Carolina é uma moça de quarenta anos. Bonita, charmosa, carente e muito sonhadora. Seus lindos olhos verdes expressam sensualidade e mistérios. Desde muito jovem, já machucava corações! Sempre teve muitos admiradores a seus pés. No entanto, caprichosa e compulsiva, acabava provando do próprio veneno. Nunca foi feliz de verdade. Se sentir desejada e atrair olhares masculinos. Gulosos! Isso alimentava a sua carência e o seu ego. Não é que ela quisesse todos os homens para si. Simplesmente, gostava, apenas, de atraí-los. Se sentir poderosa! Desejada. Teve dores e perdas também! Nunca soube lidar bem com isso. Sua fala nunca expressava seu coração. Sempre teve muita articulação verbal. Desde criança era muito tagarela. Não teve um bom contato afetivo com seu pai. Ele era só um bom provedor. Estava longe de ser considerado o pai desejado, afetivo. Homem de negócios. Sobrava pouco tempo para a filha. Em constantes viagens pelo mundo, na maioria das vezes, só levava sua mulher como companhia. Carolina foi criada por babá. Nesse quadro de ausência de contato, só restou à ela fantasiar um pai poderoso, viril e sedutor! Cresceu com esse modelo interno de homem. Paralelamente desenvolveu, inconscientemente, sensação de rejeição e impotência emocional. Ficou uma mulher insegura. Quando adulta, procurou homens que se enquadrassem no modelo do pai. Só que não conseguia se envolver. Para ela, isso virou uma brincadeira divertida. Atrair homens até se sentir muito desejada. Atingido o seu objetivo, eles eram descartados. Friamente! Quis a vida que ela que com trinta e cinco anos conhecesse Mateus, rapaz, assim como ela, muito sedutor. Longe de ser o homem idealizado. As atrações nasceram da carência e poder de sedução que ambos tinham de sobra. Foi nessa frequência energética que iniciaram um romance. Não tinham maturidade emocional suficiente para bancar uma relação saudável e encarar a vida. Por cinco anos, Carolina conseguiu se manter fiel a essa paixão. Caso raro de acontecer. Ela fez muitos sacrifícios tentando não estragar o sonho de ser feliz com Mateus. Afinal, foi o único em que ela apostou de verdade! A rotina de um casamento pede uma estrutura psíquica pra sustentar os problemas do dia-dia. O pior de tudo isso foi a enorme expectativa que Carol depositou em Mateus. Ele, dentro de seus escassos recursos culturais e de formação profissional, fazia o possível. Não conseguia bancar a vida com dignidade. Ser o provedor do lar e agradar essa mulher-criança. Ela, por sua vez, queria viver num castelo encantado, como havia sonhado. Esse aspecto infantil fez com que eles não “arregaçassem as mangas” e fossem à luta. Batalhassem os projetos da vida. Não conseguiram mudar. Nem crescer. Carolina retornou às conquistas baratas e supérfluas. Achava que dessa forma a vida ficaria mais leve e divertida. Não queria responsabilidades! A sedução era a arma mais certeira que tinha contra os homens. “Eles que sofressem”. Mereciam sofrer. O Mateus continuava apaixonadíssimo por ela. Ultimamente ele estava sentindo Carolina muito estranha. Calada. Com um brilho novo no olhar. Ficou desconfiado! Coitado do Mateus! Transparecia em sua imagem o medo de perder o seu amor. Mas ele se achava um homem forte. Macho! Tinha que tirar isso a limpo. Numa tarde, fingindo estar no trabalho, resolveu checar seus temores. Esperou Carolina ir à academia. Sorrateiramente a seguiu. Dirigindo o seu carro com pernas trêmulas e suando frio! Tinha maus pressentimentos. Conseguiu não ser visto por ela. DEUS! Não podia acreditar em que seus olhos estavam vendo!!! E agora??? O TERREMOTO ACONTECEU!!!
CORAÇÃO INIMIGO! (TRANSTORNO DE ANSIEDADE).
Ultimamente, meu coração tem me incomodado muito. Até parece que é meu inimigo. Não consigo nem mais conversar amigavelmente com ele. De uns tempos para cá, ele começou a disparar, de repente. Parece que vai saltar pela boca. Fui num excelente cardiologista, indicado pelo meu dentista. Precisava saber o que estava acontecendo comigo. Morro de medo de ter um infarto fulminante! O bandido do meu coração gosta de acelerar! Como se não bastasse, concomitantemente, vinham suores frios nas mãos, amortecimentos em algumas partes do corpo e um aumento da pressão arterial. Isso tudo acompanhado de um enorme pavor de morrer. Não dava mais pra continuar assim! Logo que cheguei no cardiologista, não sei porque, piorei. A minha pressão subiu muito. Pensei que ia morrer ali mesmo. Comecei até a tremer. A enfermeira, vendo meu quadro, antecipou o atendimento. Finalmente, estava frente a frente com o meu possível salvador! Doutor Alex. Calmo e sorridente. Fazia uma tarde típica de primavera, no dia da consulta. O médico, bem descontraído, iniciou um diálogo sobre as lindas flores do ipê dourado que tinha bem em frente a janela do consultório. Carregadinho de flores! Irradiava um dourado energético pelo ambiente. Aquele visual e a voz calorosa do médico conseguiram mudar meu foco ansioso. Senti a respiração mais calma… Funcionou como um remédio. Meu coração foi retomando a serenidade que já nem lembrava como era… Quase não acreditei. Voltei a respirar normalmente! Fiquei intrigada. Ele nem tinha me examinado ainda. Eu nem tinha falado de meus sintomas; de todos os meus problemas. Parecia uma mágica! No meio dessas sensações, de repente, o vento da primavera soprou pétalas das flores do ipê, bem em cima da gente. Foi uma sensação incrível!! Enquanto o doutor se ajeitava em sua cadeira, caiu uma daquelas florzinhas douradas no dorso de sua mão. Me chamou a atenção a delicadeza e sensibilidade que ele teve com a pequena flor! Naquele momento eu pude ver sua alma! Num rítmo tranquilo, retomou a conversa. Queria saber de minhas alegrias. De minhas andanças. De meus amores… Comentou que uma moça “tão bonita” devia ter muitas histórias interessantes pra contar!!! Toda essa conversa descompromissada me fez muito bem. Quando ele, finalmente, quis saber sobre a minha queixa, eu já tinha quase me esquecido do tremendo mal estar dos últimos tempos. Doutor Alex, claro, fez os exames de praxe. Terminou a consulta me dizendo que eu tinha que fazer as pazes comigo mesma. Que o meu coração estava muito zangado, por eu não deixar ele se expressar. O meu quadro era psicossomático. “TRANSTORNO DE ANSIEDADE”! Esse quadro emocional era o gerador dos inúmeros sintomas que estavam me torturando nos últimos tempos. Disse que eu não era cardíaca. Nossa, que alívio! Essa era uma das minhas cenas temidas. Terminando a consulta, me senti mais segura. Com muita esperança de finalmente ter encontrado o caminho da cura. A receita do médico foi simples e direta: muitos alongamentos, respiração, exercícios aeróbicos e uma boa psicoterapia. Saí do consultório mais leve. Caminhando pela avenida, fui sentindo a brisa da tarde acariciando todo o meu corpo, mostrando como a vida pode ser bela. Num momento seguinte, subitamente, o meu coração tentou brigar comigo, novamente. Quase entrei em desespero. Rapidamente resgato a imagem do ipê dourado e da sensação de cura que ele causou em mim. Fui melhorando novamente. Aquelas flores tem poderes! Dourado no coração, combina mais comigo!
TIMIDEZ! (VORACIDADE INTERNA)
Desde criança, ouvia comentários que eu era uma menina esquisita. Não entendia muito o porquê disso. Afinal, eu me esforçava para ser simpática e educada com todas as pessoas. Mas, não tinha jeito. Hoje entendo. Eu era muito fechada. Não conseguia me expressar emocionalmente. Isso me causava muitos sofrimentos e conflitos. Na minha cabeça, simplesmente, me sentia sem saída. Não tinha a quem recorrer. Foi muito louco. Desenvolvi, como padrão mental, que os adultos faziam complô contra mim! Eles me detestavam!!! O tempo foi passando e chegou a adolescência e com ela muitas mudanças internas e externas. A máscara de boazinha foi paulatinamente sendo substituída por atitudes irreverentes, mais ousadas e ameaçadoras. Adorava transgredir! No colégio me juntei a uma turminha que tinha o apelido de “abelhas selvagens”! Me fortaleci. Finalmente me sentia com uma identidade forte. Curioso que fui convidada a participar desse grupo, justamente num momento em que me sentia extremamente fragilizada e humilhada por alguns alunos. Na saída das aulas, na porta do colégio, começava o bullying! Faziam gozação com minha altura exagerada e minhas longas pernas. Imaginem uma adolescente de catorze anos, cheia de espinhas na cara, com um metro e setenta e seis de altura e muito magra. Apelidos é que não me faltavam. Só se referiam a mim como “Girafa Espinhenta” e “Perna de pau”! Eu não tinha amigas e os meninos zombavam de mim. Num certo dia estava, como sempre, sozinha, distraída, comprando pipocas carameladas. Assim que fui provar o caramelo da pipoca, de repente, ouvi gozações e risos muito altos. Eram vozes de meninos. Debochavam da minha imagem e do meu andar. Falavam alto que não sabiam que girafa comia pipocas!!! Foi demais! Não aguentei, minhas pernas ficaram moles e escondendo o choro. Fui me sentar num banco do jardim da escola. Ali, eu desabei! Comecei a chorar como uma criança pequena. Soluçava baixinho. Em minha mente surgiram aflições vividas na infância. Me sentia abandonada! No meio dessa situação de profunda rejeição, senti uma mão firme, tocando em meu ombro. Delicadamente me convidou a sair dali. Era Elisa, o meu Anjo da Guarda, que até então desconhecia. Líder da classe e respeitada por todos. Me surpreendi. Achava que ela era tão insensível, assim como os outros! Mas não! Ela, com firmeza e doçura, tocou em meu ombro e me consolou. Fez com que eu me sentisse especial e me convidou para fazer parte de seu grupo. Nossa! Foi tudo que eu precisava! Fui me fortalecendo e conquistei uma nova identidade na escola e entre os meninos. Até melhorei minhas notas. Acho que foi porque fiquei mais segura. Aprendi que ser boazinha só para agradar aos outros é uma auto sabotagem. Que devia buscar expressar o que sinto diante das circunstâncias da vida. Elisa se tornou minha grande amiga e, de certa forma, foi o meu modelo. Tinha uma família estruturada e pais muito presentes. Aprendi muito com ela. Lá em casa todos se chocaram com a minha transformação. Minha mãe, em sua ignorância, achava que mudei por causa da idade. Ela nunca me compreendeu. Nunca foi minha amiga. Também, coitada, sempre foi tão calada e submissa! Como o tempo voa, meu Deus! Nem sei porque me vieram todas essas lembranças bem agora. Já se passaram quinze anos! Deitei aqui na rede, só para dar uma relaxada. Viajei lá no meu passado. Nossa! Olho no relógio, já são quase oito horas da noite. Isso me acorda para a realidade. Tenho que me apressar. Elisa daqui a pouco vai passar aqui. Hoje a noite promete!
NÃO SOU ASSASSINA! (REAÇÕES INCONSCIENTES).
Neste último fim de semana, resolvi mexer em fotos antigas. Fui até as gavetas da cômoda de meu quarto e revirei tudo em cima da cama. Nossa, acho que tinha mais de duzentas fotos! Ali estava a história de minha vida. Quantas lembranças! Alegrias e dores me vieram à mente. Me vi no colo de minha mãe. Tão bebê! Ela parecia estar feliz, naquele momento. Tinha um certo brilho em seu olhar! Expressava uma imagem que eu nunca mais pude encontrar nela. A cada foto que caia em minha mãos, eu parava um pouco e tentava me transportar para aquele momento. Buscava sentir a emoção que brotava em mim. Parecia uma viagem. Estava literalmente mergulhando em todo o meu passado. Algumas fotos me despertavam mais emoções. Numa das fotos, reencontrei o meu pai, jovem e muito charmoso. Ele era bem o meu tipo de homem! Hoje, entendo todo os ciúmes de minha mãe. A mulherada não se segurava. Nem queria saber se ele era casado. Era um homem atraente e expressava muita sensualidade. Minha mãe sofreu muito com ele! Na verdade, ela vivia tão infernizada que mal tinha tempo para mim. Recordo dela brigando, gritando… Até o agredindo fisicamente. Coitada! Lembro da minha impotência diante das crises deles. Isso foi durante toda a minha infância. Eu sofria demais, com toda aquele situação. Ficava assustada e insegura. Tinha muito medo de perder os meus pais! A cada briga deles, eu me escondia atrás da porta. Lá me sentia protegida daquela violência. Era um clima de horror! Assim que as brigas passavam, enquanto minha mãe se entregava à bebida, eu pegava o meu gatinho Nino e corria para o quarto. Ele sim era meu amigo! Lá, a gente brincava muito, muito! Fazia de conta que ele era meu filhinho. Penteava suavemente seus pelos macios e brancos. Conversava muito com ele. Na maioria das vezes, adormecia abraçada com o Nino. De vez em quando, quando minha mãe se recuperava de sua loucura, ia me acordar e me contava uma história. Eu sempre senti ausência de contato em seu olhar. Ainda dizem que criança não percebe essas situações! Ela até tentava me proteger, mas, pouco conseguiu. Hoje eu a entendo! Ela era muito fragilizada! Fiquei traumatizada com o relacionamento doentio de meus pais. Eles já faleceram há alguns anos! Cresci pensando em nunca me envolver com nenhum homem. Nunca ter um filho! Me transformei num mulher insegura com medo de amar e não ser feliz. Fiquei com a sensação que relacionamentos só geram ansiedades e sofrimentos. Destroem a mulher. Sempre desconfiei de todos os homens! Namorei alguns. Nunca me apaixonei. Tenho trinta anos de idade. Neste momento de vida, estou desesperada! Num intenso conflito! Descobri que estou grávida de um rapaz sensual, Gabriel, com quem fico de vez em quando. Ele diz ser apaixonado por mim. Não acredito nele! Evito entrar nesse assunto. Gosto de sua pele e seu cheiro. Só isso! Nunca quis compromisso e nem envolvimento. Quase morri com a notícia da gravidez! Como assim? Sempre tive tantas precauções!!! Adoro criança e não quero ser mãe! É um paradoxo em minha vida. Marquei o aborto! Minha culpa está avassaladora! Tenho me sentido uma bruxa! Uma verdadeira assassina! Acho que por isso fui remexer as fotos, lá na gaveta da cômoda. Buscar algum motivo para, talvez, deixar aflorar desejos reprimidos. Reparar dores do coração. Confesso que as histórias revividas repaginaram algumas sensações ancoradas na tristeza! Alguma coisa mudou. Ando sonhando acordada, desde o começo dessa semana. Quando penso numa nova vida se desenvolvendo dentro de mim, o mundo tem ficado mais colorido. Acho que a ambivalência chegou ao fim! Nesta manhã, recebi um telefonema da clínica :- “RESPONDI UM SONORO SIM À VIDA”!!!
FANTASIAS DE MULHER CARENTE! (CONTATO COM A REALIDADE)
Sou Carla! Quem se atreve a me julgar? Sou casada e traio “emocionalmente” o meu marido. Tenho fantasias com outros homens. Acho que entrei na idade da “loba”! De uns tempos para cá, me surpreendo com pensamentos em cenas íntimas e românticas com personagens criados em minha imaginação. A primeira vez em que isso aconteceu, foi após uma briga feia que houve entre eu e o Ricardo, meu marido. Ele foi tão grosseiro que tive ímpetos de pular no pescoço dele! Claro que não cometeria esse ato insano. Não sou louca e nem burra! Um metro e noventa de puros músculos! A rotina, a falta de criatividade e contas a pagar, foram amortecendo os meus sentimentos por ele. Acho que eu esperava muito desse casamento! De certa forma eu consegui. Tenho a “LUNA”, uma filha maravilhosa, a cara do pai. Ao mesmo tempo em que ilumina as nossas vidas, também representa um obstáculo a realizar os meus sonhos de mulher. E olha que são muitos! Mas Luna está acima de tudo para mim! Por ela eu morro! Quando aprendi a me refugiar em minhas fantasias, o mundo ficou mais colorido. Em minha cabeça, encontrei uma forma secreta de me manter feliz e não destruir a minha família. Era tão engraçado. Muitas vezes me peguei provocando o Ricardo só para ele ser agressivo e eu poder criar em minha mente um personagem capaz de satisfazer meus desejos de mulher e eu não sentir culpa. Sei que atrás desse comportamento desequilibrado, que surge em nossas brigas, existe um homem tentando se fortalecer para se sentir mais admirado e com uma melhor auto-estima. Acho que por isso sinto culpa. Nem sei se ainda o amo. Só sei que preciso sonhar e realizar desejos enquanto me sinto “VIVA”! Muitas vezes me critico e me acho imatura. Nesses momentos volto à minha lucidez. Enxergo a realidade. Valorizo mais o meu marido e consigo até sentir tesão por ele. Assim passamos curtos períodos de “felicidade”! Dali a pouco todo o inferno se repete. Num desses períodos de guerra fui ao supermercado. Estava numa banca de produtos naturais, distraída; ouço uma voz rouca e máscula me perguntando sobre os morangos incríveis que ali estavam expostos. Levantei os olhos e vi a personificação de meus sonhos. Tremi. Gaguejei! Nem me lembro o que falei, só sei que Fábio, esse era o seu nome, passou a ocupar o meus pensamentos, perigosamente. Alimentei esse perigo por seis meses. Foram momentos platônicos! Quando nossa “amizade” foi ficando muito ameaçadora, resolvi dar um basta. Eu não poderia destruir meu casamento por uma fantasia. Acho que foi o contato com a realidade mais sofrido que vivi. Tive que fazer uma escolha. Sentia que aquela sonho não tinha bases na realidade. Fábio era quase um adolescente! Eu uma mulher de quarenta. Me afastei! Fiquei mais exigente e adulta com o meu marido. Ele com medo de me perder mudou muito! Se conscientizou e se assustou com minhas mudanças de atitudes. O meu casamento foi se tornando mais feliz. Menos brigas. Mais respeito! Acho que estamos amadurecendo. Vejo minha filha mais segura. Vivendo mais alegre os seus nove anos de idade. Acho que me ancorei numa fase de crescimento e auto realização. Voltei a estudar jornalismo. Estava noutro dia na lanchonete da faculdade, senti um tocar leve em meu ombro. Reconheci aquela voz rouca e máscula. DESTA VEZ EU NÃO TREMI!!!
BONECA DE CERA! ( DESPERTAR DO CORAÇÃO).
Desde criança sempre fui muito independente. Cresci buscando viver a vida do meu jeito. Me tornei um tanto individualista. Aprendi com minha mãe que isso era saudável e me facilitaria buscar caminhos desejados. Assim, eu fui dando muito certo nos estudos, na minha profissão de engenheira agrônoma e na vida social. Sempre estudei muito. Dei o sangue no meu doutorado. Recebi o conceito máximo! Procurava não me envolver com problemas que não fossem meus. Nunca desviar o foco. Egocêntrica mesmo! Só pensava no meu desenvolvimento profissional e social. Namoros, relacionamentos? Não cabiam em minha agenda. Nunca me apaixonei. Fiz sexo esporádico, sem envolvimentos. Me tornei um ” robô humano”! Dificilmente chorava. Aprendi que chorar era dos fracos. Nem mesmo quando a minha mãe morreu. Afinal eu não podia desconcertá-la! Desse jeito fui desenvolvendo uma atitude de negação emocional e muita rigidez de caráter. Se eu falasse “não” à uma determinada situação, jamais mudaria de opinião. O modelo materno se encaixou como uma luva no meu jeito de ser. Tinha uma amiga, Maria, que me apelidou de ” BONECA DE CERA”! Dizia que eu era bonita e insensível. Eu achava graça e dizia que não era bem assim. Confesso que as vezes isso me incomodava. Ela vivia paixões, sofria, sorria, chorava… De certa forma eu achava aquilo muito estranho. Alguém ficar sofrendo por alguém! Não via necessidade nisso. Fui ensinada a ser prática e deletar tudo que podia me tornar emocionalmente dependente. Também aprendi com minha mãe a nunca prejudicar ninguém. Ter muita responsabilidade sobre os meus atos. Com essa consciência, tirei minha carta de motorista aos dezoito anos de idade. Nunca bati o carro. Estou com vinte e nove anos e considero que dirijo muito bem. Segunda feira passada, indo à academia para fazer os meus alongamentos costumeiros, dirigindo o meu carro, meio distraída no celular, de repente escutei um forte barulho. Como se tivesse passado em cima de algo pesado e grande. Parei imediatamente para ver o que havia acontecido. Fiquei chocada! Estirado no chão, um belo “labrador dourado” tremia, evidentemente em choque. Senti um aperto no peito! Naquele momento, não pensei em nada. Só queria salvá-lo. Sorte que bem em frente ao acidente, havia uma clínica veterinária. Corri pra pedir socorro. Nesse momento chegou um homem forte, alto, moreno, de cabelos negros e encaracolados. Estava visivelmente preocupado e tenso. Começou a acariciar o focinho de seu amigo “FRED”. Tudo foi muito rápido. Nisso o veterinário chegou e com muito cuidado transportou o cão para a clínica. Em seguida entramos eu e o dono do labrador. Para alívio, o diagnóstico foi o de apenas uma leve lesão nas patas traseiras. Ficaria imobilizado por um curto espaço de tempo. Poderia ter sido muito pior! João, o dono do labrador, ouviu com calma as minhas desculpas e a intenção de assumir todos os gastos. Ele foi tão delicado e sensível. Tocou em algo dentro de mim! Foi uma sensação muito boa e nova! Assim que o cão, Fred, foi liberado, quando fui acertar os gastos do tratamento, tive outra surpresa. João, seu dono, já havia pago a conta. Fiquei brava, disse que não era justo. Essa conta era minha! Insisti, mas não teve jeito. Meio sorrindo e desconversando, sutilmente, ele quis saber mais de mim. Trocamos telefones e olhares. Pela primeira vez na vida, senti um frio na barriga por um homem! Foi gostoso e esquisito. Fiquei assustada e pensando muito nesse homem. Tudo isso aconteceu na segunda feira passada. Passei a semana com muita vontade de vê-lo novamente e quem sabe, tomar um sorvete na “Parque das Árvores”, pertinho aqui de casa. Fiquei curiosa e intrigada com a sua delicadeza e sensibilidade.. Queria saber mais dele. Comentei sobre João com minha amiga Maria. Ela não acreditou. Disse meio gozando: “Acho que você foi fisgada, boneca de cera!!! Nunca vi você se empolgar por ninguém!”. Foi a primeira vez que eu não fiquei brava, quando ouvia esse comentário. Na verdade estou ansiosa. Comendo muito chocolate amargo!!! Hoje já é sexta-feira e nada dele me ligar. Me peguei pensando: será que já se esqueceu de mim? Será que devo ligar pra ele? E se ele nem quiser falar comigo??? Meu coração está disparado. Parece que vai sair pela boca! Busco meu lado racional pra me socorrer. Pego o meu celular. Mãos tremendo! Decido ligar e acabar com esse conflito! ALÔ! QUEM FALA? É O FRED OU O JOÃO?!!! Muitos risos do outro lado da linha!!!
não ficaria bem. É o homem quem tem que ligar! Na natureza dele é de caça. Fiquei confusa, instável e de certa forma me detestando, por estar fragilizada por alguém que nem conhecia. Ao mesmo tempo, me sentia mais viva, pulsante e com vontade de sair dançando pela vida afora, só de imaginar um encontro com ele!
ESCOLHAS! (ESTOU ONDE ME COLOCO).
Desde pequena sempre ouvia a minha mãe falar da importância de comer saudavelmente. Naquela época, eu não entendia bem o que isso significava. Lembro-me, com quatro anos de idade, sentada numa cadeirinha de madeira, pintada de amarelo com a mesinha azul, presente de meu avô, minha mãe insistindo pra eu experimentar um prato de salada muito colorido. Achei bonitas aquelas cores enfeitando a minha mesa. Lembro de pegar minha boneca “Liza” e lhe dar, com a mão, pedacinhos da salada. “Come, filhinha, comidinha boa!”. Quando fui provar o gosto daquele alimento, estranhei e não queria comer. Minha mãe, depois de insistir muito e perceber que eu não aceitava, com muita paciência e criatividade, pegou minha bonequinha em seu colo e, juntas, limparam o prato. Aquilo me intrigou. Quis imitar minha mãe; afinal, eu já estava ficando mocinha! Tudo o que ouvia, repetia pra minha “filhinha”. Dessa forma, fui aprendendo a me alimentar com mais qualidade e entendendo os “porquês”. Claro que, muitas vezes, como qualquer criança, eu ficava emburrada e infeliz por querer o que a televisão mostrava com tanta atratividade. Minha mãe adorava cozinhar e isso foi um dos motivos dela estudar os alimentos e suas consequências em nosso organismo. Assim , fui crescendo com muita saúde e energia. Já na escola, tive uma amiguinha que sempre levava de lanche pães, bolachas e muitos doces. Nunca uma fruta ou legumes, como eu fazia. Em pequenas doses, eu também comia doces e pães, mas era a minha mãe quem fazia, de forma natural. Ela colocava mel, era uma delícia! O tempo passou, mudei de escolas. Nunca mais vi a minha amiguinha de infância. Fiquei moça, entrei na universidade. Me formei em psicologia. Me especializei na importância dos alimentos do corpo e os da alma. Estou feliz com as escolhas que fiz na vida! Neste último fim de semana resolvi ir ao cinema, assistir a uma comédia e rir um pouco; estava uma noite tão linda! Tive uma surpresa incrível. Estava também na fila de entrada, a amiguinha que foi tão querida por mim. Na verdade, ela quem me reconheceu. Eu tinha reparado numa mulher muito acima do peso, em minha frente. Como a vida traz algumas coincidências, só o destino explica! Caiu da mão dela um chaveiro, bem pertinho de meus pés. Percebendo sua dificuldade em se abaixar, pra resgatar suas chaves, rapidamente me abaixei para ajuda-la. Assim que me levantei, encontrei o mesmo sorriso e par de olhos de Laura, a antiga amiguinha, dos tempos da escola. Fiquei confusa e só fui identificar quem ela era, quando, num gesto de alegria e saudades, ouvi dela: “não acredito no que está acontecendo! Quanto tempo!”. Num abraço choramos como duas crianças. Depois de todas as sensações gostosas que esse encontro provocou, decidimos, em vez de entrar no cinema, ir a um barzinho próximo, colocar a conversa em dia. Foi maravilhoso sentir tantas emoções e resgatar uma amiga. Percebi nesse nosso encontro o quanto ela ainda se alimenta muito mal. Entendi a causa provável de sua obesidade mórbida. Minha amiga não está feliz! Acho que tenho uma missão. Nosso reencontro não foi por acaso. Laura precisa de ajuda!!!
FUGIR? NEM PENSE NISSO! ( SENSAÇÕES E DORES REPRIMIDAS).
“Qualquer hora irei embora. Preciso de ares novos! Vou procurar ficar longe desta loucura que você representa em minha vida”. Esta é a cena que meu psiquismo trazia do meu coração, incessantemente. Aquele olhar de “mar”, parecia um castigo a me torturar. Vinte e quatro horas por dia. Envolvia todos os meus sentidos, roubando a capacidade de ser eu mesma. Vivia anestesiada. Isto não era bom! De vez em quando me sentia compulsiva, obsessiva! Fechava os olhos e só enxergava os seus. É como se tudo ficasse verde! Naquela noite de quarta feira, quinze dias depois de você assassinar o nosso casamento, muito carente e sozinha, resolvi abrir o melhor vinho tinto que estava reservado para uma ocasião especial. Devia esse presente a mim. Peguei uma linda taça de cristal que minha avó tinha deixado, há muitos anos. Me joguei na rede pendurada na varanda. Dei asas à imaginação. Comecei a saborear aquele vinho, me balançando pra lá e pra cá, num movimento harmonioso e calmo. O sabor de cada gole, misturado ao sentimento de apatia que sentia dentro de mim, despertava lembranças e histórias vividas. Mesmo assim, não teve jeito. Os meus sentidos dançavam no verde sem parar! Então, assim como uma criança resolvi pintar de verde todos os pensamentos e cenas que surgissem em minha mente.Talvez assim, o verde de seus olhos se escondessem de mim. Parecia uma loucura! Devagar, a garrafa foi ficando vazia e eu, muito tonta, adormeci na rede. Até altas horas. Acordei no meio da madrugada com uma certa dor de cabeça e uma desejo insistente de ligar para o meu amor. Briguei com a minha vontade. Seria insano. Me Culpei. Não! Não poderia fazer aquilo. “Ele me deixou na porta do altar”! Quase me suicidei! Cadê a minha sanidade? Como ficaria a minha auto- imagem? Realmente!!! Esperei na varanda o dia nascer. Seus olhos verdes continuaram ainda me atormentando a alma! Resolvi fazer um café fresco e ligar para minha ex- terapeuta. Marcamos uma conversa para aquela manhã mesmo. Estava muito infeliz, não conseguia me livrar daquela angústia. Foi a melhor atitude que tomei. Assim que cheguei lá, me deitei no divã. Ela trabalhou a minha respiração com alongamentos sutis que provocassem descontrações musculares no corpo todo. Durante esses exercícios foram surgindo novas imagens e emoções bloqueadas que eu não tinha conseguido expressar, até então. Chorei muito! Esbravejei! Xinguei! Urrei como uma leoa ferida à morte! O verde olhar que perseguia a minha mente foi substituído por um “vazio escuro”, vindo das entranhas. Me permiti sentir toda a intensidade da mágoa e raiva que ficaram bloqueadas no dia em que quase me perdi!
DOENÇA SOCIAL! ( DESCONEXÃO EMOCIONAL)
Nos tempos em que vivemos, o estímulo exagerado ao consumo, através das redes sociais e mídias, está provocando desequilíbrio emocional e muita ansiedade nas pessoas. Há uma mensagem subentendida que o “TER” qualifica o “SER”! Aqueles que tem poder aquisitivo e conseguem comprar tudo, ou quase tudo, são os poderosos e vencedores. São capazes de serem mais felizes. Exatamente nesse ponto, pode começar a fuga de si mesmo. Responder aos apelos externos, sem consultar o coração! A maioria das pessoas na sociedade funciona assim. Muitas vezes são pessoas que receberam esse tipo de educação. Foram orientadas a buscar fama e sucesso financeiro, somente, a qualquer custo. Ignoram suas vocações e dons. Seus valores essenciais estão baseados no crescimento social, não permitindo desabrochar desejos e sonhos reprimidos. As pessoas que entram nesse tipo de crença e escolha, isoladas de seus sentimentos genuínos, com o passar do tempo, podem perder a força e a alegria de viver. Podem entrar num vazio interno intenso, capaz de destruir a sua alma e identidade. A VIDA PEDE MAIS! O adoecer normalmente se dá, lentamente, de várias formas. Desde um psicológico desequilibrado, com diversos sintomas emocionais até quadros somáticos. Para os que já foram vítimas e querem se auto resgatar, buscar uma terapia é um bom caminho. Amplia a consciência! Permite desenvolver o auto- conhecimento, facilitando escolhas conscientes . Respiração, alongamentos corporais e uma alimentação saudável, leve e natural, são possibilidades que ampliam a integração. Aproximam sensações genuínas e prazerosas com as formas com que se deseja estar no mundo. A resposta para a cura vem de dentro, não de fora! SUCESSO É CONSEGUIR DISCRIMINAR O QUE INTOXICA A ALMA E DESINTEGRA O SER!!!
A SEMI LOUCA ! (NEGAÇÃO)
Sou Maria. Nasci negra e linda, há vinte e cinco anos! Cresci numa família amorosa e com muito contato afetivo. Minha mãe, uma pessoa forte, charmosa e negra, assim como eu, foi o meu modelo de mulher! Soube fazer na vida tudo aquilo com que sonhou. Meu pai, um alemão alto e bonito, de olhos azuis, sempre foi apaixonado por ela. Viviam aos beijos, mesmo estando juntos há tantos anos. Pareciam recém-casados! As pessoas sempre falavam que eles eram “almas gêmeas”. Realmente ela teve muita sorte de ter encontrado o Amor de sua vida, ainda muito jovem. Imaginem vocês, ela engravidou com apenas dezessete anos. Uma menina! Meus avós, seus pais adotivos, seres humanos maravilhosos, queriam muito que ela completasse os estudos. Se preocupavam muito com o seu futuro. Não queriam vê-la casada tão cedo. Mas não teve jeito! Voluntariosa e determinada, decidiu assumir a sua gravidez e o homem de sua vida! Eu soube, através das histórias que a família contava sobre meus pais, que eles tiveram muitas dificuldades no início do seu casamento. Meu pai, também jovem, vinte e dois anos, ainda nem tinha completado a universidade. Dava aulas de matemática para eles sobreviverem. Minha mãe, mesmo comigo bebê, deu continuidade aos seus estudos de pedagogia. Formou-se e foi crescendo profissionalmente. Mesmo assim ela arranjava tempo para estar muito presente em minha vida. Lembro que, quando eu era menina, a gente brincava juntas, de boneca, como duas crianças. Era tão bom! Quantas saudades! Nossa, ela era uma pessoa tão natural, intensa! Seus olhos expressavam a alma. Fui crescendo. Fiquei a cara dela. Só herdei o sorriso de meu pai. Parece que deu certo. Sempre gostei de olhar no espelho e me sentir o máximo! Quanto ao meu pai, fez muito sucesso na engenharia, carreira que seguiu com competência e determinação. Se resolveu profissionalmente. A única coisa ruim eram as longas e constantes viagens profissionais. Eu e minha mãe sentíamos muito a falta dele. Minha mãe contava os dias. Quando ele retornava, era uma festa! Ele também chegava com a alegria de um menino ! Porém, existem coisas que quero um dia perguntar à DEUS! Há cinco meses , em uma dessas viagens, numa noite chuvosa, recebemos um telefonema no meio da noite. Foi a notícia mais trágica que podia chegar. Meu pai tinha sofrido um acidente na estrada e perdeu a vida!!! Enlouquecemos. A dor intensa desfigurava a minha alma. Minha mãe desmaiou! Depois desse momento, me deu um “branco mental”. Fiquei sem ação. O meu mundo emocional se virou de cabeça para baixo. Desde de lá, estou tendo “transtorno de ansiedade”. Fico muito mal. Respiração acelerada.Tonturas que alternam com dores no peito. Mal estar geral. Não me reconheço. Pensei que estava cardíaca. Os médicos me acalmaram. Estou indo a um psicólogo. A terapia está me mostrando que tenho que me reorganizar e continuar… Preciso me restabelecer! Ainda tenho uma negra maravilhosa, que, pela dor profunda, parece uma “semi- louca”. Ela nega a morte de seu Amor! Todos os dias, à noitinha, se arruma toda e senta na varanda. Espera que ele volte. Não quer ouvir ninguém. Não aceita nenhum tratamento. Só aceita o meu carinho! Depois de esperar até a exaustão, meio adormecida, consigo que ela vá para a cama, bem abraçada a mim. As nossas dores se cruzam por instantes! Tento sair rapidamente desse estado emocional, antes que eu também fique na varanda à espera de meu pai!!!