além de não o convidarem para nada. Nem festas ou esportes. Felipe, vivia isolado. Sentia-se impotente para reagir. Ao relembrar da cena, sangue esquentou como antigamente. Surgiu com força a raiva que engoliu e o sentimento de rejeição. Quantos sentimentos bloqueados dentro dele. A partir desse insight, os caminhos começaram a se abrir para Felipe. Procurou tratamentos. Foi em busca de psicoterapia. Queria se entender melhor e organizar situações mal resolvidas. Buscou também Yoga, queria reaprender a respirar. Escolhas salutares para a recuperação de si mesmo! O processo de libertação já começou. Mudar demora um tempo. Caminhada interna e respiração é um casamento saudável. O SEQUESTRO ESTÁ COM OS DIAS CONTADOS.
SOL E DESEJO ARDENDO! (SENSAÇÕES).
Na manhã daquele domingo quente de primavera, acordei agitada. Transpirando muito. Camiseta molhada, grudando nas costas. Suor excessivo. Transpiração do medo! Pesadelo tinha me atormentado a toda a noite. Intensamente. Corpo todo dolorido. Parecia que eu tinha levado uma bela surra. Você, Rodrigo, voltou com toda a força. Pensava que já tivesse morrido em mim! Naquela noite te senti tão vivo! Passei horas ouvindo tua voz quente. Murmurando palavras quentes. Indecentes. Desejo ardendo, pelos poros! Parecia que havíamos retomado os velhos tempos. Brincadeiras ridículas. Você me fez rir, novamente, até doer a barriga. Meu doce palhaço! Sensível e irônico! Homem menino, carente. Tão forte diante da vida! Eu nunca soube de onde vinha tanta força e firmeza. Com sua história de vida triste. Depois de tanta rejeição e abandono… Que força para enfrentar a vida! Sabia que despertou em mim intensa vontade de cuidar de você? Esse foi um dos aspectos que me encantou. Sua ambivalência de caráter. Forte e frágil! Em minhas horas de dor, sua presença energética sempre me acalmava. Sabia Mostrar um mundo melhor. Isso atrai muito, sabia? Você se permite ser dual. É uma das poucas pessoas que conheço que se expressa tão naturalmente quanto uma criança. Na noite do pesadelo, revivi paixão profunda que avassalou a gente. No sonho, revivi seus beijos quentes, provocadores. Subi nas nuvens. Trêmula e feliz, envolvida em seus braços fortes, auge das sensações, olhos fechados, num repente, um empurrão inesperado. Quase perdi o equilíbrio. Me apoiei na parede, tentando entender o que estava acontecendo. Cabeça confusa, olhei para baixo, cena assustadora. Você estendido no chão. Sem sentidos. Parecia morto! Desesperada, não encontrava meu celular. Não pensei duas vezes. Sai de casa correndo, pela rua afora, pedindo por socorro. Desnorteada. Escuridão. Todas as luzes da rua apagadas. Não havia ninguém por ali. Gritava. O som da voz não saia. Meu maxilar rígido. Garganta e boca secas. Mente fixada só em meu amor, estendido lá no chão frio do quarto. Nessa condição, enrijecida, catatônica, Acordei. Nossa, alívio! Sofrimento terrível, esse pesadelo. Não imaginava que ainda te amava tanto! Já há quase oito meses que a gente havia se separado. Ciúmes ridículo de sua parte. Eu não aceitava o seu controle. Enfurecida em duvidar de mim! Isso eu não admitia. Risquei você do pensamento, de tanta raiva. Só não sabia que não tinha riscado do coração. Pesadelo revelador. Acordei você em mim! Muito medo de nunca mais te ver. Levantei da cama. Abri a janela do quarto. Cheiro de maresia pelo ar. Barulho das ondas, ar fresco. Surgiu vontade enorme de respirar e correr na orla. Ao mesmo tempo, sentia um aperto no peito! Sentimentos intensos, despertados naquele sonho/pesadelo. Coração acelerado. Necessidade em ser ouvida. Abrir o peito. Conflito instalado. Aceitar o convite do sol? Do coração? Liguei! O reencontro foi um renascimento. Mãos dadas. Desejo queimando as entranhas. Dia mais quente de todos os verões. Rodrigo:- Você vai ser pai!
O GRITO DE HELENA! (CATARSE).
Algumas vezes a gente pode se sentir como um estranho neste mundo. Nada parece ter sentido. O sistema energético fica comprometido. É como se existisse um abismo entre a nossa realidade interna e a externa. Pelo instinto de vida, natural nos seres vivos, buscamos preencher esse buraco das mais variadas formas. Dependendo, essa forma pode ser desastrosa e, até, intensificar o estado de cisão. Normalmente, a repressão é a causadora desse estado emocional. Na educação tradicional aprendemos, na maioria das vezes, a reprimir emoções naturais que fazem parte do desenvolvimento saudável do ser humano. Vivemos em função das aparências! A sociedade, em grande parcela, é hipócrita. Os valores essenciais ficaram distorcidos. Confiança e respeito genuíno quase não existem. Como viver num mundo assim? O que fazer para tentar restabelecer valores essenciais para um mundo melhor e mais equilibrado? Desenvolver pessoas mais seguras e felizes? O trabalho preventivo no ampliar da consciência é fundamental nesse propósito. Isso deve começar no núcleo familiar, ou, ainda, nas mulheres gestantes. E em todos aqueles que se dispõem a preparar seres humanos para o mundo. Estimular a buscar dentro de sentimentos que gerem atitudes saudáveis. Sentimentos de respeito, aceitação e acolhimento. Qualquer mudança transformadora deve ser a partir do “SI” (DE DENTRO PARA FORA)! Vou contar aqui o caso de HELENA: Moça de caráter rígido, inteligente e super esforçada. Filha única. Foi criada em uma família de classe média alta. Teve quase tudo que o dinheiro pode comprar. Não teve o que mais precisava! Sua mãe, sempre entregue a vaidades fúteis. Pouco conheceu a filha. Pai, um renomado advogado, narcísico. Diferente de sua mãe. Ele a mimava e ao mesmo tempo a sufocava! Desde que Helena era criança, ele a induziu a ser advogada. Nunca se preocupou em saber se era isso que ela sonhava para a sua vida. Queria deixar seu legado à ela. Decisão tomada. Não se discutia. Afinal, ele tinha batalhado tanto pra subir na vida! Controlada e conduzida pelo pai, “DR.ALFREDO”. Esse foi o caminho de Helena… Frequentou as melhores escolas. Cursou a melhor universidade. Destacou-se como excelente aluna. O pai, sempre muito orgulhoso da “sua menina”! O tempo passou rápido. Como era de se esperar, ela se formou com louvor. Foi trabalhar com o pai. Pegou logo o ritmo da empresa. Depois de uns anos ele foi forçado a se aposentar. Saúde precária. Desenvolveu uma doença degenerativa. Helena ficou com o império e, rapidamente, se estabeleceu como a importante substituta do DR. ALFREDO. Cresceu muito! Conseguiu fama e sucesso profissional. Ganhou um bom dinheiro. Trabalhava como um robô. Nunca parou para questionar a sua vida. Para compensar os dias intermináveis que passava no escritório lotado de trabalho, a jovem Helena frequentava muitas festas, nos fins de semana. Nem sempre com as melhores companhias. Só não queria ficar sozinha. Precisava relaxar nas bebidas. Já tinha virado um hábito. Certa vez, numa dessas festas, já em sua quarta batida de gim com morango, Helena começou a dançar as músicas caribenhas que ali tocavam. Meio embriagada, deixava o corpo se expressar sem censura. Girava, girava! Sozinha. Olhos fechados. Naquele momento parecia que só ela existia! Seus pés quase que tropeçavam um no outro. As pessoas que ali estavam abriram espaço para que ela pudesse continuar sua dança frenética. Nunca tinha se soltado assim. A impressão que dava é que queria exorcizar os demônios presos em seu peito. Assim ficou por infindáveis dez minutos. Quando perdeu quase todas as forças das pernas, se jogou no chão. A cabeça ainda girava muito. Num repente, se sentiu mais leve e começou a rir muito. “Assim como uma louca”! Passada essa experiência, foi levada para casa pelo seu motorista particular. Na semana seguinte, logo na segunda feira, resolveu que queria se auto conhecer e sentir novas sensações. Tinha gostado da cena vivida. Nem foi trabalhar, naquele dia. Na noite anterior, tinha sonhado que era psicóloga. Desejo contido, que nunca expressou a ninguém. Buscou uma terapia de auto-conhecimento. Encontrou um ótimo terapeuta. Já está em terapia há quatro meses e vem se sentindo com alegria de viver. Numa das últimas sessões, num trabalho de profunda respiração, conduzido pelo terapeuta, entrou num movimento de profunda libertação. Num repente, começou a emitir um som gutural que foi aumentando, até virar um grito primal, assim como dos animais. Esse som, rouco, primitivo, vinha das entranhas! Ali, ela soltou todos os sentimentos e desejos reprimidos. Essa catarse trouxe uma necessidade enorme de mudar rumos. De finalmente se ouvir! Não queria continuar seguindo o caminho profissional do pai. Não precisava mais responder às expectativas de ninguém para ser admirada e amada. Iria ouvir a voz do coração. Decisão tomada. Hoje, já tem a coragem de ser FELIZ!
O SEDUTOR BARATO! (CARÁTER PSICOPATA).
Nossa história já começa dentro do útero em que fomos concebidos. Lá se instalam os primeiros registros emocionais que podem se refletirem durante toda uma vida! Nas outras etapas do desenvolvimento, após o nascimento, o contato do amor genuíno é de suma importância, também. A ausência ou negação desses sentimentos, podem gerar questões emocionais, podendo afetar o equilíbrio energético do corpo ou da mente. Cada corpo vai expressando sua própria historia de vida. Os grandes estresses e traumas recalcados em nosso interno podem se transformar em profundas ameaças a nossa felicidade. Muitos desses registros são imperceptíveis à olhos leigos, se expressando, no entanto, de forma inconscientes, através de atitudes e expressões reativas, algumas vezes, desproporcionais à situação emocional que os provocaram. Transparecem também na postura corporal. Dependendo da gravidade desse registro traumático, o organismo fica como uma panela de pressão! Essa condição é tão bela quanto trágica. Bela, pela incrível potência do psiquismo. Trágica, pelo efeito devastador que pode causar em uma vida! (Determinante nossa estrutura psíquica). “Seria tão mais fácil se a gente pudesse ter acesso direto ao inconsciente e lidar com todas as profundas marcas recalcadas no coração”. Provavelmente, evitaria muita fuga de si mesmo. Tanta auto sabotagem”. O contato com a realidade e a maturidade estariam mais presentes. “Pessoas mais estruturadas conseguem percorrer a trilha do Amor e fazer melhores escolhas para sua vida”. Auto conhecimento é uma boa forma de tentar sair dessa armadilha. Importante saber que a prevenção é a forma terapêutica mais eficaz. Mulher gestante que exercita o auto amor, automaticamente, estende esse amor ao seu bebê. É mágico. Transformador! Nascimentos mais felizes. Existem vários tipos de caracteres que podem ser estruturados de acordo com a qualidade de seu desenvolvimento . Cada caráter tem uma atitude própria diante da vida. Quero ressaltar aqui alguns traços do caráter Psicopata, por ser o mais ameaçador. Muito alastrado pelo mundo! Existe em todas as camadas sociais. Sede de poder é um dos traços importantes desse tipo de caráter. Frio e calculista. Envolvente e sedutor. Ego idealizado. Muitas vezes, usa máscara de uma doce criatura. Vive em função de seu próprio quadro mental. Não consegue enxergar o outro. Precisa sentir-se admirado. Não sente culpa alguma, tampouco consegue entrar em contato com o seu próprio coração. Provavelmente, “vítima de um útero congelado”! Ausência de contato. Não recebeu acolhimento. Não recebeu amor! Conseguiu sobreviver, fechando-se em si mesmo. Lacrou-se. O seu coração ficou como uma caixa blindada dentro do peito. Só pensa em si mesmo! Não sente empatia. Funciona como um trator. Se precisar, esmaga o outro! Muitas vezes tem atitude de abutre:- espera prazerosamente a vítima perder as forças para atacar! É narcísico, cruel e articulado. Existem vários níveis de traços psicopáticos. Vai depender da própria história! A mãe de um psicopata, provavelmente, também foi vítima de sua própria história também. ” FUNDAMENTAL GESTAÇÃO COM CONTATO DO AMOR”! O caráter psicopata fechou-se em si mesmo. Numa situação sem saída ele mata ou se mata! Normalmente é um bom líder. Precisa se sentir importante. Enorme necessidade de sucesso e reconhecimento. Atrás da máscara do poder habita um ser humano regredido que não conseguiu sentir-se desejado e amado. Cobra do mundo tudo o que não recebeu. Esse é o jeito dele ser feliz. Sua sedução deixa cicatrizes na alma! “SOMOS O RESULTADO DA NOSSA GENÉTICA E A SOMA DE NOSSAS EXPERIÊNCIAS EMOCIONAIS!”.
O SONHO DA SENSÍVEL CAMILA! ( EMOÇÕES CAMUFLADAS).
Camila ganhou dos Deuses o privilégio das grandes belezas. Sempre ouviu isso das pessoas! Dona de traços perfeitos e de uma alma imensamente sensível. Meio introvertida. Difícil de se abrir emocionalmente, mas com uma enorme facilidade de perceber o outro. Filha do meio entre duas irmãs de temperamentos fortes e muito controladores. Teve enormes dificuldades de conquistar um espaço e se sentir respeitada. Tornou-se insegura e carente emocionalmente. Esse seu jeito excessivamente meigo sempre foi interpretado como fragilidade pela maioria das pessoas. Na verdade, encobria toda uma força e vontade de vencer. Camila não conseguiu ter atitude para explorar essa capacidade. Esses aspectos ficaram bloqueados causando-lhe muitas angústias e conflitos. Pelo fato de ter sido o “sanduíche” entre as irmãs e de ter se submetido a muitas situações de rejeições e críticas negativas, desenvolveu internamente uma enorme carência e instabilidade emocional. Medo de expressar vontades, desejos e opiniões. Verdadeiro pavor de não ser aceita! Assim ancorou-se numa fragilidade crescente que foi dificultando toda a sua vida. Muitas vezes, essa instabilidade oscilava entre a segurança de sua beleza física e a insegurança emocional. Sabia que era fisicamente bonita! O espelho confirmava. Mas isso não bastava! Ela queria ser admirada e desejada! Não conseguiu conquistar um espaço saudável no ambiente familiar e nem no social. Sentia-se o patinho feio tendo que se contentar com “restos e sobras”! Algumas vezes, quando sentia que ia se deprimir, corria para o espelho. Ali, ela tentava resgatar um pouco de segurança e auto estima e, assim, recomeçava a buscar o caminho de seus desejos. Quantas tentativas perdidas, meu Deus! Quantas noites mal dormidas com sonhos recorrentes! Em seus pesadelos sempre havia histórias de mortes e grandes perdas. Muita ansiedade. Muito medo! “BELA E ANSIOSA”. Algumas vezes, a sua angústia era tão grande que perdia a vontade de viver. Entrava numa grande depressão. Seus pais também tiveram uma parcela de culpa na auto-construção fragilizada de Camila. Claro que foi de forma inconsciente. Eles também, de algum jeito, não receberam de suas fontes de afetos o necessário para administrar a extrema sensibilidade de Camila. Essa menina cresceu, mas não conseguiu amadurecer. Emocionalmente fixou-se na adolescência. Está com trinta e seis anos e meio e se comporta como se tivesse quinze. Continua linda! Está num momento de intensos questionamentos de vida. Fase de grandes conflitos e sonhos. Estão surgindo sinais de que quer se apropriar de sua idade emocional e a integrar à cronológica. Quer virar mulher! Pesadelos estão emergindo, mobilizando ansiedades e angústias. Começou a fazer terapia. Sim, ela decidiu que quer mudar! Trouxe um sonho recorrente para ser entendido. O SONHO:- Estava em um hotel com as suas duas irmãs. Elas tinham combinado de irem à uma festa. As irmãs já tinham se arrumado, lindamente. Maquiadas e vestidas sensualmente, expressando segurança e se sentindo “rainhas”! Camila, atrasada como sempre, não tinha se organizado em nada, embora estivesse louca para ir à festa. As irmãs, impacientes, gritavam pra que ela se apressasse. Ameaçavam ir embora. Camila, afobada, correu até o banheiro para tomar uma ducha rápida. Ofegante, não conseguia se desvencilhar das roupas. Muita dificuldade pra tirar cada peça. Eram muitas as camadas de roupas em seu corpo. Parecia não acabar nunca! Ela foi entrando em desespero. Não podia perder aquela festa de jeito nenhum! Finalmente, quando conseguiu entrar no chuveiro, seu pé esquerdo entalou no ralo. Que desespero! Havia muita sujeira naquele ralo. Mesmo com muito nojo, ela conseguiu terminar o seu banho. Voltou para o quarto e foi correndo vestir a roupa da festa. Novamente a ansiedade bateu forte! A cama estava muito bagunçada. Muitas roupas misturadas. Ela não conseguia encontrar o vestido escolhido. Desespero!!! Falta de ar. Taquicardia!!! Acordou. Ainda meio trêmula se recostou na beira da cama e buscou se aquecer num tantinho de sol que entrava pela janela de quarto. Sob o calor acolhedor daquele sol de outono, ficou refletindo sobre a sua vida por quase duas horas. Decidiu que queria mudar. Se entender melhor. Sair da armadilha emocional em que se encontrava. Apresentei Camila! Sou sua terapeuta. Estamos analisando toda a simbologia desse seu sonho. Ela já reconhece as diversas camadas de defesa que precisou desenvolver para se proteger dos sofrimentos. Estamos respirando. Alongando. Sentindo e expressando suas dores. Camada por camada. Respeitando o ritmo da vida expressiva. RESGATE DE AMORES E DORES RECALCADOS PELO TEMPO!!!
MATAR? NÃO!!! ( AMOR UNIVERSAL).
Quando pequenina adorava os almoços lá em casa. Minha mãe sabia cozinhar como ninguém! Lembro dos cozidos que ela preparava com alguns legumes e muito músculo bovino. Cozinhava até quase derreter. Eu achava uma delicia! Ela sabia juntar alguns temperos incríveis.. O gostinho da manjerona no arroz com frango, não dá pra esquecer! Naquela época eu gostava da carne branca do peito do frango. Me lambuzava de tanto prazer. E bisteca de porco? Quando ela preparava dava água na boca! A comida dela era famosa! Sempre tinha muitas carnes nas refeições. Das mais variadas formas. Meu pai era muito carnívoro. Criança normalmente não associa a morte do animal com a alimentação. Pra mim era só comida! Por outro lado sempre adorei animais. Tinha gatos e cachorros com quem eu convivia e brincava muito. Eles representavam para mim fontes de afetos importantes. Vivi a minha infância num lar natural e feliz. Meus pais amorosos e muito presentes. De vez em quando eles brigavam feio, mas, eu sentia que eles se amavam. Depois das brigas sempre se beijavam! Minha mãe era um poço de ciúmes e inseguranças. Hoje posso compreendê-la. Meu pai era danado e mulherengo. Tocava instrumentos de sopro. Respirava música. Trabalhava durante as noites. Chegava em casa ao amanhecer. Lembro que ele sempre trazia alguma guloseima pra me agradar. Era muito carinhoso comigo. Em seus ensaios, lá em casa, tocava as músicas que eu mais gostava. Foi através dele que tive a experiência transformadora para a minha vida! Quando eu tinha nove anos de idade, numa manhã de domingo, meu pai tinha acabado de chegar do trabalho. Trouxe uma galinha viva! Ela era de um lindo marrom dourado. Quando acordei para ir à igreja e vi aquela ave ciscando em meu quintal, fiquei muito surpresa e feliz. Achei demais! Fiquei um tempo fazendo carinho na cabeça dela. Ela parecia gostar tanto! Até cheguei atrasada para o culto. Quando o culto terminou voltei correndo para chegar logo em casa. Nem chamei minha priminha para brincar, como eu sempre fazia. Cheguei esbaforida. Minha mãe fazendo o seu tradicional almoço de domingo. Estava um aroma delicioso! O ar de casa estava inundado de temperos! Estimulou a minha fome, mas, naquele momento, era mais importante eu rever a minha ave amiguinha! Já tinha até pensado num nome pra ela: “LUZ”. Corri para o quintal. Estranhei ! Ela não estava mais lá. Fiquei com medo que tivesse fugido. Era muito fácil fugir daquele quintal. Aquelas cercas tinham espaços tão abertos! Ansiosa fui perguntar à minha mãe se ela não tinha visto a “LUZ”. Percebi uma expressão estranha em seu rosto. Não gostei! Quando ela se expressava daquele jeito tinha algo ruim pra me contar. Seu lema era sempre me falar a verdade. Nunca mentir! Isso ela soube me ensinar muito bem. Com muita sutileza me explicou o que tinha acontecido. Falou sobre a cadeia alimentar e tudo o mais… Desabei! Não queria acreditar que os adultos matavam cruelmente os bichinhos que eu tanto amava. Desatei a chorar. Minha amiguinha marrom brilhante tinha sido transformada sem piedade, num almoço de domingo. Foi a primeira vez em minha vida que associei “morte de animais” com pratos suculentos! Não queria aceitar que matar animais fosse necessário para suprir nossas necessidades alimentares. Achei que não era bom ser gente grande. Muita insensibilidade!!! Por um bom tempo fiquei magoada com os meus pais. Não tinham o direito de terem feito aquilo! Eles conversaram muito comigo tentando explicar todos os motivos que levam ao consumo de carne. Não aceitei nenhum. Sempre tive uma personalidade forte! Nunca mais quis provar nenhum tipo de carne. Minha mãe respeitou. Passou a me oferecer variedades de grãos, verduras, legumes e frutas de montão! Me tornei uma mulher saudável e com muita energia, sim! Os animais tem o direito à vida! Assim como os humanos eles também tem a capacidade de amar e trocar afetos. Culturalmente os nossos sentidos se acostumam com o cheiro, sabor e o incentivo do consumo da carne. Aprendi a educar o meus sentidos e sentir empatia. Não quero comer dor! Amo todos os seres. Quero trocar com o universo a energia lilás do amor! Lançada a campanha :” Segundas e Quintas, Sem carne”. Sou Vegetariana. Sou Paul McCartney!
O DOCE SABOR DA ESPERA! (PACIÊNCIA/CALMA).
Me chamo Sheila. Desde pequena me chamam de “Moleca”. Eu era muito arteira. Por isso minha mãe se preocupava demais comigo. Fui uma criança inquieta e não gostava de esperar por nada. Muito rebelde. Adorava aprontar! Precisei passar por momentos doloridos para assimilar os ensinamentos de minha mãe. Ela queria que eu buscasse ser uma pessoa mais tranquila e equilibrada. Sempre repetia que ter paciência e calma era uma grande virtude. Torna a gente mais forte e segura. Não imaginei como essas características seriam tão fundamentais em minha vida. Quando pequena, muitas vezes, eu pedia algum presente ou tinha algum capricho fora de hora; ela, sabiamente, me ensinava a esperar. Dizia que era importante postergar algumas vontades e prazeres. Falava que depois seria até mais gostoso o sabor da realização do desejo. Na época, eu não entendia muito isso. Me revoltava. Fazia birra. Ela com ternura e firmeza, na maioria das vezes, não cedia. Só depois da adolescência, fui internalizando esse padrão mental e percebendo que isso me conduzia a situações bem resolvidas, tanto no psicológico quanto no aspecto físico. “Saber esperar e ter paciência”. Quanta sabedoria! Houve um acontecimento traumático quando eu tinha onze anos de idade. Mudaria rumos em minha vida. Precisei como nunca seguir os ensinamentos de minha mãe. Foi numa tarde de sol, no quintal da casa de minha avó. Lá estavam Mônica, Felipe, André e eu. Todos os meus amiguinhos queridos! A gente tinha mais ou menos a mesma idade. Combinamos brincar de cantar em cima do galho de uma das mangueiras. Escolhemos a mais alta! Era um lugar incrível! Dava vista para um vale maravilhoso. A gente avistava também todas as árvores frutíferas do pomar e a chaminé soltando fumaça do fogão à lenha. Cheiro delicioso . Um convite ao jantar. Sensação de liberdade e poder! Além das mangueiras, tinham laranjeiras, macieiras e jabuticabeiras. Até pé de jaca! Estávamos no outono. Aquele vento frio da tarde balançando os galhos! Arrepiava. Arrepio gostoso! Naquele dia, a gente não parou nem pra ir tomar o lanche da tarde. Lembro de minha avó, chamando com insistência, lá da porta da cozinha. A gente gritava bem alto que já iria. Mas criança é egocêntrica, mesmo! Parece que se desse uma pausa na brincadeira, o mundo iria acabar! Até porque logo ia anoitecer, a gente queria aproveitar ao máximo. A brincadeira consistia em cantar músicas que falassem de um tema escolhido pelo grupo. Segurando numa corda, amarrada num dos galhos, a gente subia e cantava lá em cima. Nossa, como estava divertido! A palhaçada rolava. Além de cantar, tinha que fazer malabarismos corporais. Expressar a canção. A graça era manter o equilíbrio. Quando chegou a minha vez de cantar, eu subi normalmente. Já tinha uma certa experiência naquilo. Lá em cima, não sei porque, comecei a me sentir tonta. Percebendo que não estava bem, me segurei forte na corda. Dei um jeito de sentar no galho. Meus amigos, assim que perceberam a situação, foram rapidamente chamar a minha avó. Só ficou o Felipe comigo. Ele subiu até onde eu estava tentando me ajudar. De repente tudo ficou escuro. Só sei que acordei numa cama de hospital. Sem poder andar! Fiquei internada por longos meses. Sai de lá numa cadeira de rodas! Soube depois que caí e causei danos à minha coluna. Felipe, desesperado, não conseguiu me segurar lá em cima. Ele sofreu muito com tudo isso. Se sentiu culpado. Foi um período muito difícil. Amadureci na marra! Já se passaram quinze anos desse dia fatídico! Durante esse período muita coisa aconteceu. Os meus amigos se mudaram. Nunca mais os vi. Só restou o sensível Felipe. No começo, ele resistiu muito em ir me visitar; não tinha coragem. Soube que por um bom tempo se deprimiu e chorou muito. Imaginem, eu tive que consolá-lo! Busquei sempre ter força e batalhar. Esperar a vida melhorar. Aprendi a encarar com otimismo os desafios que a vida tem me trazido. Tenho encontrado muitas formas de ser feliz e iniciar projetos pessoais jamais sonhados. Lancei um livro auto-biográfico há quatro meses. Esta indo muito bem! Estou cursando psicologia. Sempre me interessei em conhecer os movimentos do psiquismo humano. Essa viagem interna tem me realizado muito. Grandes planos à vista! Felipe se tornou meu melhor amigo. Me dá a maior força! Ele terminou o curso de engenharia naval e já esta pensando em fazer seu mestrado ano que vem. É uma graça de homem! Um pouco ansioso. De vez em quando me sufoca com atitudes generosas e controladoras. Nesses instantes, busco sentir calma e paciência. Lembro sempre de minha mãe! Mostro a ele aspectos importantes e necessários para a saúde de nossa amizade e companheirismo. Ele por sua vez me ensinou a ser organizada e construir projetos em cima dos sonhos. Nos últimos tempos notei Felipe meio estranho. Cheguei a me preocupar que ele tivesse percebido a paixão oculta que sinto por ele há tanto tempo! Tudo ficou mais iluminado para mim, neste último fim de semana. Estava rabiscando o meu segundo livro na sala de estar. Coloquei som de jazz pra relaxar. Preparei suco verde pra estimular as energias. Pensava num tema que viesse das entranhas. De repente, a campainha tocou. Fui olhar pelo olho mágico pra ver quem era. Não acreditei! Era o Felipe! Eu estava toda descabelada. Ele não poderia me ver assim! O que será que ele queria? Meu coração disparou e decidiu. Num impulso, não pensei duas vezes. Abri a porta. Encontrei um par de olhos brilhantes e muito tesão no ar! O céu se fez presente. Valeu a pena esperar!
SORRISO MASCARADO (DEFESAS DO CARÁTER).
Cristiano, na infância, era considerado um menino triste. Não conseguia ter amiguinhos, nem mesmo na escola. Vivia isolado e criando brincadeiras solitárias nas horas em que não estava estudando. Esse menino triste, aos dez anos de idade, resolveu ter como companhia os “livros da biblioteca da escola”. Desta forma poderia conseguir amiguinhos imaginários e preencheria sua enorme carência. Escolhia os temas que estivessem em pauta em suas fantasias e os mencionados pelos seus professores. Assim foi se desenvolvendo intelectualmente. Paralelamente, foi estudando muito. Entregou-se, compulsivo, à leitura dos livros da biblioteca da escola. Tornou-se o melhor aluno da classe. Todos os colegas começaram a perceber que ele existia. “Como é difícil se livrar de um apelido”! Principalmente um pejorativo. De “orelhudo esquisito”, passou para “orelhudo esperto”. Um novo rótulo. Tinha orelhas de abano!!! Na verdade ele não se incomodava com isso. Até gostou do novo apelido. Afinal era uma nova identidade. Reconhecia alguma qualidade boa nele. Ficou mais extrovertido. Mudou seu jeito, ao extremo. Começou a falar alto. Rir em exagero! Como foi dando certo, achou que assim ficaria mais atraente e divertido. Chamaria mais a atenção das pessoas. E, de certa forma, estava certo. Passou a ter mais companheiros. Virou um palhaço. Fazia piada de tudo. As gargalhadas eram frequentes, até quando sem motivo. Na realidade conseguia companhia, mas tinha muita dificuldade de desenvolver amizades verdadeiras. Ter um amigo do peito! Só amizades frágeis! Terminou o colégio. Fez faculdade de publicidade, não perdendo o seu jeito “aparentemente” feliz de viver a vida. Cristiano tornou-se um publicitário de prestígio e se resolveu muito bem financeiramente. Muito sucesso entre as mulheres e homens. Nunca se entregou a um Amor de verdade! Socialmente tinha a vida muito preenchida. Emocionalmente se sentia um lixo. Havia um buraco em seu coração que ele tentava preencher, mas não conseguia. Passados sete anos de grande ascensão profissional, com trinta anos de idade, entrou numa terrível depressão. Teve que se afastar do cargo, sob licença médica. Não entendia o porquê desse sofrimento. O sorriso, que era tão frequente, foi sepultado. Perdeu o interesse profissional. Momento caótico! O menino triste renasceu. Só que desta vez foi muito pior. Cristiano não conseguiu criar nenhum recurso para se refugiar. Logo ele, tão criativo! Trancou-se em casa. Trancou-se em si mesmo. Perdeu o interesse pela vida. Só queria ficar na cama, de pijamas e mal cuidado. Sem apetite! Em quatro semanas emagreceu quase oito quilos. Transformou-se numa caricatura de si mesmo. Irreconhecível! Não queria ver ninguém. Só aceitava a companhia de seu gato angorá, presente de Bruna, antiga namorada. Depois de quase um mês nessa condição deplorável, Bruna soube, através de amigos, o que estava acontecendo com Cristiano. Ela ainda era apaixonada por ele. Vivia tentando reconquista-lo. Jogava charme e sensualidade o quanto podia. Sem êxito! Para Cristiano a paixão tinha se acabado há tempos. O gato angorá ficou como o único vinculo entre eles. De vez em quando, Bruna ligava para saber do “gato”. Ultimamente Cristiano nem atendia mais o telefone. Preocupada, Bruna resolveu ir visita-lo pessoalmente. Queria ver com os próprios olhos o que estava acontecendo com ele! Chegando lá, não se conformou com o que viu. O seu querido daquele jeito? Isso não! Mulher de atitude e obstinada, resolveu ajuda-lo. Mesmo com forte resistência dele. Fez papel de mãe, mesmo!!! Colocou-o no chuveiro bem quentinho. Aqueceu uma toalha macia e felpuda, para que ele se sentisse acolhido após o banho. Afinal aquela tarde de outono estava gelada! Depois foi para o fogão e preparou a sopa de legumes mais saborosa que conseguiu. Fez torradinhas no alho e suco de laranja. Arrumou uma mesa linda. Colocou até flores coloridas para alegrar o ambiente. Cristiano, assim que terminou o banho, sentiu o aroma que vinha da cozinha. Estava irresistível! Num segundo, recordou das sopas deliciosas que sua mãe preparava. Sensações sinestésicas! Acho que era uma das únicas coisas boas daquela época em que vivia fechado nele mesmo. Essa lembrança de prazer e a energia nova que estava sentindo com a presença de Bruna , despertou nele a vida escondida no peito. Lentamente foi até a adega. Pegou a garrafa de vinho que há muito tempo havia guardado para uma ocasião especial. Desta vez o sorriso veio do coração. BRINDARAM À VIDA!!!