Te conheci no meio de sonhos. Num furacão de emoções. Tudo tão perfeito. Mal dava pra acreditar. Me belisquei! Pisquei forte. Inspirei profundamente e percebi que estava viva. Senti a vida. Era real. Você existia. Continuamos a nos ver. Paixão desenfreada. Eu mais envolvida que nunca. Sabores dos mais variados temperos. Inebriantes sabores! Momentos de selar felicidade. Jardins de girassóis dilatando as pupilas de tanto tesão. Idealização! As nuvens eram o chão. Tempo. Tempo! Inimigo da paixão. Quanto mais passa. Passa tudo! Será? Sei lá! Só sei que assim foi. O avesso é doído. Doido! Coração reclama. Máscaras caem. Controle. Atitudes insanas. Violência psicológica. Críticas ácidas. Traição encoberta. Deflagrou o verdadeiro caráter. Traços psicopáticos. Tão encobertos! Retrato do mal. Destruição de identidade. Jardim seco! Sem luz dos girassóis. TRAUMAS DE UMA PAIXÃO.
SIMPLESMENTE TE AMO! (AMOR INCONDICIONAL).
Aquele cheirinho no cangote. Cheirinho doce como o mel. Inebria os sentidos! Se o meu humor estiver pesado, no mesmo instante, uma nuvem de energia vibrante invade o coração. Basta seus olhinhos brilhantes me seguirem que já sinto o caminho do paraíso. Meus movimentos peristálticos entram num movimento tão intenso mudando o roteiro dos mais absurdos sonhos. Sua boca de lábios róseos e energéticos traduz fome de vida. Pulsação vital fazendo entender como é belo viver. Toque. Contato. Sentidos! Coração sinalizando AMOR INCONDICIONAL!
EU NÃO QUERIA SER VOCÊ! (AVERSÃO).
Passos velozes. Determinados. Andava em passos largos pelas avenidas. Assim como uma louca. Não enxergava as pessoas que cruzavam comigo. Pareciam fantasmas. Apenas sombras que atrapalhavam o meu caminho. Sentimentos conflitantes, queimando o meu peito. Precisava urgentemente me livrar daquela angústia. Acelerava os passos. Cada vez mais rápidos. Tentava correr da dor. Ela teria que ficar para trás. Lágrimas presas embaçando meus olhos. Coração disparado. Boca seca. Língua grudada no céu da boca. Ainda assim eu não conseguia diminuir a caminhada louca. Minhas pernas denunciando cansaço. Começaram a tremer. Um certo vazio invadindo o peito. Desiquilíbrio energético. Senti minhas forças diminuindo. Parei de repente. Nem me dei conta que estava bem em frente ao “Parque dos Pássaros”. Protagonista de tantas histórias felizes. Até de tragédias. Foi ali em frente à Fonte dos Amores que Cristina apunhalou o seu amor. Coitada. Não suportou a dor da traição. Presa em flagrante. Não conseguiu usar o racional pra organizar o coração. Ficou cega. “Integrar amor e emoção é essencial”. Tenho certeza se tivesse pensado mais, não entraria em desatino.. Estragou sua vida por quem não a merecia. Burrice. Ouvi dizer que se arrependeu muito. Pesadelos todas as noites. Não dava mais pra voltar atrás. Essas lembranças tão fortes foram me transportando a outro canto da minha dor. Pensei:- Quanto sofrimento de graça! Parei. Sentei-me sobre o primeiro banco que avistei. Ainda molhado pela garoa que tinha acabado de cair. Minha calça jeans encharcou. Nem liguei. O frio do molhado na pele deu uma sensação de vida. Meu corpo foi conversando com as sensações no meio do caos emocional! Como a chuva tinha dado uma trégua, tirei o casaco. Nesse momento passou um sorveteiro:-Olha o sorvete caseiro! Pensei:- Porque não? Puxei uma nota da carteira molhada. Deliciei-me com o gostinho do morango. Fui ficando mais calma. Sensação infantil a cada lambida. Periquitos e sabiás cantando em coro entre os galhos das árvores. Parece que aqueles pássaros não queriam me ver triste. Nem sei porque quis acreditar nisso. Me fez bem. Num instante até duvidei de mim. “Meu Deus será que enlouqueci? Pensei logo-: Acho que não! Louco tem dificuldade de integrar razão com emoção. Não está sendo o meu caso. Resgatei um pouco do meu equilíbrio naquele momento. Sensação de paz foi brotando. De encantamento. De prazer! Eu, meu sorvete e os pássaros orquestrando seu sons mágicos. Foi terapêutico! Reconheci que o universo oferece presentes inesperados. Basta reconhece-los. De repente tudo pode mudar. O sofrimento desaparecer. Por instantes esqueci da dor. Alonguei um pouco o corpo, mesmo ainda sentada. Parecia que tinha saído de uma luta. Muito dolorido! Estiquei as pernas, braços. Movimentei o pescoço, levemente. Em círculos. Suavemente. Nesse momento meu coração se fez presente novamente. “Coração e pescoço”. Sensação ambivalente. Amor e orgulho brigando por lá. Entregue a essas sensações, distraída, tinha esquecido de tomar o sorvete .Derreteu por inteiro. Gotas de morango por todos os lados. Calça jeans, meus pés. Tudo melado. “Sempre tive aflição de melado na pele”. Felizmente essa neurose não estava lá. Não mexeu comigo. Meu coração sorrateiro insistia em trazer lembranças dolorosas de um passado recente. Elas foram se intensificando. Sensação ruim. Novamente disritmia. Respiração acelerada. Mãos geladas. Dor no peito. Medo de morrer. Sensação de morrer. De prisão! Insuportável. Precisava me livrar daquilo tudo. Angústia dói tanto! Num esforço, novamente, busquei olhar a realidade que me cercava. Precisava voltar à razão. O instinto de sobrevivência é forte. Parte minha imersa na dor. Outra parte me chamando pra vida. Voltei meu olhar para o copinho vazio. O sorvete não existia mais. O copinho vazio e minha mão melada pelo sorvete derretido. Num impulso infantil, comecei a lamber os dedos. Queria sentir de novo o gostinho do morango. Assim fiquei por alguns segundos. Quando levantei os olhos, uma menina de uns quatro anos de idade, tomava um sorvete também. Curiosa me observava. Expressava surpresa pela minha atitude. Generosa me ofereceu o seu sorvete.:- Quer? Esse seu gesto mobilizou sentimentos genuínos em mim. Sorrindo , agradeci. Recebi um lindo sorriso de volta. Ouvindo o chamado da mãe, jogou-me um beijo com a mãozinha. Saiu correndo. Aquele pequeno vestido amarelo com sorriso cristalino, como num milagre, resgatou em mim sonhos escondidos pela vida. Foi tão intenso! Percebi naquele momento uma radiografia da felicidade que eu buscava. Quantos resgastes eu devia ao meu coração. A gente se engana muito nesta vida. “Quantas cebolas com casca lisa, bonita. Por dentro toda podre”. Não se aproveita nada. Muitas vezes nos enganamos assim com pessoas. Eu me enganei! “As aparências enganam. A saúde vem de dentro para fora. Atitudes expressam a saúde mental e o equilíbrio. Bonitinhos e ordinários é o que mais se tem por ai! Recado -: Hoje vou me escolher. Eu não quero você. Não preciso mais de você. “EU NÃO QUERIA SER VOCÊ”!
NÃO SEREI SUA VÍTIMA! (NEUROSE).
Dalton acordou no último dia do ano disposto a infernizar a vida de Adriana, mais uma vez. Insuportável. Sem respeito. Ingrato. Coitada! Desta vez ele se deu mal. Adriana estava decidida. Não iria mais se dar a esse papel. Pensou:- Tem que ser “Santa”! Manter a paz e ser feliz com esse homem é impossível! Revoltou-se naquela manhã. Estava persuadida de que ele não a merecia. Nem quis mais lembrar que ele era vítima de sua própria história. Essa ideia sempre surgia para amenizar os efeitos colaterais das atitudes insanas dele. Sempre o desculpava. Tentava pensar sobre os poucos pontos positivos do caráter dele. Mas, já estava desanimada. Ele reincidia sempre. Seria uma boa pessoa, não fosse o corrosivo conteúdo emocional. Muita repressão sofrida na infância transformou-o num ser individualista e ácido. Seus valores tinham que ser sempre os melhores! Queria ser a boa referência em tudo. Quando Adriana se apaixonou não tinha a menor ideia do que a esperava na convivência com ele. Menina sensível, capaz de conversar com plantas e Anjos. Quis o destino que ela caísse nessa armadilha neurótica que Dalton representava. Desiquilibrava até um santo! Adriana já tinha puxado o gatilho. Apaixonada ainda! Mágoas acumuladas com paixão adoecem a alma. Seu lado racional avaliou todos as angústias vindas da relação. A realidade ficou mais forte do que as fantasias construídas. Assim que foi percebendo o profundo desajuste emocional em que estava metida, ficou mais atenta às circunstâncias. Foi dando um tempo. Adriana era assim: – pele clara, textura de marfim, olhos negros e risonhos. Dentes incrivelmente brancos e fortes. Emanava uma energia contagiante. Alegria de viver! Foi criada sem grandes repressões. Um dos únicos problemas sérios de sua infância foi a dificuldade financeira enfrentada junto à família. Conseguiu driblar bem essa questão. Aprendeu a não ser consumista. Gostava da simplicidade da vida. “Vinha de uma família simples porém com ótimo contato afetivo.” Sua ambição era aprender coisas novas e tudo que se relacionasse ao desenvolvimento humano. Estudou em escola pública de boa qualidade. Isso a ajudou a desenvolver seus melhores aspectos intelectuais. Escolheu “pediatria”. Conseguiu entrar na universidade. Formou-se com boa qualificação. Foi num de seus estágios que conheceu o “doutor Dalton”, diretor de um renomado hospital de sua cidade. Dirigia todo o setor de obstetrícia. Ele ficou fascinado por Adriana. Começaram a namorar assim que os olhares se cruzaram. Tinham em comum muito amor pelas crianças. Por isso a escolha profissional. Adriana, como toda mulher sensível, maternal, sonhava ter muitos filhos num futuro próximo. No início da relação com Dalton, tudo foi encantamento. “A intimidade aumentando, o pacote neurótico se abrindo”. Embora Dalton tentasse, não conseguia conter suas destrutivas reações emocionais. De repente, do nada surgiam discussões pesadas. Intensos conflitos emocionais. Atitudes verbalmente agressivas. Quando ingeria álcool essas reações ficavam num grau insustentável. Era do tipo que não suportava uma opinião contrária à sua. Esquecia o significado de respeito e de limite. Discordar dele era briga certa. Azedava o dia. Depois se fechava numa atitude fria e distante. Podia durar dias sem conversa ou contato. Como se quisesse se auto afirmar destruindo Adriana. Nunca pedia desculpas. Era Adriana quem buscava a reconciliação. Esse comportamento repetitivo foi destruindo os sonhos. No nono mês de convivência, Adriana acordou. Embora ainda apaixonada, seu lado saudável gritou mais alto. Ficou imaginando como seria o futuro ao lado de um homem com as atitudes dele. Quantos desgastes energéticos. Tinha aprendido com seus pais que ninguém é feliz quando não há respeito. Quem não se respeita não tem boa auto estima. “Quem se respeita é respeitado”! Dalton não a respeitava. Sufocava a sua identidade. Criticava acidamente os gostos musicais ou preferências alimentares dela. Se em nove meses já se comportava assim, como seria lá na frente? A identidade sensível e forte de Adriana lhe respondeu sem titubear:- Sai dessa enquanto é tempo! Melhor sofrer agora do que pagar pelo preço de uma má escolha, pelo resto da vida. Estava decidida que não viveria de aparências. O mal resolvido Doutor não iria transformá-la num fantoche, sem identidade. Não, isso não! Mesmo assim, naquela manhã do último dia do ano, Adriana tinha acordado leve. Com muita energia. Resolveu fazer uma surpresa para Dalton. Cantarolando, foi preparar para eles um desjejum caprichado. Otimista como era, decidiu dar o seu melhor, apesar da certeza de que nunca mais toleraria alguma atitude neurótica de Dalton com ela. Iria tentar um começo de ano novo saudável. Dalton ainda dormia. Frutas, cereais, queijo e pãezinhos torrados. Café bem curto. Como ele preferia. Ao contrário dela, que adorava cafezinho bem fraco. Preferiu agradar o seu amor! No rádio tocava um samba que Adriana amava. Teve o cuidado de fechar a porta para não acordar Dalton. Começou a cantarolar, distraidamente. Animada, aumentou um pouco o som. De repente, Dalton furioso, abriu a porta da cozinha. Descontrolado. Sem a mínima empatia. Xingando alto, desligou o som. Ele não tolerava samba. “Que merda de música! Que gosto horrível!”. Grosseiro e insensível. “Última gota d’agua no copo”. Foi como um balde de água fria. O café esfriou. A festa acabou. ALI COMEÇOU UM NOVO CICLO DE ADRIANA!
A MENDIGA E EU! ( REVOLTA DO SOCIAL).
Tarde quente de verão. Sol meio escondido entre nuvens ameaçadoras. De vez em quando seu clarão surgia em pequenos espaços entre elas. Brisa suave do mar aliviava o calor. Olhei pela sacada do meu apartamento. Queria ver se dava tempo de caminhar antes da chuva. Dúvida. Resolvi arriscar. Caminhada pela praia, com passos acelerados, é um santo remédio. Alivia estresse. Bom para corpo e o coração. Amplia a consciência. Respiração rápida desintoxica. Acelera o metabolismo. “A alma agradece morar numa casa mais leve”! Coloquei o velho tênis branco. Não por falta de opções. Tantos presentes e compras por impulso. Mas não tem jeito. Adoro o conforto do velho tênis. Vesti um shorts largo, camiseta branca. Tudo muito confortável! Lá fui eu apressadamente aproveitar o tempo, antes da chuva cair. No calçadão, embaixo de uma das muitas árvores, bem encostada ao tronco, uma mendiga andrajosa. Pele do rosto, braços e pernas escaldados pelo sol. Chocante! Ela olhava para o NADA. Suas roupas de uma sujeira única. Cabelos endurecidos pelo pó e fuligem da avenida. “Muita escuridão naquela imagem humana”. Cortou meu coração. Parei por uns segundos em frente a ela. Senti uma necessidade enorme de ajudá-la. Refleti rapidamente de que forma poderia fazer isso. A mendiga nem percebeu minha presença. Continuava olhando para o vazio. Pessoas passavam por ali fazendo seus exercícios, despreocupadas e indiferentes. Não notavam sua presença. Como se ela não existisse. Essa exclusão social e esse estado de miséria, revelado naquele quadro, me entristeceu muito. Como pode um ser humano se alienar tanto? Que experiências o levaram a esse ponto? E suas fontes de afetos? Fiquei imaginando a extrema solidão em que vivia. Esses pensamentos provocaram em meu interno intensos questionamentos sobre a vida. Sobre o comportamento das pessoas. ” O MUNDO PODE SER MUITO CRUEL!”. Essas sensações foram muito intensas. Tinha que fazer algo. Interrompi a caminhada. Voltei rapidamente para casa. Montei uma sacola com frutas, lanches e sucos. Achei que aquela mulher estava desidratada. Os sucos lhe fariam bem! Algum dinheiro para necessidades imediatas! Coloquei-me em seu lugar. Senti uma intensa revolta e desamparo. Uma estranha no ninho humano. Com sensação de dever cumprido, peguei o elevador e fui ao encontro da mendiga. Atravessei a avenida movimentada. Muitos carros e ônibus naquela hora. Atravessei rapidamente, assim que o farol se abriu para mim. Estava ansiosa. Queria ajudá-la logo. Isso aliviaria o meu coração. Estava muito mobilizada emocionalmente. Assim que cheguei bem perto dela, sua expressão me surpreendeu. Assustou! Mesmo assim, fiz a oferenda com todo o carinho que estava em mim. Nossa! Fiquei perplexa! Recebi uma reação de hostilidade imensa. Um olhar frio. Rejeitou todos os alimentos que lhe ofereci: -“Não. Não quero!” Repetiu várias vezes essa frase. Seu olhar e sua voz foram ficando mais duros à medida que minha insistência aumentava. Fiz com a cabeça um sinal que a entendia. Numa última tentativa, perguntei baixinho: – Nem o dinheiro? Aquele olhar duro, fixou o meu. Em tom agressivo e ameaçador disse:- Caramba já disse que não! Desviou novamente o olhar e fixou no vazio. Entendi que estava decidida. Entendi também que tentou me mostrar orgulho e dignidade a seu modo. É como se eu a estivesse desrespeitando. Invadindo sua privacidade. Ali, colocou o seu limite. Foi claro que seu gesto estava dizendo que não tinha pedido nada daquilo que eu estava querendo lhe dar. Senti que estava me mostrando um certo desprezo pela minha ajuda.! “Eu era mais uma das que não conseguiam tocar o seu coração”. Ela ainda tinha forças para se defender. Enxerguei uma mulher forte, guerreira. Revoltada. Sua atitude falou de um coração sofrido. Miseravelmente maltratado pela vida. Quem sabe de seus amores! Quantos os caminhos percorridos? Chorei! Compreendi. Sua fome vinha da alma. Escura e destruidora. Fixada na energia do ódio. Ela conseguia expor apenas o instinto machucado. “ANIMAL FERIDO NUMA SELVA DE PEDRA!”.
RELACIONAMENTO TÓXICO! (DESRESPEITO/ VIOLÊNCIA EMOCIONAL).
Janaína acordou naquela ensolarada manhã de primavera com muita disposição. Tinha planejado cada minuto daquela sexta feira especial. Feliz da vida. Vinte dias de férias. Delícia! Academia e uma boa caminhada pela praia, logo cedo. Suco de frutas naturais era o suficiente até a volta. Olhou o relógio. Saiu rapidamente. Não queria atrasar no horário. Orlando, seu companheiro, já tinha ido trabalhar. Proprietário de uma empresa de contabilidade. Era bem mais rígido e racional que Janaína. Ela trabalhava como terapeuta ocupacional com pessoas da terceira idade. “Tinha um carinho especial pelos velhinhos”. Com seus trinta e quatro anos, ainda não tinha filhos. Envolvia-se demais com o trabalho. Para ela, não tinha nem fim de semana. Se precisasse, estava disponível. Aquelas férias eram muito bem vindas. Precisava descansar. O cansaço maior vinha do stress que ultimamente estava passando em seu relacionamento com Orlando. Estavam juntos há sete anos. No início ele se mostrava gentil e equilibrado. Ela encantou-se! Orlando gostava de conversar. Inteligente e bem formado sabia discutir qualquer assunto. Simpático. Boa aparência. Antigamente, ela não sentia o tempo passar perto dele. Casou construindo castelos na areia. Sentia-se a mais feliz das mulheres. Infelizmente essa alegria durou pouco. Conforme a intimidade cresceu, foi surgindo um homem egoísta e centralizador. Queria controlar tudo. Em seu universo, só existia ele. Janaína assustou-se. Foi tentando contornar as situações com sua ternura. Era uma mulher extremamente sensível e terna. Na maioria das vezes conseguia a reconciliação rapidamente. Muitas vezes isso lhe custava uma grande perda energética. Mesmo assim achava que valia a pena. Queria continuar sustentando o sonho de ter filhos com o seu escolhido. Sua intelectualidade a fascinava. Ultimamente, porém, a situação estava ficando insustentável. Orlando não se contentava só em controlar tudo. Passou a ser verbalmente agressivo e extremamente crítico. Parecia outra pessoa. Rotulava Janaína com apelidos pejorativos, publicamente, ou no meio familiar. Ela reclamava. Brigava. Chorava. Logo depois, com sua meiguice costumeira, perdoava. “Nessas crises, Orlando compensava sua baixa auto estima”. Sentia-se poderoso submetendo Janaína a seus julgamentos ácidos e destrutivos. Tudo tinha que ser como ele achava. Há uns dois meses, no entanto, sofrendo outro ataque de fúria violento, por motivos banais, Janaína resolveu dar um basta nessa situação recorrente. Percebeu que estava se auto destruindo a cada vez que o perdoava. Resolveu mudar de atitude diante de Orlando. Diante da vida! Resgatar a sua auto estima. Não podia continuar admitindo tanta falta de respeito com ela. Estava se auto sabotando a cada vez que se submetia à neurose de Orlando. Acordou! Ele simplesmente, não tinha esse direito. Não admitiria mais que isso se repetisse. Resoluta, olho no olho, mandou o seu recado a ele: respeito! Cumplicidade. Lealdade e confiança. Seria assim ou tudo acabaria ali! Por isso, no primeiro dia de suas férias, naquela manhã de primavera, estava mais leve. Determinada. Quando voltasse da academia e de sua caminhada pela praia, iria acabar de arrumar as malas. Partiria no dia seguinte com uma amiga, rumo a um sonho muito antigo: “Conhecer as Ilhas Gregas e alguns países da Europa”. Vinte dias de sonho. Fecharam um pacote numa excursão marítima. Orlando quando soube ficou surpreso e furioso. Inconformado! Pensava: – Como sua “menina” teve a ousadia? Essa não podia ser Janaína. Controlou-se! Desta vez o jogo se inverteu. Ela soltou o verbo. Destravou a garganta. Ele ouviu tudo que estava preso no coração de Janaína. Ela deixou muito claro que daquele momento em diante não seria mais a sua vítima. Estava dando uma última chance ao casamento deles. Condição: novas bases na relação. Lealdade, confiança e muito respeito. Recasar! Orlando sentiu firmeza. Percebeu que era conversa séria! Amuado. Fez chantagem emocional. “Sua princesa tinha coragem de abandoná-lo”? Correr riscos numa viagem sem ele? Ela, irredutível em sua decisão. Última chance. Quem sabe ainda desse tempo de serem felizes! Porém, naquele momento, estava em lua de mel consigo mesma. Queria novas sensações de vida. Conviver com o seu melhor. Talvez na volta da viagem suas almas se convidassem para uma nova dança. QUEM SABE! Janaína partiu na manhã seguinte. Cheia de alegria de viver. BORBOLETEANDO!
VOCÊ CAUSOU! (SAUDADES).
Caminho pelas lembranças. Olhos fechados. Rede aconchegante. Jazz tocando. Som suave ressoa na sala vazia. Domingo de chuva. Garoa incessante molhando lá fora. Taça de vinho esperando, sem pressa, na mesinha ao lado da rede. Pensamentos livres de censura ou pudor. E são tantos! Brincam com os meus sentidos. Muitos deles tropeçam em meu coração que dispara como um touro louco correndo pela arena. Respiro fundo. Tento controlar o touro com respiração lente e pausada. Isso custa-me uns longos segundos doloridos. Finalmente retomo as rédeas e me permito continuar nessa experiência tão intensa. Ambivalente! Tons coloridos mesclados com preto e branco! Abro os olhos por um instante. Pego a taça e degusto um gole do vinho encorpado que está aguardando na mesinha ao lado. As papilas gustativas me inebriam os sentidos. Delícia! O sabor remonta a momentos de um passado recente. Estico-me na rede. Fecho os olhos novamente. Busco mentalmente dar continuidade às sensações que ainda ardem dentro de mim. Como num filme romântico emerge a cena daquela tarde chuvosa na cozinha do apartamento de Sérgio Luiz. Lindo. Sensual. Sabe seduzir aquele homem! Dono de uma conversa gostosa. Integra palavras com emoção. A gente não se cansa de ouvi-lo. Proprietário do renomado restaurante italiano “La Nina”, do bairro em que eu morava. Foi lá que o conheci. Nesse dia tinha pedido uma massa leve, com molho de manjericão. Chegou fumegante e com um aroma divino. Ele fez questão de trazer o prato à minha mesa. Seu olhar jogou estrelas em cima de mim. Mal olhei para o prato. Só tinha olhos para as estrelas! Jeito maroto e brincalhão. Sérgio Luiz me fisgou. Duas semanas depois já estávamos passeando de mãos dadas. Rindo à toa. Naquela tarde de quinta feira, chuvosa, caminhando perto de seu apartamento, a chuva apertou. Resolvemos subir e nos proteger. Enquanto me secava o Lindo, foi pra cozinha. Preparou o sanduíche mais gostoso que já comi. Tão simples. Tão completo. “Pão integral, queijo branco e alface”. Combinou tão bem! Sexo rolou maravilhoso. Clima emocional perfeito. Tarde encantada. Me assustei. Bateu insegurança! Muito medo do futuro. Não sustentei aquela paixão. Ali foi o fim. Sumi sem dar satisfação. Nunca mais o vi. Dificuldade enorme de entregar o coração. Pensei: Sofrer de novo? Não! Esse comportamento se repetia todas as vezes quando começava uma paixão. Pensei que seria diferente com Sergio Luiz. Novamente essa cena temida! Foi mais forte que o meu desejo de tentar ser feliz. Sumindo, me sentia resguardada. Protegida da dor. É como se eu fortalecesse o meu ego e não perdesse as rédeas. “Há um ciclo emocional recorrente que me impede de ser feliz”. Não dá mais! Não nasci assim! Lembrei que o meu Anjo da guarda, Carol, recente amiga, abriu meus olhos! Disse que estou com comportamento emocional doente. Se não cuidar disso, vou morrer sem amar. Apavorei-me. Não tinha me dado conta disso. Colocava a culpa nos homens que cruzavam o meu caminho. Carol acendeu uma luz transformadora. No vai e vem da rede. Na saudades que bateu. SERGIO LUIZ CAUSOU!
ARTUR E O URSO! (O LADO AVESSO).
Crianças em geral tem muita dificuldade em verbalizar conflitos e angústias. Sofrem caladas! Expressam sentimentos através de sonhos ou por reações emocionais e comportamentais, muitas vezes incompreendidas pelas pessoas que as cercam. Expressam-se, também, através de desenhos e joguinhos. Muitas vezes, apenas profissionais especializados em psicologia infantil conseguem interpretar e avaliar seus significados e símbolos e os relacionar com o histórico emocional. Crianças, dos sete aos doze anos, mais ou menos, se encontram no estágio operacional concreto. Nessa fase desenvolverão habilidades para solucionar problemas concretos. Existe defasagem nesse ciclo do desenvolvimento entre muitas crianças. Nessas crianças o aparato psíquico precisa de mais tempo para compreender noções exatas de tempo e espaço em relação à realidade. Têm nessa fase muita dificuldade para entender e integrar emocionalmente os fatos da vida. Muitas vezes essa dificuldade pode estar também relacionada com a imaturidade emocional decorrente de stress ou experiências emocionais e educacionais destrutivas. Por isso a importância de conhecer e compreender cada fase da criança. Um bom contato emocional e a percepção das necessidades infantis vão ajudar no desenvolvimento de seres humanos mais saudáveis e equilibrados. Artur não teve a sorte de pertencer a uma família bem estruturada psicologicamente. Grandes confusões. Muitas brigas entre seus pais decorrentes de imaturidade. Eram dois apaixonados desmedidos. Ciumentos e românticos. Viviam no mundo da fantasia enquanto a realidade cobrava atitude e enfrentamento. O buraco foi ficando intransponível. Dificuldades financeiras e emocionais foram se acumulando. Clima tóxico dentro de casa, cada vez maior. Artur, oito anos de idade, no meio desse tiroteio. Não recebeu atenção nos momento em que precisava. Não conseguia compreender as brigas e rupturas entre seus pais, que não o poupavam em momento algum. Isso foi gerando na criança insegurança e medo. Suas referências afetivas tiravam-lhe o chão constantemente. Os imaturos genitores não percebiam o mal que estavam causando ao filho e a eles mesmos. Como duas crianças mimadas só percebiam o próprio umbigo. “Brincavam de casamento”! O desgaste na relação ficou insustentável. Separaram-se. Artur cada vez mais inseguro. Nem o pai, nem a mãe percebiam o estado emocional da criança. Davam-lhe “alegria” através de presentes que conseguiam comprar. Muitos problemas crescendo. Insônia e agressividade acometendo o pequeno. Família desintegrada. Ausência afetiva. Grito de socorro! SONHO: Artur sonhou que tinha ido passear na floresta com sua mãe. Andavam entre as árvores livremente, admirando tudo que a natureza oferecia. Fascinado, observava formigas nos caules transportando pedacinhos de folhas e de flores que caiam no chão ou que elas mesmas tinham tirado dos galhos. Num repente, surgiu um enorme urso preto. Sua mãe apavorada correu sem rumo, separando-se de Artur. Ele, por sua vez, num ímpeto, correu desenfreadamente para o lado oposto ao que sua mãe tinha ido. Correu. Correu muito! Sem fôlego. Cansado. Esbaforido. Pernas bambas. Caiu no chão! O monstruoso urso se aproximou. Quando ia dar o golpe fatal, Artur acordou. Tremendo. Chorando. Chamando pelo pai. “Nesse sonho o menino expressa o seu coração”! Vera, psicóloga infantil, esta visitando essa floresta de mãos dadas com o menino. Estão atrás do urso malvado que não deixa Artur dormir. “O príncipe perdeu o seu reino”. Sua mãe? ANDA PERDIDA PELA FLORESTA!
IVAN, O DISFARÇADO! ( PSICOPATA).
Ivan é um rapaz capaz de enganar aos incautos, carentes e fragilizados. Narcisista e sedutor. Nasceu meio na marra. Sua mãe, uma jovem de classe media alta, o rejeitou de todas as formas. Escondida, tomou remédio para abortá-lo. Passou muito mal. Não conseguiu realizar o aborto. Ficou com medo de passar por outro procedimento e morrer. Contrariada e apoiada pelo pai da criança, assumiu a gravidez. Ela também vinha de uma família com valores fúteis e de pouco contato. A gravidez foi indesejada o tempo todo. Acho que por força do destino, Ivan nasceu! Meio franzino e estranhamente calmo. Chorava pouco. Encontrou um ambiente familiar muito prático. Frio. Sem acolhimento emocional. Foi cuidado por babás e pessoas sem vínculos afetivos até a adolescência. Além de um ambiente familiar tóxico e repleto de conflitos, enfrentou também uma mãe totalmente descompensada psicologicamente. Muitas brigas e xingamentos dentro de casa com seus parceiros e eventuais namorados. Ivan vivenciando todo esse inferno emocional! Foi desenvolvendo atitudes esquisitas e cruéis. Certa vez jogou seu gato de estimação num buraco fundo e se divertia em ver o sofrimento do animal. Construía situações inusitadas em sua mente e tentava persuadir a todos que era real. Normalmente expressava total falta de sensibilidade e empatia com o sofrimento de alguém. Não conseguia se colocar na condição do outro. Nunca sentia arrependimento por algo errado que fizera. Não sentia culpa, por menor que fosse. Egocêntrico e superficial em suas reações emocionais. Mentiroso e falso. “Total miséria emocional”! Era como se fosse um estranho para Maria, sua mãe. “Mãe ausente”! Ela trocava de parceiros como quem troca de roupa. Vários casamentos. Vivia viajando pelo mundo. Conheceu vários países. Nunca pensou em levar o filho. O máximo que fazia era trazer presentes bonitos de todos os lugares que visitava. Realmente ela não tinha o dom da maternidade! Nunca pensou em ser mãe novamente. Talvez a imatura Maria não tenha percebido o mal que fizera ao filho. Ivan ficou adulto sem ela perceber. Cheio de problemas psicológicos. As condições emocionais que enfrentou, provavelmente, foram as desencadeadoras de suas atitudes doentes diante da vida. Incrível capacidade de persuasão. Uma pessoa amadurecida e razoavelmente equilibrada não entraria na conversa barata dele. A maioria dos mortais, sim! Ele utilizava sempre a mesma forma sedutora para atrair “potenciais vítimas de seus desejos egoístas”. Isabel, mulher sensível e inteligente, conheceu Ivan numa festa de fim de ano, na empresa em que trabalhava. Era filha do dono. Naquela noite de dezembro havia um clima emocional próprio da época. Muitos risos e alegria pelo ar. Luzes coloridas. Conversas. Espírito de fim de ano! Entre um sorriso e outro, foram apresentados por amigos comuns. Ivan estava incrivelmente sedutor. Tinha se preparado para conquistar a filha do dono da grande empresa de cosméticos! Colocou isso na cabeça. “Ele já sabia da frustração emocional recente que Isabel havia sofrido”. Ela significava uma presa fácil! Por sua vez, ela se forçou ir à festa de congraçamento. Estava muito triste com a separação que tinha sofrido, mas, foi representando o pai que não podia comparecer por estar adoecido. Ivan já sabia disso também. Arquitetou um grande plano de enriquecimento rápido. Não podia perder a ocasião. Já tinha investigado tudo sobre a vida dela. Sabia de toda a sua fortuna. Planejou aproveitar a carência intensa de Isabel pelo rompimento recente de seu casamento, com o marido João. Tentaria ocupar o vazio deixado pela separação. Isabel nem imaginava que havia um lobo mau atrás dela! Estava num momento emocional péssimo para conhecer alguém. Muito menos um mau caráter como Ivan. Realmente, naquela noite o cosmo não conspirou a favor da indefesa Isabel. O lobo soube dar um excelente golpe em sua presa. Foi direto na jugular. Fato consumado. Isabel caiu na armadilha. “Carência captada pelo lobo”. Sussurros e palavras que estava desesperadamente precisando ouvir, mobilizaram alguns sentimentos positivos. Melhorou sua auto imagem, tão em baixa. Incrível a lábia daquele homem! Experiente, falava exatamente o que ela desejava ouvir. A pobre coitada não imaginava que aquele homem não tinha coração! Só palavras vazias de emoção. “Ele foi vítima de sua própria história”. Inconscientemente desenvolveu um bloqueio emocional como defesa. Para não sofrer. Seu coração ficou lacrado, como a caixa preta do avião! Como compensação, buscava ser valorizado e admirado de uma forma doentia. Ter poder e prestígio era o objetivo de sua vida. Alimento de que seu ego necessitava incessantemente. Ivan era formado em medicina estética. Estava conseguindo algum reconhecimento em seu meio. Ambicioso, desmedido. Queria muito mais da vida. Mesmo que de forma imoral. Não media obstáculo pra conseguir seus desejos. Compulsivo em suas atitudes. Sempre em frente. Sem ética ou consideração pelo próximo. Nos seus vinte e nove anos de vida aprendeu muito bem como manipular pessoas na realização de suas fixações. Não deu a mínima importância aos trinta anos de diferença de idade, entre ele e Isabel. Naquela festa ela estava visivelmente abatida e mais envelhecida. Também, depois de tudo que passara, até que estava suportando bem! Não é fácil ser trocada pelo marido de longa data, por uma jovem e desqualificada mulher! A humilhação e mágoa ainda ardiam no peito de Isabel, mas, naquela noite, ela era a rainha da festa! Tinha que estar forte e presente. Todos procuravam sua companhia, como acontece nessas situações. A dona da famosa empresa de cosméticos representava poder e admiração. Muito dinheiro! Ivan espertamente soube tocar delicada e falsamente o coração de Isabel. Usou de toda a artimanha de que era capaz. Isabel se encantou! Sedução fatal. Cegueira total. Aceitou tudo. Entregou tudo. “O LOBO ENGOLIU ISABEL”!
CHOQUE DE REALIDADE! (IMATURIDADE).
Marcela sonhadora. Pobre menina Marcela! Total falta de contato com a realidade. Acostumada a ser tratada como princesa desde menina, construiu a vida como num conto de fadas. Sua educação baseada em mimos e todos os desejos realizados. Frustração? Nem pensar. Seus pais a tratavam como uma boneca de porcelana. Quase que intocável. Um exagero doentio. Quando o assunto era presentes, davam-lhe tudo que ela pedia. Isso também supria a ausência deles. Viviam em congressos. Nacionais e internacionais. Compensavam suas ausências nesse tipo de atitude. Filha única. Cara da mãe! Bonita, charmosa e muito inteligente. Seus pais escolheram não ter mais filhos pra facilitar a vida profissional. Médicos especializados em cirurgia cardíaca. Cresceu. Caprichosa como ela só. Muito voluntariosa. Essas características ficaram tão acentuadas em suas atitudes que de certa forma escureceu a sua beleza. Era conhecida como a “antipática Marcela”! Pudera, mimada e egoísta só sabia buscar tudo que a envaidecia e satisfizesse seu ego plenamente. Não admitia um “NÃO” a qualquer de seus caprichos. Quem ousasse, teria a chance de receber sua grande agressividade como resposta. Na adolescência tornou-se arrogante. Sedutora. Outra arma que descobriu para atingir seus objetivos. Por meio da sedução exercia o seu poder. Aos dezoito anos, conheceu Augusto, trinta e oito anos. Bem apessoado, inteligente e com ótima condição financeira. Casou-se oito meses depois. Festa de princesa! Grandiosa. Noiva deslumbrante. Tudo perfeito. Desde a decoração aos detalhes mais sutis. Banda ao vivo, tocando músicas escolhidas pessoalmente por Marcela. Comida de primeira. Muitos convidados. Muitas das pessoas sem o menor vínculo com os noivos. Marcela se importava mais com quantidade do que com qualidade. Gostava de aparecer e ser admirada por todos. Queria marcar o evento como inesquecível. Numa coisa foi verdadeira: estava apaixonada por Augusto. Ela o admirava como homem e profissional bem sucedido. Ele, apaixonadíssimo. Lua de mel? Vários países da Europa. Quarenta e cinco dias caminhando nas nuvens! Algumas brigas bobas mas nada que afetasse a felicidade deles. “Pequenas diferenças de humor e forma de olhar a vida”. Aspectos que Augusto e Marcela não tinham considerado até então. Como diz o poeta : – “A paixão é cega”! Retornaram cansados. Felizes. Vida real esperando. Marcela, menina imatura, acostumada a não lidar com frustrações, sofreu um impacto ao enfrentar a rotina do dia-dia. Mulher casada querendo conciliar caprichos e sonhos adolescentes, ainda por cima esposa de um homem mais maduro. Não demorou muito para começarem discussões. Desentendimentos diários. Ressentimentos colocados em baixo do tapete. Sorte que Augusto tinha muita paciência. Tentava relevar os diferenças entre eles considerando a pouca idade de Marcela. Queria salvar o casamento. “Paixão desenfreada”! O casamento conseguiu sobreviver razoavelmente por quatro anos. Marcela, cedendo a impulsos imaturos, foi buscar prazer fora de casa. Conheceu um sujeito desqualificado, social e moralmente. Tinha uma qualidade: ótimo papo! Sabia dizer as palavras certas no momento certo. Raposa velha! Não tinha profissão definida. Fazia o que dava. De galho em galho, tirava seus vinténs. Também não precisava de muito para o jeito simples e sem expectativas em que vivia. Marcela, acostumada à boa vida, cartão de crédito sem limites, desejos satisfeitos, nem pensou nesses detalhes. Fundamentais! Idealizava esse novo paquera com sua cabeça de menina. Desconectando realidade de sonhos e desejos. Como se fosse possível! Crise feia. Augusto saiu de casa. Mudou de cidade. Marcela, sem pensar, assumiu a nova paixão. O marido sofreu muito, por meses. Sangrou! Tentou reatar várias vezes. Sem sucesso. Cada vez era mais pisoteado por ela. Estava disposto a perdoá-la. Pensava que podia ser uma crise passageira. Ainda assim, Marcela persistiu em ficar com o “novo amor”. Nunca se permitiu pensar que mal o conhecia. “Conhecer alguém leva uma vida”! Passou o tempo. Augusto, cansando e se distanciando da ideia de reatar. Decidiu parar de sofrer e de se sentir humilhado. Novos caminhos emocionais. Conheceu alguém. Se encantou! Refez a vida. Não quis mais saber de Marcela. Ela por sua vez desencantou-se do aventureiro que a seduziu com belas palavras. Foi percebendo suas mentiras, falta de caráter e de identidade saudável. Rompeu o relacionamento. Ficou só. Houve um acordar em seus sentidos. Arrependida até a alma. Culpa dilacerava o coração. Saudades do amor perdido. Tarde demais. Muita carga no coração. Não dava mais para continuar assim. Deprimiu. Marcela buscou psicoterapia! No início foi complicado encarar toda a sua história de vida. Reconhecer as carências. Entrar em contato com o coração. Enfrentar suas defesas. Entender suas funções. Despir-se das arrogâncias e caprichos estruturados em seu caráter. “ENCARAR FRUSTRAÇÕES, AMADURECE”! Sua leviandade foi se transformando em gestos adultos e conscientes à medida em que sentia a necessidade de mudança. Foi surgindo uma nova mulher. Reconhecendo sua enorme dificuldade de lidar com frustrações. Avaliando melhor os “NÃOS” da vida. Numa retrospectiva emocional, entrou em contato com a sua criança interna. Reviveu birras. Raivas e solidão. Carências! Um enorme buraco escuro. Como se sentia com as ausências constantes de seus pais na infância. Carente e insegura, sem um contato quente. Eles nunca preencheram esse vazio. Foi percebendo que a atitude deles foi compensar com presentes e mimos todas as angústias e necessidades emocionais da filha. Até as babás eram instruídas a agir da mesma forma. “NÃO PODIAM FRUSTRAR A MENINA”. A crise em seu casamento com Augusto representou o ápice. Queria dele uma atitude semelhante à dos pais. Teve que encarar essa realidade. Frustrou-se. Acordou. A depressão foi o presente genuíno que pode receber. Através dela houve a ruptura de um padrão mental. Não teve jeito. Confronto. Crescer dói. Encarar o seu comportamento desequilibrado diante da vida. Avaliar perdas e danos! Dores irreparáveis, talvez! Hoje, cada descoberta serve como base na reconstrução de sua auto imagem. MARCELA ESTÁ VIRANDO MULHER!