Vem cá. Fala sério. Você também pensa em mim. Confessa cara! Talvez você seja um pouco mais covarde que eu, ou, quem sabe, mais equilibrado e maturo. Prefiro pensar que é mais covarde! Isso fortalece meus ensaios mentais em buscar formas de te procurar. Sempre me senti mais ousada que você. Segundo sua fala antiga, “mais atrevida”. Acho que tem razão, sim. Confesso que brigo muito pelos meus sonhos e planos. Não morro de medo de quebrar a cara e sofrer. Acho que vale a pena tenta desvendar afetos reprimidos. Perceber o sentido. Nutri-los ou não. Isso pode aliviar o peito. No mínimo é uma atitude que leva à uma resolução. Dá sentido à vida! Sabe, sinto que devemos sempre, ouvir pedidos de mudanças que gritam dentro do peito. Por outro lado, sei também, que o antigo e bem vindo “bom senso” não pode ser descartado, embora esse aspecto, muitas vezes, atrofie os desejos. Fazer o que? Porém, mesmo correndo o risco de ser rejeitada, quero enfrentar esse desafio. Talvez a luz de seus olhos claros é que me fortalece nessa coragem. Expressam tudo sem dizer nada. Eles falam de seu amor há tempos. Acho que conheço tão bem! Sei que me ama calado. Sei que não te ofereço essa mesma segurança. Disfarço melhor, talvez! Entendo seu medo em me procurar. Rejeição é algo muito sério em sua história de vida. Correr risco consciente de sofrer? Você não se permite. Rígido e conservador como é, prefere ficar sozinho! Pensando bem, acho que amanhã, a noitinha, vou te fazer uma surpresa. Quem sabe ainda dê tempo da gente caminhar contra o vento na areia da praia. Contar estrelas… Quem sabe… SONHO AGRIDOCE. GIRASSÓL NO CORAÇÃO!
A GATA NÃO PODE SER MANSA! ( SOBREVIVENCIA)!
Sabrina, moça morena, estatura pequena, energética, ingênua e introspectiva. Longos cabelos castanhos escuros. Meiguice cativante. “Aparente calma”. Internamente, um vulcão. Esse seu jeito de menina boazinha, engana muito. Personalidade forte! Enganou o esperto Otávio. Homem dominador. Adora ser o centro das atenções. Otávio casou-se com a “menina boazinha”, seduzindo-a com o seu charme psicopata. De início, foi fácil exercer domínio sobre ela. Sabrina tinha uma atitude submissa e apaixonada. Talvez por isso não se deu conta dos riscos emocionais que estava correndo naquela relação. Ela também se enganou a respeito de Otávio. Ficou cega! Entregou-se ao amor de tal forma que anulou a sua identidade. Fantasiou uma vida cheia de cumplicidade e respeito ao lado de seu escolhido. Sexo ardente dele, ia de encontro ao seu vulcão interno. “Lavas de prazer”! Enlouquecia naqueles momentos. Com o passar do tempo, essa embriagues emocional foi se atenuando e ela foi se conscientizando sobre o desiquilíbrio de Otávio nos detalhes do dia- dia. Sabrina foi se dando conta que pra conviver com ele, numa boa, ela teria que se auto- sabotar. Otávio, revelou- se num comportamento egoísta e controlador. A cumplicidade sonhada por Sabrina, esvaiu-se. Falta de respeito descabida à sua identidade de mulher, geraram conflitos desgastantes entre eles, alimentando em Sabrina, mágoas e ressentimentos. Ela foi se contendo, ficando Insegura, frágil e calada, cada vez mais. Em pouco tempo, começaram emergir sintomas físicos. Diferentes quadros de ansiedade e seus efeitos colaterais. A vida ficou muito ruim! Insuportável! Seu coração pedia socorro. Sabrina resolveu vir buscar ajuda terapêutica para se livrar desses “demônios internos”. Trouxe um sonho recente que a estava incomodando muito, martelando na cabeça. Sensível como é, disse que esse sonho fotografou o seu coração. Em sua queixa, trouxe uma ambivalência marcante! Não queria descasar-se. Tampouco continuar casada. Naquele esquema sem respeito. Não! Seu lado saudável não queria mais ser tratada como uma boneca de pano. Precisava resgatar a mulher guerreira adormecida dentro de si! Integrar a menina boazinha com essa guerreira. Sabrina, em suas divagações, ingenuamente, esperou que Otávio se transformasse no homem que idealizou. Pensou que o fato de suas peles quentes, conversarem e rirem juntas, na hora da entrega, seria o termômetro para um casamento feliz. Na verdade, essa festa dos sentidos enlouquecidos quando transavam, de certa forma, era a vilã na vida de Sabrina. Naqueles momentos apostava que ele era o homem de sua vida, no entanto, na convivência diária, mágoas iam se acumulando, ferindo sua dignidade e sua auto- imagem. Já nem sabia mais, se era amor o que sentia por Otávio
SONHO: – Sabrina estava acompanhada do primeiro cãozinho que teve na vida, “Veludo”. Ganhou de seus seus pais, ainda menina, em seu aniversário de sete anos. (Nesse momento, emocionada, Sabrina interrompeu por segundos o seu relato). Quis falar um pouco da história dela com Veludo: – Esse meu bebê, viveu longos anos ao meu lado. Pretinho, muito peludo. Mistura de vira lata com lulu. Lindo, lindo! Com quinze anos de idade, meio cego, escapou pelo portão entreaberto da casa onde a gente morava. Foi atropelado por um caminhão. Horrível aquele dia. Chorei igual criança. Nossa como sofri! Sempre que lembro dele, dói. Quinze anos de muito amor! (sic). Suspirou bem fundo! Depois de uns segundos, retomou o seu relato. (Continuação do sonho) :- Chegando ao prédio onde mora com Otávio, pegou o elevador, indo até o seu apartamento. Estava com Veludo em seu colo. Parou no andar. Distraída, abriu a porta do apartamento, e, surpresa, ouviu sons de vozes desconhecidas vindas da sala de estar. Assustou-se! Quem poderia ser? Discretamente, sem ser vista, deu uma espiada no ambiente. Visualizou pessoas estranhas, ouvindo descontraidamente músicas e bebericando. Na maior tranquilidade. Como se a casa fosse deles. Sangue esquentou na hora! Seriam amigos do Otávio? Como assim! Precisava tomar uma atitude e verificar quem eram esses intrusos. Assaltantes com certeza não eram. Estavam muito a vontade e descontraídos. Raiva! Muita raiva invadiu e esquentou o seu corpo todo, contrastando com mãos geladas. Seu impulso era acabar com aquela palhaçada toda. Não se entregou ao impulso! Precisava passar aquilo a limpo de forma equilibrada. Pensou em trancar Veludo no elevador, enquanto fosse abordar os intrusos. Queria surpreende-los! No momento em que foi tentar prender o cãozinho, Sabrina teve a sensação forte de claustrofobia. Parou imediatamente. Imaginou o sofrimento do cãozinho, preso lá. Segurou Veludo no colo. Foi então que, corajosamente, pernas tremendo, resolveu ir até a sala. Passou por eles. Nada aconteceu! Atravessou novamente todo o ambiente onde os desconhecidos estavam. Novamente, nenhuma reação deles. Sabrina duvidou dela mesma. Até se perguntou:-Será que virei fantasma? Foi então, que sensações assustadoras invadiram o seu corpo e foram se intensificando. Taquicardia! O coração batia muito alto e acelerado. Boca seca. Língua grudando no céu da boca. Nesse mal estar, com o sistema simpático aguçado, acordou. Abruptamente! Cabeça girando, girando! Pegou o copo com água que sempre deixa ao lado da cama (hábito antigo). Bebeu uns goles. Inspirou fundo. Várias vezes. Segurou um tantinho a inspiração. Repetiu novamente o exercício e paulatinamente voltou a respirar normalmente. (Esse exercício sempre funcionou quando está ansiosa). Pegou caneta e papel. Precisava anotar aquele sonho mobilizador!
Bem nessa época, Sabrina buscou ajuda psicoterapêutica por sentir-se desestabilizada emocionalmente. Desde da noite em que sonhou, coisas estranhas passeavam por sua mente. “Talvez Otávio não fosse o homem de sua vida”! Não estava feliz : – Por mais que eu tente sair dessa baixa auto estima, Otávio faz com que eu me sinta dependente, inferior e frágil. Um lixo”. (sic). Essa a sua fala ao iniciar a queixa, porém, ao mesmo tempo, dizia nutrir um sentimento forte e quente por ele. Não conseguia se imaginar longe de dele. Longe ou próximo desse homem, não estava bem! ( Ambivalente). Vozes internas gritavam sons em seus ouvidos que machucavam sua alma. O lado saudável de Sabrina, se recusava continuar naquela submissão opressora, anulando a sua identidade, cada vez mais. _ O sonho trazido, trouxe, simbolicamente, fragmentos da relação sufocante em que vivia com o narcísico Otávio. (Muito material inconsciente para ser trabalhado ao longo do processo). Em seu relato, Sabrina descreveu o marido como um homem extremamente individualista e sem respeito por ela. Tóxico! Por outro lado dizia, também, que ele sabia usar palavras doces e bem escolhidas, quando a queria reconquistar. Ela entrava sempre na conversa dele. Isso foi cumulativo. Ressentimentos, raivas de si mesma e sentimentos bloqueados intensificados foram o gatilho para ela pensar em mudar de vida e desbravar seu caminho interno e do auto conhecimento. Na nossa conversa, admitiu o erro em perdoá-lo constantemente depois de tantas ofensas e ataques a sua pessoa. Isto tornou-se recorrente. Reconheceu que a sedução de Otávio sequestrava a sua paz, bastava um simples aceno dele, e, lá estava ela, se entregando às enlouquecidas noites de amor. ” Uma linda boneca de pano, não uma mulher”! A cena do sonho, da claustrofobia, no momento em que “Veludo” quase foi preso no elevador, foi relacionada aos sintomas de ansiedade e sufoco que inúmeras vezes, quando estressada, invadem seu organismo. Reconheceu sua grande dificuldade em lidar com as contenções emocionais de seu peito. Na segunda cena- ( pessoas estranhas invadiram a sala de seu apartamento e ignoraram a sua presença), Sabrina relacionou ao sentimento de intensa raiva em sentir-se invadida em seu próprio espaço. Sem identidade! ( Desrespeito/invasão). Reconheceu essa mesma dificuldade no campo social. “Sonho terapêutico “! -Sabrina no final da primeira sessão, desabafou mais intensamente ainda, num pranto longo. Não suportava mais o jeito aversivo de Otávio. Queria se fortalecer e resgatar sua auto imagem e identidade. Como numa catarse vociferou tudo que estava guardado no peito. Desconsideração e desrespeito que estavam transformando a sua auto imagem cada vez mais, numa sombra, como a cena do sonho trazido. Estava claro que tinha chegado ao seu limite de tolerância em ficar nesse papel. Não seria mais a “boneca de pano” sem identidade e subjugada. Frase repetida Otávio nas horas de briga:- ” Mulher não tem que dar palpite em nada. Mulher irritante? Cama nela”! Fisgava sempre o ponto fraco de Sabrina. Vulcão interno queimando seu próprio coração. Ambivalência: AMOR E ÓDIO, CONSUMINDO!
SINFONIA DA VIDA! (COBRAS DISFARCADAS).
Desiquilíbrio psíquico. Não deu pra conviver harmoniosamente com Fausto. Esse sujeito quase me enlouqueceu. A trouxa, aqui, sempre perdoou suas atitudes insanas. Agora basta! Na rotina da vida é impossível suportar por mais tempo. O infame, não sabe o que é respeitar uma mulher! Escroto, como ele só. Sempre criticando, destilando seu veneno ácido, corrosivo. Faz isso como ninguém! Lentamente. Depois de uma noite de amor, ainda assim, é cruel. (Na hora do sexo, se regala. Surge um carneirinho manso). Passando a euforia do orgasmo, se transforma. Metamorfose total. Vira uma cobra venenosa, finca seus dentes pontiagudos na vítima mais próxima. Claro que sou uma perfeita idiota! Tenho consciência de que eu me coloquei nesse papel. “Estou onde me coloco”. Porém, agora chega! Às vezes me sinto como um inseto, preso numa enorme teia de aranha. Quanto mais tento me livrar, mas no emaranhado me sinto. Agora, basta! Já decidi. Ardilosamente buscarei sair dessa gangorra doente. ( Ardentes madrugadas seguidas por dias tóxicos). Andei hipnotizada pelos verdes olhos da cobra, brilhantemente disfarçados. Mel e fel que sugou minha energia. Buscando sobrevivência, descabelada, como louca, lambia o sangue que escorria das feridas, provocadas pela cobra dos olhos verdes. Lambia o meu próprio sangue! Gosto agridoce. Cobra brilhante, deixa estar. Você não perde por esperar. Ainda vou te pegar de jeito. Sem piedade, nem pudor. Suas escamas ásperas, aversivas, não me tocarão mais. Vai morrer de seu próprio veneno. A toca já está preparada. DESTA VEZ VOCÊ NÃO ESCAPA. NÃO MESMO!
MOCHILA DAS DEFESAS! ( DESPROTEGIDA).
Sonho recorrente:- Cilene Maria foi à uma festa. Lá haviam muitos convidados. Alguns deles bebericando e ouvindo músicas dos anos noventa. Festa apenas começando! Prometia muita animação. Cilene, distraída, num repente, se deu conta que tinha ido totalmente desnuda. Segurava em sua mão esquerda uma mochila vermelha com toda a roupa da festa. Morrendo de vergonha, tentava se esconder, evitando ser vista pelas pessoas. Encontrou solução rápida. Uma toalha branca de renda, enrolada sobre uma das mesas da sala onde se encontrava, foi a solução. Sem pensar muito, apressadamente, enrolou-se nela. Caminhou, disfarçadamente, pelos cantos do ambiente, procurando um lugar onde pudesse vestir a roupa da mochila. Um banheiro no fundo do corredor, foi a solução. Rapidamente, foi até lá. Constrangida e irritada, percebeu que estava ocupado. Na urgência, não querendo mais ficar exposta e correr o risco de cair no ridículo, andou em direção à um portão que dava num quintal arborizado. Lá, sentadas num banco, encostado na pitangueira florida, estava sua mãe, Rebeca, elegantemente arrumada, e, tia Maria, mulher muito simples, (ela não combinava com aquele ambiente sofisticado). Ela chamava atenção pela falta de adequação em sua vestimenta. Totalmente fora do ambiente da festa. Quando Cilene passou perto delas, ouviu a tia comentar sobre suas belas pernas expostas sob a toalha que a envolvia. Cilene, nem parou. Deu breve aceno. Continuou a buscar um lugar discreto para se vestir. Sentia-se extremamente ansiosa, naquela situação constrangedora. Queria muito se arrumar. Ficar bonita. Curtir a festa como tinha direito! Finalmente encontrou uma academia no fundo do quintal. Entrou acelerada. Coração disparado. Puxou o zíper da mochila. Emperrou! CILENE ACORDOU!
IINTERPRETAÇÃO: ( Sessão de psicoterapia).
O registro da história emocional de Cilene Maria, expressa fragilidade originada por intensas rejeições recorrentes de um ambiente familiar desestruturado. Filha única. Vítima de um pai ácido, exageradamente crítico e uma mãe submissa diante das situações conflitantes da vida. A atitude dessa família, construiu um clima educacional tóxico, prejudicando demasiadamente a filha em sua capacidade de expressão e equilíbrio emocional. Exagerada repressão gerou em Cilene, inseguranças, dificuldades em lidar com o social e com as pessoas em geral. “Medo de se expor”! Medo de ser rejeitada. Potencialmente, Cilene Maria, é criativa, inteligente e sensível, mas, diante de tantos bloqueios vividos, desenvolveu defesas para se proteger da dor. Defesas que se transformaram vilãs em sua vida. (Auto sabotaram sua primeira natureza)! Desiquilibrou os seus polos energéticos. “Caminho inimigo da expressão equilibrada dos desejos genuínos”. Com o passar do tempo, sua mãe foi mudando sobre muitos aspectos, demonstrando ser mais segura e determinada. Atualmente, representa um bom modelo de mulher onde Cilene tenta se espelhar. Atrapalha-se nos papeis que tenta repetir. É comum ela entrar numa intensa ansiedade. O pai também mudou em suas atitudes egocêntricas e desrespeitosas para com Cilene. De vez em quando tem recaídas! Cilene Maria já consegue lidar melhor com ele! Sequelas inevitáveis decorrentes de tantas repressões estão presentes no dia-dia. Necessitam serem tratadas. Esse sonho recorrente dessa moça reflete insistente necessidade de equilibrar a balança interna. (Integrar o racional com o emocional de forma saudável)l. Cilene buscou ajuda terapêutica. Quer se entender melhor. suas neuroses insistentes. “Compreender a função de suas defesas”. Perder o medo de ser feliz! ” ARRUMAR O ZÍPER DA MOCHILA VERMELHA E FAZER ESCOLHAS”!
ABORTOS CRUÉIS!( APERTO NO PEITO).
Realmente ele tinha razão! Sempre em nossas brigas, desde o namoro, quando o ameaçava que iria abandoná-lo, Sergio dizia meio que tirando sarro:- ” Vai. Você não aguenta um dia longe de mim, boneca!” Furiosa eu zombava de suas palavras, ridicularizando-o. Nunca admitiria ser emocionalmente dependente dele, mas, na realidade, era simbiótica mesmo. Respirava sua presença. Muita carência minha! Amava mais à ele que a mim mesma. Pensamentos e fantasias giravam em torno de Sergio. Paixão aguda! Parecia uma doença. Também, tinha minhas razões. Ele era um perfeito galinha camuflado. Discreto, mas galinha! Eu ciumenta assumida. Já tinha sido alertada por uma amiga sobre isso. Desde os tempos de faculdade ele era assim. As meninas sempre tinham um bom motivo pra falar com ele ao pé do ouvido. E o pior é que ele adorava. Eu sentia um misto de raiva e insegurança. Quatro anos assim. Angustias! Tempo passando. Formatura. Carreira. Muitas experiências. Amamos e sofremos. Crescemos juntos. Brigas. Discussões inflamadas. Ele mais contido que eu, porém, quando o bicho pegava. Terremoto! (Amar e sofrer são condições emocionais que ficam registradas no inconsciente). Em meio à esse relacionamento tumultuado, de repente, a gravidez inesperada! Nossa! Ambivalência total em meu interno. Misto de alegria e medo. Conflito danado! Enfim. Assumimos. Fomos morar juntos. Adaptação à vida nova não foi fácil. Correria profissional de Sergio, junto a minha, acrescida à gravidez. Contas a pagar. Rotinas de um casamento. Ufa! Em meio à essa turbulência surgiu na carreira de Sergio, uma importante viagem profissional ao Japão. Depois de muita conversas, decidimos irmos juntos. “Sempre quis conhecer a magia daquele pais”. Fantasias minhas, não faltavam naquela arquitetura única. Nem questionei com meu obstetra, se havia algum risco para o bebê, estava me sentindo tão bem! Imaturidade minha. “Parecia que a viagem era mais importante que tudo”! Durante o voo, náuseas e vômitos me acometeram. Entrei em Pânico. Aflorou, insegurança descontrolada. Não via a hora de chegar em terra firme. Nunca pensei passar por tanto medo na vida! Suava frio. Tive assistência médica na aeronave de um médico a bordo. Medicou um calmante natural, no entanto, eu estava muito alterada. A gestação de quatro meses, tão tranquila se transformou em um imenso pesadelo! Assim que o avião pousou no aeroporto de Tokyo (Haneda), vieram fortes cólicas. Fiquei transtornada. Naquele momento senti o tamanho do medo de perder o meu bebê. (Insegura, num país tão distante). Fui direto para o hospital. Ainda bem que Sergio falava inglês. Os médicos explicaram que fizeram de tudo, mas, não deu jeito, o meu quadro piorou. Sofri um aborto. Doloroso demais. Chorei todas as lágrimas de uma vida. O mundo acabou para mim! Minha relação também. Não sei porque, passei a não conseguir olhar para a cara do Sergio. Acho que inconscientemente eu o culpava. Absurdo! Uma forma de fugir da culpa que assolava minha alma. No Japão, enquanto me recuperava numa clínica, Sergio mal conseguiu realizar o seu trabalho. Estávamos muito abalados. Voltamos calados para o Brasil. Não suportamos a dor. Afetou nosso equilíbrio emocional, profundamente. Sergio, ao contrário de mim, sabia sofrer calado! Era mestre nisso. Muito introspectivo. Rígido. Eu só chorava. Nesse clima depressivo, fui direto para a casa de minha mãe. Estava precisando de colo amigo. Confiança incondicional. Lá fiquei. Não consegui voltar para a companhia de Sergio. Sentimentos confusos e absolutamente enlouquecedores. As entranhas sangravam! Depois disso nos separamos. Após um ano, me vejo sozinha e ainda, amargurada. Saudade e culpa batem fortes. Saudade do filho que não conheci. Saudade do amor que perdi. Saudades de mim! Dos sonhos perdidos. O aborto despedaçou tudo que eu tinha construído em minha vida de mulher. Hoje, trinta e quatro anos de idade, me sinto frágil e com muitas dificuldades de recomeçar a vida. Pensei até em entrar num convento e abandonar o meu cargo de secretaria executiva. Em meio à esse sofrimento, na última quinta feira, durante um café, conversando com uma cliente, Clarice, percebendo meu abatimento, com muito tato, sugeriu uma psicoterapeuta, que segundo ela seria capaz de me ajudar. Surgiu enfim, um ponto de luz. Quem sabe! Quero limpar sequelas de um aborto físico e emocional que ficaram impregnadas em meu eu. “POR ISSO ESTOU AQUI”!
Relato de Sandra Albuquerque, em sua entrevista no consultório de Ana Beatriz, psicoterapeuta especializada em Reich.
ESSA É A MINHA CARA! (SOMA DE MIM MESMA).
Sou a soma de tudo que vivi e senti. Fantasias cabíveis. Outras descabidas. Sonhos Prazerosos. Também dolorosos! Por um longo período, fui alvo ingênuo, desavisada de, hipócritas e mercenários emocionais! Terríveis hipócritas! Quase fui transformada em fantoche. Não tinha discernimento mental para elaborar tamanha invasão a minha identidade frágil, naqueles momentos. Sou também o saldo de uma família simples, amorosa, porém, recheada de conflitos. Pai e mãe responsáveis pela maioria deles. Imaturos emocionais, com imensas dificuldades de enfrentar as encrencas que a vida apresentava nos vários níveis. (Filhos são vítimas diretas de famílias desestruturadas). “Presente pesado”! Ao mesmo tempo sou saldo também de uma adolescência energética, cheia de hormônios e tesão pela vida. Muito estudo e muita brincadeira naquela fase. Momento libertador! Da criança vítima nasceu uma adolescente guerreira. Vontade enorme de viver. Paqueras, amizades e planos para o futuro. Também fui vítima de ansiedade e suas consequências nefastas. Crise de pânico interferindo em meu caminho, logo após a adolescência. Momento difícil de administrar. Não permiti que isso bloqueasse meus desejos, a minha garra. Lutei bravamente. Venci! A partir daí vislumbrei um mundo aberto. Atitude nova diante da vida. Enfrentei decepções e dores naturais pelas quais todo ser humano passa. Superei. Mal sabia que o destino também me reservara momentos felizes, intensos. Incontáveis. Encontrei um grande amor! Pulsação de vida inigualável. Não bastasse, logo em seguida, formatura em psicologia, depois de longos cinco anos de muito estudo. (Amor e profissão fortaleceram a minha identidade). Pós graduação em psicanálise. Mestrado. Uf! Super valeu a pena. Realização profissional acontecendo e uma grande integração com meu interior foi surgindo. Cresci! Em meio à essa intensidade de vida, fui nomeada por Deus a ser mãe. Quatro vezes. Divino. Plenitude! O tempo passando sem que eu notasse. Filhos crescendo. Muitos congressos. Clínica cheia. Concomitantemente, casamento passando por um buraco negro. Intensa crise! Muitas diferenças de valores. Não dava mais pra sustentar. Conflito:- Romper ou enfrentar? Talvez aproveitar a crise e amadurecer a relação, fosse uma boa saída para uma história de amor. Espiei lá no fundo do coração! Assustada e surpresa encontrei o amor abandonado, envolto por camadas espessas, de raivas e ressentimentos. Estremeci. Chorei. Mobilizada resolvi tentar desfazer nós! Um por um. “Trabalho delicado, desbloquear afetos e amores”! Precisava salvar o Amor da U. T. I. Eutanásia não estava em meus planos! Antigo guru, terapeuta, profissional experiente, ajudou muito nesse processo. Recasei! Nova consciência. Podia valer a pena. Durante todo esse processo de vida, aprendi a cuidar de mim. Integrar mente-corpo. Minhas percepções ficaram refinadas e sutis. Virei vegetariana, recuso-me comer qualquer tipo de carne. Canalizei intensões e pensamentos para a meditação, no intuito de iluminar a alma. “espiritualidade”. Ser coerente com o meu “Eu” essa era a meta! Por outro lado, conviver com alguns traços psicopatas de meu companheiro me ensinou a lidar melhor com o mundo. Tive que enfrentar demônios mascarados de Anjos. Aprendi que nas perdas pode-se obter grandes ganhos. Intensidade é o resumo das histórias que vivi. Hoje, quando me olho no espelho, sou grata. Aguardo o tempo que virá! Consciência expandida. Respeito, empatia e generosidade fazem parte do meu mantra. Não permitirei invasões à minha identidade. Gosto do que faço e penso. O que mais me encanta é o brilho em meu olhar. ” SINTO QUE ELE REFLETE A MINHA ALMA”!
Patrícia Guimarães, realizou em sua clínica, com sucesso, trabalho consistente com “GRUPO DE MULHERES”, ajudando na expansão da consciência e desenvolvimento da identidade feminina.
CAIPIRINHA SICILIANA! ( SABOR FELICIDADE).
Sou Carol, natural de São Paulo, caminhando sozinha pelo centro de Paris. Sem rumo certo. Apenas caminhando! Assim como uma criança explorando ambiente novo. Sons de vozes numa língua diferente vão ocupando meus sentidos. Vento ameno de primavera sobre a pele! Refrescante. Muita gente andando pelas calçadas. Passos rápidos. Passos mais lentos. Muitos turistas. Mesas dos restaurantes e barzinhos do quarteirão, esparramadas pelas largas calçadas. Muitas delas lotadas de pessoas, bebericando, rindo, falando alto. Drinks coloridos! Convidativos, estimulando meus desejos. Essa é a primeira vez que venho a Paris. Me sinto nas nuvens! Distraída. De repente alguém esbarra em mim. Abruptamente! Levanto os olhos. Dou de cara com o sorriso mais maroto que já vi, pedindo desculpas em inglês, “sorry”! Na mente, a imagem do amor que deixei no Brasil. “Aquele mesmo sorriso”! Um arrepio na espinha! Bateu saudade enorme de um passado recente. Coração dispara. Respiro fundo. Solto o ar lentamente. Decido: não! Não quero esses pensamentos. Agora não! Acelero os passos. Fujo das lembranças. Foco a paisagem. Árvores frondosas em alguns pontos da avenida me chamam a atenção. Flores vermelhas penduradas nos galhos, contraste lindo com o verde escuro das folhas, colorindo a tarde em Paris. Cheiro agridoce no ar. Mistura dos aromas de flores dos canteiros da alameda com cheiro de pipocas e sorvetes. Afasto da mente qualquer sensação dolorosa que estrague esse momento. Aprendi a me defender da dor mudando rumos mentais. Tenho que me fortalecer. Afinal, foi minha a decisão de vir morar em Paris. Tive que fazer a escolha mais difícil da vida. Desatar laços. Largar um grande amor. “Amor simbiótico”! Impedia que eu vivesse meus sonhos pessoais! “João era como um doce morcego!”. A gente se divertia muito. Havia muito tesão e planos de um casamento surreal; no entanto, me sentia sugada naquela relação. Minha identidade estava sufocada. Não passava pela cabeça dele que eu quisesse me desenvolver profissionalmente. Ele queria ser o meu único projeto de vida. Como se só ele me bastasse! Por uns tempos funcionou. Com o passar dos anos surgiu uma enorme ânsia em mudar rumos. Fazer pós graduação na universidade de Sorbonne na área de humanas, era um dos meus desejos. Não resisti! Sei que terei que lidar com grandes conflitos. Existe uma parte minha muito envolvida com o João. Dependente. Ele seduzia o tempo todo o meu coração carente. Terei que me adaptar com sua ausência. Sentirei muito sua falta, sei bem disso! Até porque por muitos anos me adaptei ao meu sequestrador! Acordei meio zonza no meio dessa história. O seu lado voluntarioso e mandão só me enxergava como um enfeite. Negava qualquer cumplicidade em outras áreas da sua vida. “Não posso sabotar minha identidade de mulher por nenhum homem”. Gaiola de ouro, não! Meus desejos de crescer estavam presos nessa gaiola. Sentia um vazio que nenhum mimo do João preenchia mais. Num segundo, caminhando lentamente, percebo como nossos pensamentos nos traem. Sem me dar conta estava pensando no João, de novo. Volto ao racional. Refaço emoções dentro do peito. Acelero os passos. Sem rumo. Apenas explorando o cenário e adestrando os sentidos. Tentando uma integração! Quero sentir os sabores da decisão que tomei com equilíbrio mental. Certa angústia misturada com prazer insiste dentro do peito. “Renascer é tão dolorido quanto o próprio nascimento”! Sei que a dor faz parte desse momento emocional que estou atravessando! É natural. Emoções antigas e atuais, ora adoçando, ora azedando! Garganta seca. Avisto do outro lado da rua uma sorveteria colorida me convidando a parar. Decidida vou até lá. Meu francês é precário. Resolvo falar em inglês:- Please, a lemon ice cream? How much does it cost? Assim que me fiz entender, acertei no caixa o que devia e recebo o meu picolé refrescante. Salivo de tanta vontade. Sento-me numa das mesinhas vagas. Um vento mais geladinho me arrepia todinha! Vou lambendo pelas bordas do sorvete pra não derreter. Na boca um gostinho delicioso do limão siciliano! Dou uma pausa entre uma lambida e outra, deixando os sentidos ancorados nesse sabor afrodisíaco. Por segundos me transporto a fantasias alimentadas há anos. Morar em Paris e ter um amor francês! Parece um sonho. Eu aqui, finalmente. Liberdade sonhada. Busquei tanto! Precisou de uma motivação profissional irrecusável para tomar essa decisão. “Como é difícil abrir a porta da gaiola!!” Tantas dúvidas! Ambivalência. Medos misturados implodem o coração. Uf! Em meio a esse conflito dou outra lambida no sorvete quase derretido. Me lambuzo. Limpo a boca no guardanapo vermelho que está sobre a mesa. Levanto-me. Dou uma última olhada conferindo a beleza local. Saio dali. Novos pensamentos alimentando o meu ego. Vontade de tomar uma caipirinha com limão siciliano. Retomo o caminhar. Passos seguros. Firmes. Rumo ao futuro. Mais uma vez, inspiro fundo. Bem fundo! Na mente um cartaz em lilás com letras fortes e claras:- Sim. Estou feliz. “QUE VENHA A PRIMAVERA”!
TRATANDO AS FERIDAS! (VIAGEM NECESSÁRIA).
Manuel Ricardo, quando criança, ouvia sempre de seu pai Eduardo, a expressão: -“Quanto mais verdadeiro você for, menos amigos terá”! Manuel, tão criança, não compreendia muito bem o que ele queria dizer com isso. Como também não entendia tantas outras atitudes repressoras vindas dele, tolhendo sua forma espontânea de ser. ” Menino não chora”! ” Cala a boca, retardado”! “Você não presta pra nada”! No entanto, intercalando com essas absurdas formas de se tratar um filho, também tinha gestos de carinho e atenção, levando-o muitas vezes a cinemas, parques e viagens curtas à praia. Naqueles momentos eram felizes! Outro aspecto importante era o orgulho que Manuel Ricardo sentia pelo pai. Isso fortalecia a imagem do pai diante dele. Adorava observá-lo moldando esculturas e diversos objetos de madeira, como competente marceneiro que era. Um verdadeiro artista. (Seu herói e seu tirano). Manuel, como acontece com a maioria das crianças, queria ser marceneiro quando crescesse. Ficava todo orgulhoso quando ouvia elogios sobre o seu genitor! (Não fosse o lado patológico do caráter desse pai, que, provavelmente, também foi vítima de intensa repressão, tudo poderia ter sido tão diferente)! Sua rigidez e desestrutura psicológica, bloqueou a capacidade de expressão saudável de Manuel Ricardo. Estabeleceu intenso desequilíbrio emocional que gerou muita dor ! Mulher e filho foram as vítimas mais próximas. Manuel conviveu com esse pai “doente” até seus onze anos de idade. Enfarte fulminante levou-o dessa vida! Manuel Ricardo sofreu muito com a perda abrupta. “Ficou transtornado sem o seu espelho. Perdeu a única referência”. Mesmo sendo aquele modelo doente! Mais ou menos na mesma época, sua mãe Clarice, foi internada com Alzheimer. Mãe ausente. Sem identidade. Mulher frágil e confusa, com muitos problemas de saúde. Nunca conseguiu amar e cuidar do filho. Nem mesmo dela! “Família funcionando num intenso desequilíbrio psicoemocional”! Sequestrador e sequestrados unidos! O tirano, enquanto vivo, não os poupou de sua profunda neurose. Vítimas ideais! Sem pai e mãe, Manuel foi morar com a avó materna. Mulher simples, sensível e amorosa. Dentro de sua simplicidade acolheu o neto com carinho. (Esse menino sofreu um bocado com toda essa essa história familiar)! Marcou profundamente seu emocional. Na adolescência, problemas emocionais começaram a se intensificar. Não conseguia ocupar seu espaço de forma saudável na escola, ou em nenhum outro lugar. Grandes dificuldades em estabelecer vínculos e se expressar verbal e emocionalmente de forma estruturada. Desenvolveu gagueira, fato que o deixou mais inseguro ainda. (Baixa auto estima)! Não conseguia ser ele mesmo. Buscava responder às expectativas do outro, numa tentativa desesperada em ser aceito. Como é natural, não percebia que esse comportamento o afastava cada vez mais de seu objetivo. (Péssima auto imagem). Na escola, alguns meninos da turma tiravam sarro de seu jeito. Outros aproveitavam de sua condição psíquica fragilizada, manipulando-o. Tirando proveitos. Ganhou o apelido de Zé Mané! “Maria vai com as outras”. O adolescente foi ficando cada vez mais inseguro e fechado nele mesmo. Desenvolveu asma. Intensas crises! (Fundo emocional). Não bastasse todo esse sofrimento, sua ansiedade evoluiu para sintomas de pânico. (Taquicardia, falta de ar, formigamento na face esquerda, claustrofobia, entre outros). A psicóloga da escola percebendo esse quadro, convocou uma reunião com a avó materna de Manuel e a coordenadora. Expôs a situação que o menino vinha enfrentando e a necessidade de urgente tratamento psicológico. Encaminhou-o a uma profissional especializada. Tereza Monjardin, psicóloga experiente e sensível está realizando um trabalho sutil e delicado. O objetivo é trazer à luz a criança sufocada no peito de Manuel e reconstruir modelos internos, como referências positivas para um novo caminho. (Recuperá-los e integrá-los em seu momento de vida). Cuidar muito do eixo emocional e comportamental! Muito trabalho no contato com a realidade, em identificar o lado bom de sua vida. Aceitar o que não dá pra ser mudado. Resgatar a capacidade de expressão. “MANUEL RICARDO ESTÁ APRENDENDO A TOCAR EM SEU PROPRIO CORAÇÃO COM O CARINHO E RESPEITO QUE LHE FOI NEGADO”!
BARULHO DENTRO DE MIM! (SAUDADE).
Sons e ruídos são sinais de movimento. A vida é barulhenta! Sons tem suas frequências. Podem variar em diferentes níveis. Do mais silencioso ao mais alto. Eles influenciam nosso equilíbrio! Nosso organismo tem seus sons próprios. O universo também. No universo, parece que o som mais alto vem de fusões de buracos negros, sons em ondas gravitacionais. A terra tem seu zunido! Todos os seres vivos emitem seus ruídos. Internos. Externos. Silêncio pode ser prenúncio de morte. (Se você evita encarar o barulho do conflito para manter a paz, começa uma guerra dentro de si mesma). Guerra maltrata e mata! Acordei hoje azucrinada por um som intenso. Ameaçador. Altos decibéis disparando o coração ansioso. Parecia que ia implodir. Era um som só meu! Brigas intensas entre emoções. “Pandeiro forte machucando o peito”. Paixão vívida. Ruidosa. Insana! Que saudades meu Deus. Saudades de morrer! Som ressuscitando vida. Não aguento mais, amor. VOLTA PRA MIM!
BRAÇOS QUENTES E PELUDOS! ( ROTINA MENTAL DOENTIA).
Assim que se conheceram, Eleonora e Heitor viviam grudados. Todos comentavam que eram almas gêmeas. O namoro era uma festa! Ela de uma meiguice sem tamanho. Ele representava o papel do bom menino. Solícito, amável e prestativo no social. A mudança surgiu depois de algum tempo de casados. Heitor se transformou num homem grosseiro e agressivo. Desta forma passou a projetar sua intensa neurose camuflada. Queria ser o soberano. O admirado! Ocupar todo o espaço. Suas palavras e decisões não podiam ser contestadas. Não respeitava Eleonora, sendo constantes suas agressões emocionais. (Agressão domestica). Heitor projetava todas os sentimentos ruins contidos, decorrentes da péssima relação que teve com a mãe. (Rejeições e frustrações). Quanto mais Eleonora expressasse compreensão e paciência, mais grosseiro Heitor ficava. Um inferno! Isso o fortalecia. (Muitas raivas contidas). Ele nunca tocou nesse assunto com a mãe. (Pacote fechado dentro do peito). Mulher rígida e esperta. Um gelo! Expressão felina. Fazia dele o que bem queria. Não enxergou o mal que causou ao filho. Incapaz de fazer um carinho. Só o estudo foi o projeto de vida que reservou para ele. Ficou distante de Heitor durante anos, isolando-o num internato de padres. Ele chorou muito. Nunca a perdoou! Sofreu em silêncio. Garoto sensível e amoroso, desenvolveu um padrão de caráter rígido. Regredido emocionalmente. Intelectualmente diferenciado! Todos o admiravam. Eleonora nunca imaginou que esse seria o grande problema em seu casamento. Também, como podia uma menina moça como ela pressupor consequências de todo esse pacote em sua vida? Eles se davam tão bem! Na cabeça dela só rolavam fantasias e sonhos. Vivia intensamente a mágica paixão por aqueles olhos verdes. Era como um Deus para ela. Encarar o lado oculto do comportamento doentio de Heitor foi sofrido demais. Sentiu-se traída! Ele não era a pessoa com quem havia se casado. “Injusto a vida fazer isso com uma sonhadora!¨. Fazia tudo que uma mulher podia fazer para tentar ser feliz com ele. Deletou dívidas emocionais acumuladas. Longas dívidas! Perdoava sempre! De vez em quando pensava que as coisas podiam melhorar. Ela acreditava que ele não era aquele agressor barato. Naquele fim de ano ela estava feliz. Há duas semanas Heitor estava menos desequilibrado! Não tinham brigado. Até pensou em preparar um natal em grande estilo. Sentia-se leve. No entanto a realidade traiu novamente Eleonora. Na manhã de quinze de dezembro ela acordou bem cedo. Cantando. Preparou o desjejum costumeiro. Banana assada com aveia, queijo branco e um café bem fraco. Até torradas integrais! Do jeitinho que Heitor gostava. Saudável e natural. Tudo pronto. Lá fora, Eleonora teria um dia cheio de trabalho. Correria total. Sem tempo pra nada. Mesmo assim priorizou a relação. Dez minutos junto dele, na manhã fresca, era um presente para ela. Eleonora foi até o escritório e chamou-o com carinho. Chocou-se com a reação estúpida e agressiva de Heitor. A leveza e o bom humor que Eleonora estava sentindo, até então, foram substituídas por uma carga de raiva intensa. Heitor falou rispidamente pra ela calar a boca e não atrapalhar a sua leitura. Essa reação despertou demônios internos nela. “Ofereceu flores e recebeu espinhos!¨. Muito irada, pensou em partir para o revide. Aquela atitude desequilibrada repentina de Heitor, transportou Eleonora a um lugar em que ela tinha jurado não mais voltar! Violência emocional, não iria mais admitir. Eleonora sentia que estava traindo sua essência e dignidade! A resposta de Heitor foi como um raio caindo sobre a sua cabeça. E diante da insistência dela querendo contornar a situação, Heitor ainda completou:- “Para de encher o saco! Vai tomando o seu café!¨. Eleonora sentiu um aperto no peito. Pensou que estava enfartando. Seu corpo ficou todo dolorido dando sinais de que não admitiria mais que o tratassem assim. Como se ela tivesse levado uma surra! Estressada, cabeça confusa, pensou em dar um basta no casamento naquele mesmo instante. Foi tudo muito rápido. Num milésimo de segundo implodiram emoções absurdamente contidas. Ela se estranhou. De-repente um branco mental em Eleonora. “Foi como uma pausa entre o sentir e o pensar”. Respirou fundo. Bem fundo! Lentamente foram surgindo em sua mente, cenas de historias tocantes vividas com Heitor. Recuperou sensações. “Parecia auto sabotagem!¨. Como num filme! Frio na barriga. Conflito! Vingança ou perdão? Sangue pulsando. Eleonora era uma irremediável apaixonada por Heitor. “Atração de pele é um animal indomável”. Só em pensar nos braços quentes e peludos dele, envolvendo-a por inteiro, suas pernas bambeavam. Atiçavam desejos profanos. Primitivos. Gangorra emocional prevalecendo. Ambivalência. Queria Heitor. Não queria Heitor! Dividida. Incapaz de se libertar. NOVAMENTE OS SENTIDOS IMPERARAM. A GOTA AINDA NÃO EXTRAPOLOU!
(Eleonora apresenta um quadro de dependência emocional. Identidade fragilizada. Auto estima e auto conhecimento poderão fortalece-la e ajudá-la. Psicoterapia é bem indicada).