Desde criança, fui considerado muito sensível. Acho que foi por isso que minha mãe, mulher muito prática, tratou logo de resolver o problema do jeito dela, me internando num colégio de padres. Muito rigoroso. Com nove anos de idade, fui afastada de minha casa. Foi violento para mim! Adorava brincar com meu gato, jogar botão com primo, sentir o cheiro das comidas que minha mãe fazia. Tudo foi arrancado de mim, abruptamente. Ninguém quis saber qual era meu desejo. Aliás, meu pai era um ausente. Não tinha voz para nada. Dominado pela minha mãe. Ela quem controlava tudo. “Criança não tem querer”! Dizia que disciplina rígida é construtiva. “Eu iria amadurecer mais rápido e não choraria mais como menininha”. Ela foi cruel comigo! Não considerou meus anseios, meus temores e o quanto eu sentiria sua falta. Me senti abandonado, rejeitado. Não teve jeito, fui separado de minhas fontes de afeto! Quando cheguei naquele seminário, estranhei tudo. Era tão frio! Vivi momentos terríveis Sobrevivi. Realmente, fui parando de chorar; e de expressar emoções! Paralelamente, desenvolvi um quadro mental muito rígido. Durante noites mal dormidas, angústias vinham em formas de medo intenso e insegurança. Esse medo foi sendo encoberto por uma raiva intensa. “Senti muita rejeição”! Desenvolvi a necessidade de ser o melhor em tudo. Comecei a funcionar como um robô! Não havia mais espaço para o “SENTIR”. Fui me enquadrando naquele ambiente frio e sem afeto. Passei a ocupar o primeiro lugar da escola toda. Usava todo meu tempo com estudos e futebol. Arrasei! Me destaquei. Todos me admiravam e respeitavam. Eu parecia uma máquina humana! Meu ego se alimentou com o sentimento de orgulho. Sobrevivi! O tempo foi passando. Minha mãe, muito ausente por todo aquele período. Fazia visitas bimestrais ou trimestrais. Eu sofria calado. Imensas angústias em formas de pesadelos, intercalando com períodos de depressão! Me tornei extremamente competitivo. Com todo esse sucesso, fui convidado a escrever peças para o teatro de lá. Adorei! Aproveitei a chance para soltar “meus demônios” internos. Fui me expressando. Transgredindo regras rígidas através dos roteiros que desenvolvia para o teatro. Serviam como válvula de escape dos meu conflitos. “Me transformei num transgressor de regras do internato”. Com dezessete anos fui expulso. Fui considerado uma ameaça aos valores daquela instituição. “Melhor notícia de minha vida”. Finalmente iria ter liberdade e seguir um caminho que fosse escolhido por mim. Saí daquele inferno! Nunca perdoei a minha mãe pelo abandono. Acho que ela nem percebeu! Vivia envolvida com valores externos e fúteis. O status social sempre foi o que ela priorizou. Continuei com meus estudos, me formei em publicidade. Arranjei emprego. Dezenove anos, saí de casa. Hoje, aos trinta, sou profissional de publicidade, bem sucedido. Ganho dinheiro suficiente para ter conforto. NÃO SOU FELIZ! Nunca me apaixonei por ninguém. Nem por homem! Nem por mulher! Muitas dificuldades, com afetos e vínculos. Há uns dois meses comecei a ter um pesadelo recorrente. Está me incomodando muito! No pesadelo, sou criança perdida num deserto, com frio e tremendo muito. De repente começo a gritar desesperadamente. Acabo chorando muito! Acordo com taquicardia e suores frios. (Andei lendo, ultimamente, textos sobre a ansiedade). Acho que esse mal me pegou. Não ando bem emocionalmente. Quando alongo e respiro, sinto certo alívio no peito. “TALVEZ O HOMEM ROBÔ FAÇA AS PAZES COM O MENINO CHORÃO”!
O MOMENTO SEGUINTE!!!? ( NEUROSE)
Me chamo LOLA. Ando com a cabeça quente. Não sei se vale a pena continuar meu longo namoro com Ricardo. Estou cansada de tentar entender todas as neuroses dele. Ele vem de uma família muito repressora. A capacidade de expressão emocional foi bloqueada e só foram alimentados valores externos, desconectados do “EU”. O foco era crescer no profissional, tornar-se uma pessoa importante e ganhar muito dinheiro. Como se isso bastasse para alguém ser feliz! No começo do nosso namoro, não consegui perceber o quanto ele era rígido, crítico e destruidor de felicidade. Entendo que ele foi uma vítima, mas decidi que não quero me tornar vítima também. Quando a nossa intimidade aumentou, emergiu esse ser neurótico, desprovido de sentimentos de carinho e respeito, esperados do homem que se ama. Estive tentando ser companheira, compreender, amenizar e superar conflitos. Sempre esperava mudanças de sua atitude, extremamente agressiva, com reações desproporcionais aos fatos do dia a dia. Meus sentimentos pediam pra reconsiderar cada briga, esperando que ele melhorasse. Estou num momento emocional que busca integrar coração com razão. Toda vez que desculpo o Ricardo de suas grosserias infundadas, sinto que me saboto e engulo seco mais outra mágoa. Não adianta os momentos de sexo quente e suas juras de amor eterno. Me cansei. Estou perdendo minha identidade. Não dá mais! Estive pensando que, se eu continuar a alimentar esse padrão de relacionamento, estarei tão desequilibrada quanto ele. Entendi que a base de toda relação saudável deve ser o respeito e a cumplicidade. Divergências de opiniões e posturas fazem parte! Desrespeito ao outro, nunca! Vai matando a paixão. Me ajudaram muito algumas leituras, comprovando que o desgaste emocional constante pode diminuir nossa imunidade trazendo doenças emocionais ou físicas. Ponderando entre o Amor que ainda sinto pelo Ricardo e as Mágoas dessa nossa relação, penso em lhe propor a última chance e tentar preservar a nossa união. “TERAPIA DE CASAL”. Se ele concordar, talvez a gente veja novamente juntos o ipê amarelo florir!
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA! ( MACHISMO/COVARDIA)
Sou Cláudia, psicóloga. Exerço a função de psicoterapeuta num grupo de trabalho social que cuida de mulheres, vítimas de violência masculina, dentro de suas casas. Os casos de agressões absurdas que chegam até mim revelam uma enorme falta de equilíbrio, amor e respeito. A grande maioria desses “machistas” foi também vítima de pais também machistas. Eles ensinaram, pelas próprias atitudes, que esse modelo fortalece um homem! Esses filhos também sofreram muito! De algum jeito, cada um deles teve a sua primeira natureza bloqueada.Tiveram que desenvolver padrões de caráter alterados e doentios, acreditando que, assim, seriam fortes e admirados. Os valores primordiais do ser humano que correspondem à sensibilidade, empatia e generosidade ficaram recalcados em algum ponto de seu interior. Semana passada chegou até mim a jovem BETH, trinta e dois anos, mãe de um bebê de nove meses, casada com LUIZ, homem socialmente gentil, muito simpático e brincalhão. Na intimidade, “um monstro”! Ela relatou que, simplesmente, era submetida a torturas psicológicas e físicas, sempre que ousava não concordar com ele, em qualquer situação. Beth, durante a sessão, enquanto falava de seu sofrimento, ergueu a blusa e expôs marcas da mais recente violência de que foi vítima. Motivo banal: ousou atrasar o almoço do MACHÃO! Ele nem quis saber o motivo. Nem deixou ela explicar que o bebê deles tinha ficado a manhã inteira enfebrado, por causa de uma infecção na garganta. Ele tinha chorado muito. Só se tranquilizava sendo embalado no colo, com canções de ninar! Na hora em que seu marido chegou para almoçar, o neném tinha acabado de ser medicado e adormecera. Beth nem teve tempo de colocá-lo no berço. Luiz, descontrolado, não vendo a mesa posta, começou a vociferar palavrões, de baixo calão, ofendendo-a de todas as formas. Mal Beth tentou se explicar, ainda com o bebê no colo, recebeu um bofetão no rosto e caiu no chão com a criança. Teve o cuidado instintivo de o proteger com os seus braços! O bebê acordou super assustado, chorando muito. Nem essa cena abalou o desequilibrado marido. Estava como num surto. Não conseguia ouvir nada. Só sabia agredir, verbal e fisicamente. Como um monstro, pegou o filho do colo da mulher e o jogou no berço. Em seguida, despejou todo o ódio de uma vida em cima de Beth. Empurrou-a contra a parede, arrastando-a pelo cabelo, até o fogão. Dizia que ali era o lugar dela. Nem o ” TOTÓ”, o cãozinho que presenciava tudo, foi poupado. Num gesto brutal, o “machão” deu-lhe um pontapé no traseiro. O pobre cachorrinho correu dali, chorando muito. Depois deste filme de terror, o insano LUIZ saiu de casa deixando dores, choros e gemidos, como se nada tivesse acontecido. Sempre contou com o silêncio e o medo de Beth. Desta vez foi diferente. Decidida a não passar nunca mais por essa situação criminosa, enfrentou seus medos e foi direto buscar ajuda na justiça. Foi assim que a conheci. Saindo da nossa consulta, ela prestou queixa na delegacia da mulher. Não iria mais se submeter ao seu algoz. Ele não sequestraria mais a sua identidade! Jurou nunca mais ser prisioneira dele e nem de ninguém. Emergiu uma nova mulher no momento em que ela reconheceu que “estamos onde nos colocamos”! A ampliação da consciência é o único canal saudável, que dá chance de buscar e desenvolver integração entre auto-imagem e auto-estima. Na verdade, a fragilidade de um machão troglodita emerge diante de uma mulher forte, que se ama e sabe o que deseja para si.
MEU OLHAR SEM ESPELHO! ( RECONSTRUÇÃO)
Hoje está sendo um dia especial em minha vida. Estou numa conversa muito íntima comigo mesma. Um diálogo franco. Revelador! (Aproveitando o momento de um certo tipo de jejum, para desintoxicar o corpo e a alma)! Ficar por vinte e quatro horas à base de frutas e muita água. Nada de comer grãos, doces ou farinha branca. Como sou vegetariana e não como carne de espécie alguma, não é tão difícil! Está sendo o meu primeiro jejum. Pretendo fazer muitos outros. Olho no relógio, já está no meio da tarde! Estou começando a me sentir levemente atordoada. Não é ruim. Dá até um certo prazer perceber o corpo expressando, limites e sensações. Estou indo relaxar na rede que fica estendida embaixo da laranjeira, aqui no meu quintal. É uma tarde morna de outono. Peguei um copo de água e vou colocar num banquinho ao lado da árvore. Colho uma laranja bem fresquinha, caso eu sinta fome! Finalmente, vou para a rede. Ufa! Pronto. Que alívio deitar! Fecho os olhos. Dou início à viagem interna. Aguardo um tempo, e vou entrando num estado de relaxamento profundo! Quero acolher sensações, memórias e pensamentos que emergirem. Mente relaxada… Estão chegando imagens e certas experiências emocionais que foram marcantes em minha vida. Nossa! Momentos engraçados. Até cômicos! Tantas brincadeiras! Saudades! Quantas pessoas que nunca mais vi. Hoje são estranhas! Apenas lembranças de um passado. Tantas as emoções! Meus pais estão aqui também. Aflora em minha mente tudo de bom que eu pude receber e viver com eles. Também o que não pude! O tanto que tive chances de retribuir à eles e ao universo, em forma de amor ou talvez raivas reprimidas. Chego a sentir culpa! Surge na memória as muitas vezes em que fui ingrata com a vida… Quantas emoções conflitantes! Estou lembrando de você AMOR. Dos beijos e abraços escancarados de paixão! Sinto tão forte a força daquele amor. Deus!!! Não teve jeito! Tive que te deixar. Não me pergunte o porquê. São muitas as circunstâncias que a vida apresenta! Foi melhor assim. Acredite! Quero me convencer disso a todo momento. Há um monstro dentro de mim. Ele quer me corroer a Alma. Que droga! Sinto dor de cabeça. A barriga se mostra presente, com uma sensação de fome. Pego a laranja super fresca que guardei no banquinho ao lado da laranjeira. Delícia! Nunca comi uma fruta tão gostosa! Acho que a fome está passando. Sinto o corpo leve. Só o bandido do coração não me deixa em paz! Está muito acelerado. Vou deixar a respiração cuidar disso. Inspiro! Seguro cinco segundos a inspiração. Expiro! Dou uma pausa rápida. Repito por nove vezes essa respiração. Esse exercício sempre melhora a minha ansiedade. Pronto! Estou mais calma; rever aquele amor?!? Só de pensar dá um arrepio na coluna!!!
AS MENINAS PELUDAS! ( AMOR INCONDICIONAL)
No último sábado, fiz um lauto jantar lá em casa, a base de deliciosas massas, regado a muito vinho (tequila, cerveja…). Era o encontro anual com meus antigos amigos da universidade. A festa foi ao som de muita música – rock, samba, música pop! Momentos de jazz e até de tango! Muita risada e alegria. Para se ter uma ideia, o jantar começou às nove horas da noite e foi até às cinco da manhã. Uma doidice! Júlia, amiga de sempre, fez dupla comigo nas brincadeiras que inventamos para agitar a noite. Criamos uma competição em pares. Cada dupla deveria tomar uma taça de vinho, num gole só, acompanhada de um copo de água. Terminando, deveria cantar uma canção de amor! No final, se escolheria a canção que mais havia mexido com os sentimentos de todos. Teve muita palhaçada e risos. Até rolou algumas situações repentinas de choros. Lembranças de amigos que partiram! Alta madrugada, cada um foi se despedindo. Voltei a ficar só em minha sala de estar. Me senti um pouco estranha, enjoo, boca amarga e muito sono! Tomei um chá de camomila, bem quentinho, para ver se melhorava. Antes que o sono me pegasse de vez, fui até a varanda buscar as minhas “meninas peludas”. Nessa altura já estavam acordadas. Jasmim, Oure, Rubi, Jade e a dourada Safira, assim que me viram, perderam o controle de tanta alegria. Uma euforia imensa. Parecia que não me viam há anos! Corri para o sofá. O cansaço era tanto! Nem deu tempo de receber os carinhos das “meninas”. Caí em sono profundo. Só acordei no meio da tarde, com muita fome. Assim que abri os olhos, me deparei com cinco pares de “olhinhos” curiosos, interrogativos, fixos em mim. Mal me mexi, senti o peso gostoso do amor. Eram tantos os beijinhos, beijões, abraços e muitos pelos voando, para todos os lados! Depois dessa experiência emocional gratificante, surgiu na memória queixas recentes de pessoas que se sentem sozinhas e infelizes. A resolução é tão simples! Repensei o que já sinto há muito tempo. Basta haver espaço no coração para se desejar o amor. Com certeza, ele irá fecundar. Dar e receber! Bases para a sobrevida do amor! QUER TENTAR?
O SORRISO DE HELENA ! ( REJEIÇÃO/ ACOLHIMENTO)
Helena teve a desventura de nascer numa família desestruturada. Pai analfabeto e alcoólatra. Sua mãe, Maria, tinha sido uma mulher bonita antes de se entregar às drogas e más companhias. Transformou-se numa caricatura dela mesma. Todos a chamavam de “A LOUCA”! Suas atitudes confirmavam esse triste apelido! Helena esteve muitas vezes morando com sua avó paterna, uma senhorinha simples, que fez o que pode pela menina. Sua avó adoeceu e Helena teve que voltar para a casa da mãe, que não se importava nem um pouco com ela. Quando Maria deu à luz à Helena, há nove anos , ela era uma pessoa melhor! Ficou feliz em ver aquele bebê lindo e saudável saindo de seu ventre! Loirinha de olhos verdes, pele rosada, parecia uma boneca de porcelana. Maria já tinha um outro filho, Felipe, dois anos mais velho que Helena. Felipe foi adotado por uma família rica, indo morar em outro país. Helena nem chegou a conhecer esse irmão. Assim que ela nasceu aconteceu essa adoção. A história de Helena chegou como uma denúncia anônima de maus tratos e negligência. Como assistente social do estado, tive a missão de visitar a “família de Helena”! Naquela tarde de primavera, ensolarada, quando cheguei na rua de sua casa, estacionei o carro na esquina e fui caminhando, procurando o endereço de Helena. Avistei umas meninas brincando, num canto de uma das calçadas daquele lugar pobre. Curiosa, me aproximei. Tentei avaliar a situação. O que vi cortou o coração! Quatro meninas brincavam animadamente, e, num cantinho do muro, uma outra menina, isolada, sozinha, aguardava ser chamada para brincar também! Seus olhinhos brilhavam de vontade. Percebi a rejeição dessas meninas em relação à linda loirinha rejeitada, sedenta de desejo de participar da brincadeira. Num momento, ouvi elas falarem entre si, que eram proibidas de brincar com a filha da louca. Me aproximei da loirinha linda, perguntei o seu nome e, num sorriso que nunca havia visto mais lindo, me disse chamar-se “HELENA”. Sentei-me ao seu lado e fui puxando conversa, tentando distrair o seu triste olhar. Perguntei sobre ela, ficamos rapidamente amigas. Até cantamos juntas a mesma canção que as outras meninas estavam cantando. Foi incrível como Helena ficou feliz! Depois de algum tempo, olhei no relógio e percebi que ainda não tinha feito a visita de inspeção de que me tinham incumbido. Fui me levantando pra me despedir. Helena pegou firme em minha mão e disse que queria ir comigo. Compreendi, naquele momento, o quanto essa criança estava carente de amor e cuidado! Minha maior surpresa se deu quando eu quis leva- la para sua casa e constatei que era o mesmo endereço em que eu tinha que fazer a visita de avaliação. Não deu outra! Me apaixonei por HELENA. Hoje ela é a minha filha amada. Cantamos juntas no jardim de nossa casa, embaixo da laranjeira! Até pardais tem vindo cantar com a gente!
AS IRMÃS! (REJEIÇÃO/INVEJA/PERDÃO)
Manuela nasceu quinze minutos antes que Gabriela: tão pequena diferença de tempo, tão grande diferença de personalidades. Nasceram de parto normal e rodeadas de muito amor. A mãe delas, Violeta, mulher sensível e muito afetiva, não cabia em si de tanta felicidade! Sentia-se como num conto de fadas. Tinha acabado de receber dos céus, dois lindos anjos saudáveis! Sempre narrava o fato de que, quando saiu do hospital fez questão de segurar as duas em seu colo, ao mesmo tempo. Tinha a preocupação de que nenhuma delas se sentisse rejeitada. Carlos, seu marido e pai das crianças, era “casca grossa” a seu ver, insensível. Grosseiro nos gestos e atitudes, demonstrando não ser o marido e nem o pai ideal, dessa família. Só se tornava um pouco mais macio, quando fazia sexo com Violeta. Ela já tinha se acostumado com essa situação! Os primeiros tempos, depois que as gêmeas nasceram, como é natural, foram muito difíceis para essa mãe de primeira viagem. Ela se perdia e se desgastava demais, tanto emocionalmente, quanto fisicamente. Queria suprir tudo, principalmente para as meninas. “ESQUECEU DE SI PRÓPRIA”! Não se deu conta de seu tempo e nem de suas necessidades como mulher. Sabia que seu marido tinha casos com outras mulheres, mas, tentava não dar tanta importância. Disfarçava na frente das meninas. Chorava no travesseiro. Noites de solidão! Essa situação durou a eternidade de longos doze anos! Nessa fase, as meninas, pré adolescentes, já tinham se contaminado por todo um clima familiar angustiante. Manuela, mais observadora, se tornou revoltada, rígida e extremamente ressentida. Gabriela, diferente da irmã, se construiu em uma pessoa mais serena, compreensiva e amorosa. Violeta não entendia o porque dessa diferença; afinal, ela se dedicou da mesma forma a seus “dois amores”. Próximo de completar treze anos de casamento, Carlos, pediu o divórcio! Foi um “DEUS NOS ACUDA”! A família se desestruturou de vez! Violeta estava acostumada com crises, mas nunca imaginou uma separação! Se desesperou! Tentou disfarçar e não deixar as meninas sofrerem. Gabriela, quando soube da separação, chorou muito! Ficou triste, mas entendeu que talvez fosse melhor para todos. Se afundou em leituras de livros emocionais. Buscou entender os sentimentos contraditórios que, muitas vezes, inundava a sua alma. Continuou seus estudos. Se apaixonou por psicologia e decidiu que seria psicóloga. Ainda na faculdade conheceu o amor de sua vida. Homem sensível, bem apessoado e de bom nível sócio- econômico, que a tratava como rainha. Escolheu um modelo oposto ao seu pai! Se tornou uma mulher equilibrada e feliz. Manuela, por sua vez, que sempre teve menos capacidade de se expressar emocionalmente, na época da separação de seus pais, não derramou uma lágrima sequer! Jamais quis tocar nesse assunto com ninguém. Nunca mais falou com o pai! Manuela se transformou numa moça agressiva, obesa, muito fechada e de mal com a vida. Compulsiva por doces, principalmente, chocolates! O tempo passou! Estava já com vinte e quatro anos e nunca tinha se apaixonado por ninguém. Violeta sofria muito em sentir a sua filha nesse estado lastimável e cada vez mais distante da irmã. Percebia a inveja crescente de Manuela em relação a Gabriela. Tentava ajudá-la, mas tudo em vão! Quanto mais o tempo passava, mais aumentava o desespero dessa mãe. Enquanto que para Gabriela o amor era o prato principal da vida, para Manuela, o alimento era o rancor e ressentimento, escondido em seu coração. Não buscou entender e nem perdoar o seu pai! Ficou com uma profunda sensação de abandono e rejeição, ao contrário de Gabriela que, há algum tempo, sempre que pode, almoça com ele. Tem até sentido que embaixo da “casca desse pai”, tem uma certa doçura! Violeta, não suportando mais perceber a auto-destruição de Manuela, há quatro meses, marcou uma consulta num psicoterapeuta bem indicado nessas questões! Conseguiu que Manuela aceitasse o tratamento. Há dois aspectos importantes que ela está cuidando dentro de si – “AUTO- PERDÃO E O PERDÃO”! Entender que movimento destruidor é esse que transformou sua primeira natureza, lhe negando a capacidade de amar e ser feliz! Violeta? Está começando a florir novamente!!!
FILME DE UM CORAÇÃO (REFLEXÃO/ AMBIVALÊNCIA)
Tarde de outono, eu caminhando nesta avenida. Vento frio, folhas caindo pelo chão, já coberto de tantas outras folhas! Estou carente! Cheia de dúvidas e de algumas certezas. Sinto que preciso tomar um café bem quente. É reconfortante! Paro em frente a uma cafeteria acolhedora; nela está tocando uma música muito marcante em minha vida. Me sento à mesinha, bem no cantinho, em frente à janela. Daqui posso continuar olhando, na rua, a dança das folhas embaladas pelo vento. Ritmos e direções diferentes! Penso que é como se fosse uma pequena amostra dos movimentos da própria vida. Fico refletindo sobre isso alguns momentos! De repente, sinto um nó na garganta. Engulo firme. Respiro fundo algumas vezes. Alívio! Assim, eu aprendi a desfazer crises de ansiedade! Os pensamentos, as lembranças, voltaram em minha mente. Cenas de infância intercaladas entre amor e dor! A presença de minha mãe, em certos momentos, tão fragilizada e, em outros, tão forte! Surgem cenas de violências e agressões de um homem, presente como pai e tão ausente como marido. Acho que ele não foi tão culpado! Minha mãe enlouqueceu quando perdeu seu filho ainda pequeno. Não conseguiu superar a dor! Perdeu sua identidade de mulher. Naquele momento perdeu também o seu casamento feliz! Meu pai talvez não tenha sabido lidar com isso. Acho que ele estava preocupado com a sua própria dor. Foi aí que começaram as grandes brigas entre eles. Esse clima emocional dentro de casa me fez muito mal. Fui superando com terapias e muitos exercícios de respiração. Cresci, me formei e me tornei uma mulher “bonita e meiga” – canso de ouvir isso. Mas, ansiedade ficou latente em mim; em momentos de grandes stresses, traiçoeiramente, ela me ataca! Encontrei pelas minhas andanças, JOÃO, um homem cheio de charme e muito sedutor. Sabe o que quer da vida! Busca caminhos! Ele foi o que eu sonhava! Na minha fantasia era igual ao meu pai. Caminhamos juntos por longos anos. Uma paixão que queimava tanto quanto um sol intenso! Os dias passavam sem sentir o tempo. Foi assim por nove anos. Perdida nessas lembranças, de repente, sou interrompida pela garçonete trazendo o meu café , saindo fumaça! Resolvo e peço um pão de queijo crocante, que eles fazem aqui. Tomo um gole do meu delicioso café. Olho pela janela e percebo que começou a garoar. Sinto que a temperatura está esfriando! Tomo outro gole do café, pra me aquecer. Enrolo um cachecol no pescoço e volto às minhas memórias, como se elas fossem, neste momento, a única forma de preencher a minha carência. JOÃO! O que aconteceu com a gente? Babaca!!! PORQUE ME ABANDONOU?!!! A garçonete novamente interrompe meus pensamentos. Com um lindo sorriso diz:- Seu pão de queijo chegou!!! Quer outro café?
DESABAFO DE UMA AMIGA! (TRAIÇÃO/ REJEIÇÃO)
Dia destes, recebi um telefonema de LAURA, amiga antiga, muito amada. Estava desolada! O amor de sua vida, Carlos, foi embora. Ela o expulsou de casa. Flagrou o “mau caráter”, aos beijos, com outra mulher. Não queria acreditar no que viu! Suas pernas bambearam, começou a suar frio, coração disparou… Era o dia do aniversário dele, o cafajeste! Aniversário dele. Laura disse, aos prantos, que tinha acordado alegre e excitada, com a festa surpresa que tinha preparado para ele. Não queria que ele desconfiasse de nada. Como uma adolescente apaixonada, sonhava que ele pudesse sentir o tamanho do amor dela! Fez seu bolo preferido :- “abacaxi com ameixas” e brigadeiros gigantes, que ele tanto adorava. (Se lambuzava todo, como uma criança)! Pensou em tudo. Entrou em contato com os seus amigos de infância; todos aceitaram o convite. Estariam em sua casa às nove da noite! Sensível como é, Laura estava com uma certa angústia, apertando bem no meio do peito. Desde que acordou. Alguma coisa não estava legal. Tinha um pressentimento ruim. Tentou não dar importância. Pensou “talvez fosse coisa da sua cabeça”! Desviou os pensamentos. Mas, a sensação continuou continuou estragando parte de sua alegria. Um medo desconhecido! Naquela manhã do aniversário, no café da manhã, Laura percebeu uma certa distância no olhar de Carlos, tentou beija-lo com o ardor de quem está apaixonada e recebeu um simples “selinho” de bom dia. Estranhou! Negou novamente a realidade. Não queria estragar a festa. Não queria ouvir o seu sexto sentido! Durante o café, trocaram algumas palavras sobre o tempo e o lindo dia ensolarado. Tomando o último gole de seu suco de laranja, Carlos disse que se daria um presente. Iria andar de moto, ao sol! Ele adorava fazer isso. Prometeu voltar para o almoço. Assim que ele saiu, Laura novamente sentiu o maldito pressentimento! Num ímpeto, rapidamente, decidiu segui-lo. Tomou muito cuidado para não ser vista. Nossa, quase morreu! Avassalador o que presenciou. Carlos, parou a moto numa praça a uns trinta quarteirões de sua casa. Lá estava uma mulher atraente, de longos cabelos loiros, blusa vermelha bem justa, marcando os seios fartos e de calça jeans. Depois de trocarem beijos apaixonados, essa mulher subiu na garupa da moto e, juntos, voaram. Laura não sabe como sobreviveu! Por ter um caráter íntegro, leal, nunca passou pela cabeça de Carla, traição. Sempre confiou nele. Por isso não admitiu os sinais. Naquela manhã fatídica, nem sabe como conseguiu voltar para casa. Arrasada, desesperada, quase bateu o carro. Mas, finalmente sentiu que precisava fechar o ciclo. Encarar a realidade. Não dava mais pra fugir. Expressar a dor! Assim que a porta se abriu, quando o ele voltou, na hora do almoço, Carlos, não reconheceu Laura. A imagem calma, educada e meiga costumeira, se transformou numa feroz e desconhecida leoa. Carlos se assustou muito. Ficou petrificado! Definitivamente, Laura estava enlouquecida. Ele tentou se defender dos profundos arranhões que recebeu na alma. Não deu jeito! Entendeu que aquele ciclo tinha terminado para ele. Hoje, a menina meiga chora muito. Noites de terror. Mal dormidas. Fragilizada e insegura. Porém a leoa, não quer nem saber, rejeita-o e se possível o humilha. Sangue nos olhos! Carlos acordou tarde. Busca perdão, não quer perder o amor de Laura!” Culpa devorando Carlos. Mágoa, destruindo Laura! POR ONDE ANDARÁ O AMOR FERIDO?
CONVITE ASSASSINO! (AUSÊNCIA DE GROUNDING)
Flagrei a paixão de minha vida andando de mãos dadas, aos beijos, com uma outra pessoa. Isto não está acontecendo, eu pensei! Não podia acreditar naquela realidade. Como pode o “amor de minha vida”, me matando, tão cruelmente?!!! Perdi o chão! Perdi a razão! Orgulhosa como sou, não me expus. Com as pernas trêmulas, soluços incontidos e uma dor lancinante no peito, mesmo assim, fugi dali! Não daria o gosto dele me ver tão fragilizada, tão sem mim! Assim, enlouquecida, comecei a andar sem rumo, sem noção do tempo! Como se isso conseguisse afastar da angústia de morte que sente uma mulher traída. Depois de andar por muito tempo, consegui ouvir um som que gritava ainda mais alto que o meu coração. Entrei na balada! Muitas luzes! Muito barulho! Parecia que as pessoas estavam numa catarse! Ninguém enxergava ninguém! Eu não era ninguém! Apenas um número a mais naquela loucura desenfreada. Entrei naquele movimento frenético, também. Meus braços começaram a se levantar de um lado para o outro, como se eles fossem se soltar de meu corpo. Os quadris giravam! As pernas que estavam trêmulas, até então, pulavam do chão, restabelecendo a circulação energética perdida. Da garganta foi surgindo um som gutural e, como um índio, me entreguei toda! Não queria ser mais eu! Eu era o grupo! Assim se passaram duas horas, ininterruptas… Quando retomei a lucidez, estava sentada no chão com um rapaz tentando me beijar. Me assustei e reagi abruptamente. Me afastei dele. Seu rosto estava encoberto por barba mal feita. Cheirava álcool e maconha! Ele, um atrevido carente! Fingindo não entender que eu o rejeitei, me ofereceu droga e insistiu que pelo menos eu provasse! Fez um discurso de quanto ele achava aquilo libertador! Disse que percebeu a minha tristeza e que essa era a forma que ele conhecia de se aliviar o coração. Naquele momento, consegui olhar o ser humano que estava ali. Tinha mais ou menos a minha idade e sua atitude estava falando um pouco de suas dores. Percebi como ele estava pior que eu! Esqueci da minha ferida! Foquei naquele homem-menino. Que histórias o tinham conduzido para aquele caminho? Pensei em minha mãe. Mulher guerreira que insistiu em me ensinar a guerrear, ME AFASTAR DE DROGAS! Senti empatia! Senti com se fosse uma retomada de consciência! A força retomada! Me reapropriei de mim! Nunca mais olhei a cara do traidor! Retomei meus projetos de vida. Artur, o dono do convite assassino? Depois de um bom tratamento, desistiu de se matar! HOJE ELE ME LEVA AOS CÉUS!